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O sabor do pecado
Com dois mil anos de
história, o chocolate foi o viagra asteca
Osmar Freitas Jr. – Nova
York
Antes de encarar seu harém de
150 mulheres, Montezuma, o imperador asteca do século XVI, bebia uma mistura de
pó de chili, mel, água, farinha de milho com cacau torrado e moído. Os
cientistas dizem que não há comprovação empírica entre o priapismo e a
semente do cacaueiro. Comprovado mesmo é que o chocolate contém feniletilamina,
que, segundo Helen Fisher, antropóloga do Museu de História Natural, de Nova
York, é a substância produzida pelo cérebro quando as pessoas se apaixonam.
Em seu livro Anatomia do amor, ela compara a ação dessa matéria líquida
a uma droga. Sua teoria não ganhou a chancela dos curadores da exposição Chocolate,
que o museu nova-iorquino exibe até o dia 7 de setembro. Ali se conta a história
da planta que há dois mil anos provoca a gula, a luxúria, a cobiça, a inveja
e outros pecados humanos.
O cacaueiro original estava
plantado na Amazônia, mas foram os maias, da América Central, que o
domesticaram. Daí para o processo de torrar os grãos e misturar o pó em fórmulas
líquidas foi um passo. A dádiva era reservada aos nobres e guerreiros. Só a
guarda pessoal de Montezuma consumia 200 tonéis da bebida ao ano e o imperador
mantinha estoques de 960 milhões de grãos do fruto. Isso porque cacau era
dinheiro para os astecas. Um coelho custava dez grãos; um escravo valia 100; e
uma prostituta, dependendo do programa, saia por sete ou dez.
Os espanhóis não gostaram do
chocolate líquido a princípio. Dizem que foi o conquistador Hernán Cortés
quem apresentou o cacau à Europa. Existem indicações de que um frei
dominicano levou uma comissão de nobres astecas para visitar a Espanha em 1544
e introduziu o fruto da Theobroma cacao nos hábitos do continente. O
chocolate viajou rápido e virou coqueluche. O mercado para o produto fez com
que todas as terras perto do Equador fossem usadas neste plantil. Foi assim que
o Brasil entrou na roda dos produtores. Os mesmos portugueses levaram o cacau
para a Guiné em 1824, abrindo o cultivo naquele continente. Hoje, a África
responde por dois terços da produção mundial de cacau. E o México, por 1,5%.
Tudo isso, e mais 200 objetos, entre peças cerimoniais maias e astecas, latas e
embrulhos de marcas famosas, está no museu nova-iorquino. Embora bem elaborada,
a mostra deixa os 1.500 visitantes diários sem uma resposta definitiva sobre a
influência do chocolate na libido. Sabem apenas que as mulheres dificilmente
resistem a uma caixa de bombons.
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