Municípios do Fome Zero terão Internet gratuita


Uma sala modesta, com 20 terminais de computador conectados em rede a um servidor central. As máquinas garantem o uso de programas capazes de criar textos, bancos de dados ou tabelas. Pode-se até diagramar jornais e trabalhar com fotos e ilustrações - nenhum deles paga licença, são softwares livres. Todas as máquinas estão ligadas à Internet, e o acesso a tudo isso é gratuito. Monitores auxiliam os interessados, e qualquer um pode fazer cursos e aprender informática. A administração fica a cargo da comunidade local, que também usa o espaço para os projetos aprovados coletivamente.

A Prefeitura de São Paulo instalou 63 centros como esse, espalhados pelos bairros mais pobres da periferia da cidade - o número deve superar 80 até o fim do ano. Pelo menos 40 centros são resultado de convênios com entidades da sociedade civil - a prefeitura entra com o equipamento e uma verba mensal de manutenção. O homem que coordenou esse trabalho dá expediente hoje no anexo do Palácio do Planalto e, até 2006, quer criar pelo menos 1000 desses, prioritariamente nas pequenas cidades brasileiras atendidas pelo Fome Zero.

O estudante Darwin Claudino Ranzone, 16, é um dos 150 mil paulistanos que freqüentam os telecentros hoje. Ele conheceu a unidade Raposo Tavares há pouco menos de dois anos. Os ganhos da mãe, vendedora, com quem mora no Parque Ipê, bairro próximo dali, não permitiam ter um computador em casa. Hoje, ele cursa o segundo ano do ensino médio e pretende seguir carreira em informática. Passa dias inteiros no telecentro, como voluntário, auxiliando os usuários no manejo do sistema Linux, que equipa desde o ano passado os computadores ali. Ele também ministra cursos de informática básica. "Tem gente que chega aqui sem nem saber escrever direito, muitos nunca viram um computador. Tem até criança de 10 anos. A gente começa a ensinar com um programa de desenho, só para a pessoa aprender a mexer no mouse", conta.

"O software livre é um pouco mais complicado, porque você mexe no próprio código para consertá-lo quando dá algum problema, mas, quem trabalha com ele, sabe usar qualquer outro. Quem aprende no software comum, pelo contrário, tem muita dificuldade com os demais programas", explica Darwin. O menino conta que a comunidade cuida com zelo do equipamento. "Aqui nunca quebrou nada. Só mouse e teclado, de tanto usar, porque o negócio é o dia inteiro, sai um usuário entra outro", afirma.

Até a administração anterior, as responsabilidades do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação resumiam-se a garantir a segurança no tráfego de informações oficiais por via eletrônica. É a chamada certificação digital, que garante o sigilo dos dados, por exemplo, da declaração de renda que se faz à Receita Federal pela Internet. O instituto continua coordenando o desenvolvimento dessas ferramentas, que envolvem alta tecnologia. A meta é deixar de importar os programas - uma questão que envolve inclusive a segurança nacional.

Na atual gestão, o ITI passou a coordenar também iniciativas em torno do software livre e da inclusão digital. Em parceria com o Ministério Extraordinário da Segurança Alimentar e Combate à Fome, o órgão está finalizando um projeto para levar telecentros aos municípios atendidos pelos programas do ministério. "Na era da informação, a possibilidade de comunicação em rede é garantia da liberdade de expressão do cidadão. Se o Estado não agir, apenas a elite continuará com esse direito assegurado", argumenta Sérgio Amadeu. Ele coordenou a instalação dos telecentros em São Paulo e hoje preside o ITI.

Para atender as cidades do semi-árido nordestino e da Amazônia, o plano é contar com o auxílio de um outro projeto federal, iniciado na gestão anterior, mas com algumas modificações. O Gesac, do Ministério das Comunicações, pretendia levar Internet rápida via satélite para os pontos mais distantes do território nacional.

Originalmente, previa computadores isolados em locais públicos e acesso gratuito apenas a sites do governo. Agora, o satélite vai se comunicar com o servidor dos telecentros, onde dezenas de pessoas poderão trabalhar ou estudar ao mesmo tempo. Uma parte das conexões deve ser feita com escolas públicas que já possuem computadores, mas, nas pequenas cidades do interior, acessam à Internet por via telefônica, método caro e pouco eficiente.

Outros dois projetos do governo federal para a difusão de telecentros envolvem iniciativas da Eletronorte e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A companhia energética conclui ainda este ano a instalação da Rede Floresta de Inclusão Digital, um conjunto de pelo menos 20 telecentros espalhados pela região amazônica.

O ministério vai utilizar o modelo paulistano para modificar e ampliar sua rede de telecentros voltados para pequenos empresários. A necessidade de informatização das microempresas esbarra, freqüentemente, no custo da instalação de programas e manutenção técnica. A conversão dessa rede para o software livre visa superar esse entrave.

Agência Brasil

 

 

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