O segredo é não desligar nunca
Leia, estude, jogue, monte
quebra-cabeças.
O importante é que seu cérebro faça ginástica
Em 1 quilo e 200 gramas de cérebro,
o peso médio da massa encefálica de um adulto, 100 bilhões de células
nervosas estão em atividade. Cada uma se liga a milhares de outras em mais de
100 trilhões de conexões. A trama é precisa e delicada. Graças a ela, o
homem raciocina, lembra e aprende. Ouve, fala e enxerga. Emociona-se, deseja e
ama. Sempre se acreditou que, com o passar do tempo, essa rede de neurônios
estaria fadada a esgarçar como um tecido velho. Dos 30 anos em diante, o cérebro
perde algo em torno de 10 000 neurônios por dia. Isso mesmo – 300 000 por mês,
3,6 milhões por ano. Mas os estudos mais recentes, feitos a partir de exames de
ultimíssima geração, capazes de flagrar o cérebro em pleno funcionamento,
trazem notícias alentadoras. Conforme a idade avança, ocorrem, sim, perdas de
células cerebrais. Elas implicam, contudo, danos menos severos do que se
imaginava. A morte de neurônios não explica os apagões de memória, a queda
na acuidade visual e auditiva, a lentidão na tomada de decisões ou o
comprometimento das funções motoras. Hoje, os neurocientistas têm por certo
que essas perdas funcionais estão diretamente relacionadas às ligações entre
os neurônios. À velocidade e eficiência com que as informações trafegam de
uma célula nervosa para outra.
Os neurônios comunicam-se
entre si por intermédio de ramificações chamadas dendritos. Essas ramificações
se estabelecem no dia-a-dia. Se as vivências são ricas e intensas, os
dendritos tendem a ser mais longos e abundantes. Conseqüentemente, mais fortes
serão as conexões entre as células nervosas. Com o avançar da idade, alguns
dendritos se encurtam, outros morrem. É inevitável. Se essa fatalidade
reverterá em diminuição ou perda da capacidade cognitiva, depende da
quantidade e qualidade das conexões estabelecidas durante a infância e a
juventude. Recentemente, jogou-se uma pá de cal sobre um dos mais antigos
dogmas da neurociência. O de que os neurônios seriam as únicas células
humanas incapazes de se multiplicar. As últimas pesquisas mostram que o cérebro
produz neurônios durante toda a vida – até na velhice. Contudo, a eficiência
com que eles se conectarão uns aos outros depende também do tanto que o cérebro
foi estimulado em anos anteriores.
A base estabelecida até a
juventude é quase tudo, mas não é tudo. Boas conexões neuronais podem
ser feitas em qualquer época da vida. Evidentemente, depois da maturidade o
esforço é maior, como sabe qualquer quarentão que esteja aprendendo uma nova
língua. O importante é manter a atividade intelectual. Inclusive para
preservar o que foi conquistado lá atrás. O cérebro estimulado com leitura,
resolução de problemas matemáticos ou em tarefas prosaicas, como fazer
palavras cruzadas, pode evitar que uma pessoa sofra de problemas típicos do
envelhecimento. Uma pesquisa realizada no Hospital Francês de Buenos Aires, no
fim da década de 80, mostra a importância da atividade intelectual para a saúde
do cérebro. Ao analisarem dois grupos de pacientes com mais de 65 anos, os médicos
verificaram que a incidência do mal de Alzheimer, doença degenerativa do
sistema nervoso, era cinco vezes maior entre aqueles que não tinham diploma
universitário.
Há no mercado uma dezena de
livros que prometem ensinar como aprender melhor, manter a memória afiada ou
aprimorar o raciocínio. Um dos mais recentes é o americano Keep Your Brain
Young (Mantenha Seu Cérebro Jovem). Nele, os neurologistas Guy McKhann e
Marilyn Albert fornecem um cardápio de exercícios mentais, mas enfatizam que a
atividade física também é importante. Especialmente os esportes aeróbicos,
que mantêm o cérebro bem oxigenado – e, portanto, sujeito a menos perdas. Na
ânsia de variar o menu, muitos desses livros exageram. Em Keep Your Brain
Young, por exemplo, os autores afirmam que as mulheres são mais longevas do
que os homens porque... batem perna em shopping center. Além do esforço físico
de andar e carregar sacolas, fazer compras exigiria um árduo trabalho mental na
hora de comparar preços e efetuar contas. Mas, convenhamos, há uma
contrapartida na hora de pagar o cartão de crédito: o stress é um veneno para
o cérebro. Aqueles que vivem em permanente estado de nervosismo devem tentar
mudar de atitude. Nessa condição, o organismo aumenta a produção do hormônio
cortisol, um verdadeiro exterminador de neurônios.
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