A inspiração
para criar o que
hoje é o maior
site de buscas
da web surgiu
quando ainda era
graduando na
Universidade de
Michigan, em um
seminário de
liderança, em
que ouviu dizer
que era preciso
ter "um desprezo
saudável pelo
impossível".
Depois, já na
Universidade de
Stanford, o hoje
CEO transformou
a ideia de uma
ferramenta para
indexar a web no
Google.
Em
entrevista à
Wired, Page
fala sobre o
mercado de
tecnologia, em
que pouco há de
realmente
inovador, e
inclui a
Motorola -
aquisição
recente do
gigante de
buscas - como um
dos braços de
novidades de
Mountain View. O
CEO explica como
a divisão de
"maluquices"
Google X se
encaixa na visão
da companhia de
desenvolvimento
do setor,
critica o
Facebook e a
Apple, e comenta
sobre o sucesso
do Android.
Rumos do
setor
"Acho que algo
de muito errado
aconteceu com a
forma como
tocamos empresas
de tecnologia",
começa Page,
citando a
cobertura da
mídia
especializada
como prova de
que,
aparentemente, o
setor funciona a
partir da
superação da
concorrência.
"Qual estímulo
você tem de ir
trabalhar se o
melhor que você
pode fazer é
perseguir outra
companhia que
faz praticamente
a mesma coisa?",
questiona.
Para o
executivo, é na
falta de
inovação que
está a
explicação para
a derrocada de
determinados
serviços na web.
Para manter os
funcionários
motivados, é
preciso
lembrá-los que
podem criar algo
realmente novo.
"Uma grande
parte do meu
trabalho é
manter as
pessoas focadas
em coisas que
não são apenas
melhorias",
afirma, citando
o Gmail como
exemplo. "Éramos
uma companhia de
buscas, foi uma
reviravolta ter
um produto de
e-mails, ainda
mais um que
oferecia 100
vezes mais
armazenamento do
que qualquer
outro. Isso não
é algo que
poderíamos fazer
acontecer se
estivéssemos só
pensando em
melhorias",
explica.
Mas, é claro,
é necessário
aperfeiçoar os
serviços sempre
mais. "Mas a
cada n
anos você
deveria
trabalhar em
algo
completamente
novo e que você
acha que é
realmente
maravilhoso",
diz Page.
Divisão de
"maluquices"
É por causa
dessa visão que
ele criou a
divisão Google
X, voltada a
produtos
"mirabolantes",
como o carro que
dirige sozinho e
o óculos de
realidade
aumentada. "Você
talvez diga que
a Apple só faz
uma quantidade
muito, muito
pequena de
coisas, e que
isso está
funcionando
muito bem para
eles. Mas acho
isso
insatisfatório.
Acho que existem
muitas
possibilidades
no mundo para
usar a
tecnologia de
modo a fazer a
vida das pessoas
melhores",
justifica,
estimando que
todas as
empresas do
setor dão conta
de apenas 1% das
oportunidades.
"Isso significa
que há 99% de
território
virgem", indica.
Sobre os
investidores,
que se preocupam
com os altos
valores
investidos em
"maluquices",
Page é direto:
"se você não
está fazendo
algo maluco,
vocês está
fazendo as
coisas erradas".
Por outro lado,
ele lembra que é
preciso pensar
em como ganhar
dinheiro com as
invenções,
garantindo a
sustentabilidade
dos negócios.
"Quando eu era
criança queria
ser inventor,
mas então
percebi que há
muitas histórias
tristes sobre
inventores como
Nikola Tesla
(engenheiro que
criou o sistema
de abastecimento
elétrico por
corrente
alternada),
pessoas
incríveis que
não tiveram
muito impacto
porque não
transformaram
seus inventos em
negócios",
aponta.
O CEO do
Google acredita
que a falta de
mais pessoas
dispostas a
desenvolver
projetos
"mirabolantes"
vem da falta de
formação e de
estímulo para
isso. "Não é
fácil criar
esses projetos",
diz, citando
conhecimentos em
programação,
administração e
empreendedorismo
como necessários
aos que desejam
tentar. Além
disso, ele fala
sobre ideias que
amadurecem. "Eu
queria fazer
(carros
autônomos) desde
que estava em
Stanford. Isso
foi há 14 anos.
A única coisa
que mudou é que
agora temos a
coragem para
tirar isso do
papel",
exemplifica.
Android,
Apple e Facebook
Page também
comenta sobre o
sucesso do
Android, o
sistema
operacional
mobile do Google,
que disputa
mercado com o
iOS da Apple.
Questionado
sobre se o SO se
manterá líder do
segmento, ele
responde apenas
que o sistema
tem sido bem
sucedido e que
isso excita a
companhia. E
quanto à ameaça
que Steve Jobs,
ex-CEO da Apple,
fez de que
lutaria até o
fim para
derrubar o
Android, ideia
que ele dizia
ser roubada da
Maçã, o
executivo-chefe
do Google apenas
ironiza: "e como
estão indo essas
coisas?".
Para o
cocriador da
gigante de
tecnologia, a
compra da
empresa que
criou as bases
do Android, em
2005, não
significou um
ato tão louvável
de visão
empresarial.
"Quando
compramos o
Android era
muito óbvio que
os sistemas
operacionais
mobile da época
eram terríveis.
Não dava para
criar softwares
para eles.
Compare com o
temos agora. Só
o que precisamos
(na época) foi
ter a convicção
para fazer um
investimento a
longo prazo e
acreditar que as
coisas podiam
ser muito
melhores",
avalia.
Sobre
litígios em
geral, também é
breve, alegando
que nenhuma
empresa estagnou
por causa de um
litígio ou de
concorrentes.
"As companhias
falham porque
fazem coisas
erradas, ou
(porque) não são
ambiciosas",
resume.
Voltando ao
assunto das
concorrências,
Page é enfático
ao discordar que
o Google+ esteja
correndo atrás
do Facebook.
"Sim, eles são
uma grande
companhia no
setor, mas eles
também estão
fazendo um
péssimo trabalho
com o produto
deles. Para que
a gente tenha
sucesso, é
preciso que
alguma outra
companhia falhe?
Não. Na verdade,
estamos fazendo
algo diferente",
afirma,
completando que
é "é indignante
dizer que só há
espaço para uma
companhia no
setor".
Reforçando o
argumento,
lembra que
quando o Google
começou nas
buscas,
previu-se seu
fracasso, porque
já havia cinco
outras
ferramentas
semelhantes no
ar. "Dissemos,
'somos uma
empresa de
busca, mas
estamos fazendo
algo
diferente'",
relata.
Segundo Page,
a companhia de
Mountain View
tem feito
"muitas coisas
legais, muitas
das quais foram
até copiadas
pela
concorrência", o
que seria sinal
de aprovação. E
falando em
concorrência e
mercados
compartilhados,
o CEO do Google
comenta a
decisão da Apple
de lançar uma
ferramenta
própria de mapas
como nativa do
iOS 6, sistema
operacional do
iPhone 5.
"Trabalhamos há
muito tempo com
o Mapas, e é
legal ver as
pessoas se darem
conta de quanto
esforço foi
investido nisso,
estão
valorizando mais
agora", diz. O
assunto também
levanta a
oposição entre
sistemas abertos
(como o Google
vê o Android), e
os fechados,
como o da Apple.
Para o
executivo, a
diversidade de
sistemas, com
cada empresa
"tentando cercar
tudo" o que é
proprietário,
diminui o ritmo
da inovação.
Motorola e
hardware
O CEO do Google
também rebate a
ideia de que a
companhia de
buscas comprou a
Motorola
Mobility por US$
12,5 bilhões em
2011 para ter
acesso ao
portfólio de
patentes.
"Estamos tocando
(a Motorola) de
forma
independente. Há
muito espaço
para inovação em
hardware",
aponta, usando
como exemplo o
vidro que
recobre as telas
dos smartphones
atuais, com
altos riscos de
quebra em caso
de queda. "Em
cinco ou 10 anos
não via mais ser
assim, vai haver
muita mudança",
garante.
Rotina de
inovação
O executivo
afirma que passa
a maior parte do
seu tempo
"garantindo que
o usuário tenha
uma experiência
consistente nos
produtos
principais" da
empresa, o que
inclui interface
e usabilidade,
por exemplo.
"Não é uma boa
experiência se
existem 50
formas
diferentes de
compartilhar uma
coisa",
exemplifica. E
como é
implementar
mudanças sendo
uma companhia
tão grande? O
executivo diz
que é mais
difícil, mas que
no lado positivo
há um bilhão de
usuários dos
serviços de
Mountain View.
Em relação
aos funcionários
da empresa, o
trabalho é
mantê-los
estimulados para
criar grandes
inovações. E
como fazer isso
em uma empresa
tão grande? Para
Page, em termos
de número de
funcionários o
Google é médio.
Além disso, se a
empresa chegar à
casa dos milhões
de
colaboradores,
haverá um jeito.
"Tudo é
escalonável",
resume o
executivo,
afirmando que
sim, gostaria de
ser maior.
"Poderíamos
contratar
pessoas e ainda
assim ser
realmente
inovadores. Isso
seria ótimo para
nós. Somos uma
das maiores
companhias do
mundo, e eu
gostaria de nos
ver fazendo mais
coisas - não só
o que alguém
mais já fez, mas
algo novo",
conclui Larry
Page.