Os
horrores de um ataque químico e biológico
Nenhuma arma de destruição
em massa foi encontrada até agora. Porém, na terça-feira, dia 25, o
secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, disse ter recebido
informações de que Saddam teria autorizado o uso de armas químicas na
defesa de Bagdá.
Não seria a primeira vez que Saddam empregaria essas
armas. Como das outras vezes, alertam especialistas, as maiores vítimas
seriam civis indefesos. Mais do que ninguém, os curdos iraquianos
conhecem o horror do arsenal químico de Saddam. Foram vítimas dele em
1988 e depois em 94. Em 88, cinco mil curdos morreram no ataque a
Halabja. Bagdá empregou armas químicas em mais de uma ocasião -
principalmente gás mostarda e tabun, um agente que afeta o sistema
nervoso - contra os iranianos, na Guerra Irã-Iraque (1980-88).
O horror de um ataque químico permanece por anos, não só na memória
dos sobreviventes mas em forma de altas incidências de casos de câncer,
malformações infantis e natimortos - seqüelas da intoxicação.
O gás mostarda (2-cloroetil), que seria a principal
arma química de Saddam, pode ser dispersado por armamentos comuns, como
foguetes e obuses. Trata-se de um líquido oleoso que evapora lentamente
após a dispersão e pode contaminar um lugar por dias. Gruda-se a seres
humanos, animais, plantas, habitações, enfim a qualquer coisa que
estiver em seu caminho. E ao aderir, queima. Queima terrivelmente a pele
humana, forma bolhas e lesões. Os sintomas podem levar algumas horas
para aparecer. Primeiro, surgem as queimaduras na pele. Depois, o gás
destrói a retina e cega. Ao chegar aos pulmões, queima-lhes a mucosa.
Sem assistência rápida, a vítima morre após horas de dor excruciante
e falta de ar.
O segundo agente químico que se supõe existir em grande quantidade no
Iraque é o tabun (NN-dimetilfosforamidocianidato), um
gás que ataca o sistema nervoso e foi desenvolvido pela Alemanha
nazista na Segunda Guerra. Como o gás mostarda, este pode ser
dispersado por armas convencionais. Porém, o tabun é um veneno
extremamente poderoso, que mata depressa. A inalação causa sintomas
quase imediatos: as pupilas dos olhos se contraem e o peito dói.
Depois, vêm suor e vômitos incontroláveis, convulsões violentas,
paralisia e morte.
Todavia, embora as armas químicas sejam consideradas de uso mais provável,
são os agentes biológicos o motivo de maior temor. O Iraque chegou a
desenvolver consideráveis estoques de antraz, toxina botulínica,
toxina da gangrena gasosa e teria ainda - e essa é a mais terrível
possibilidade - varíola.
Armas biológicas podem
ser propagadas com armamentos convencionais. Mas o que as torna
assustadoras é a falta de antídotos e, principalmente, o ataque invisível,
só percebido quando já é tarde demais. O antraz não
passa de uma pessoa para outra, mas é fácil de dispersar, seus esporos
extremamente resistentes podem ser inalados aos milhões sem que se
perceba. Quando inalados, se alojam nos pulmões, multiplicam-se e
produzem toxinas letais que se espalham pelo organismo. Causa lesões na
pele e, nos casos graves, falência pulmonar. Mata em até 90% dos casos
se a pessoa exposta não for tratada antes do aparecimento dos primeiros
sintomas. As tropas aliadas estão protegidas por vacinas, mas seus
trajes especiais antibiotaque são quentes, pesados, quase impossíveis
de suportar no deserto. Se afetarem civis, estes não terão qualquer
chance de defesa.
Pior do que o antraz é
a varíola. É unânime entre especialistas a certeza
de que se Saddam ousasse usar o vírus varíola como bioarma, daria um
tiro no próprio pé. O vírus se alastra depressa pelo contato pessoal
e poderia afetar civis em Bagdá e mesmo os soldados iraquianos.
Segundo o virologista inglês radicado no Brasil John Woodall, que em
1991 participou de uma força tarefa montada pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) para fazer frente a possíveis ataques iraquianos com
armas de destruição em massa na Guerra do Golfo, a varíola poderia
mesmo se espalhar por outros países do Oriente Médio, ressuscitando
uma doença erradicada mundialmente desde 1980. O vírus, porém,
permanece estocado em laboratórios de segurança máxima nos EUA e na Rússia.
Acredita-se que outros países, além do Iraque, tenham estoques
ilegais.
A varíola desfigura e
causa imenso impacto psicológico nas vítimas e nas pessoas a sua
volta. Sem tratamento, a morte vem rapidamente. A doença é
caracterizada por bolhasque se espalham por todo o corpo e deixam
cicatrizes profundas. Mais uma vez, as tropas aliadas estariam
protegidas pela vacina e suas roupas especiais. Entre os civis, porém,
a varíola instalará o caos.
Ali Hassan al-Majid,
primo de Saddam Hussein, que está comandando a resistência iraquiana
ao sul de Bagdá, ganhou o apelido de 'Ali Químico' ao ser acusado de
matar mais de cem mil curdos no norte do Iraque, em 1987 e 1988, usando
armas químicas.
Outros agentes químicos
Fosgênio
Agente sufocante que causa o acúmulo de fluidos nos pulmões. A
inalação pode significar danos irreversíveis aos pulmões e danos
severos no nariz e na garganta. Pode queimar a pele e os olhos
Gás cloro
Também sufoca e foi a primeira arma química usada com eficácia em
larga escala em uma guerra, a Primeira Guerra Mundial. A substância é
o mesmo cloro que mata bactérias em sistemas públicos de fornecimento
de água. Como arma, é usado em altas concentrações. A inalação
causa danos e sangramento ns pulmões. Exposições prolongadas ou
intensas podem matar
Cianeto
Interfere no aproveitamento do oxigênio pelo organismo, impedindo o
sangue de transportá-lo. O cianeto age rapidamente, mas apenas
quantidades grandes causam morte
Outros agentes biológicos
Ricina
Está entre as substâncias naturais mais tóxicas que se conhece.
É relativamente fácil de produzir, porque não passa de uma proteína
retirada das sementes de mamona, as mesmas usadas para produção de óleo.
Causa danos a vários órgãos e funções - pulmões, fígado, rins e
sistema imunológico -, e esta combinação pode levar à morte
Toxina botulínica
O botulismo é uma doença de origem bacteriana que paralisa os músculos,
um resultado da ação da toxina produzida pelo micróbio. A paralisia
dos músculos envolvidos na respiração pode levar à morte
|