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Máscaras virtuais garantem
privacidade na Internet
Reinaldo José Lopes
Free-lance para UOL Inovação
Pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação da
UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) podem ter achado a solução
ideal para quem quer ter privacidade na Internet e, ao mesmo tempo,
usufruir das vantagens que um tratamento virtual personalizado pode
oferecer. Eles criaram um sistema de máscaras eletrônicas que oculta
a verdadeira identidade de seu usuário, mas permite que ele seja
tratado de forma diferenciada pelo site que está visitando.
O sistema, que deve estar disponível para download como um programa
gratuito no site da universidade mineira até o fim deste ano, foi
criado pelos pesquisadores Virgílio Almeida, Wagner Meira Júnior e
Lucila Ishitani. "Aparentemente, o anonimato e o tratamento
personalizado são conflitantes", diz Almeida, professor titular
da UFMG. "Você precisa decidir até onde liberar informações
personalizadas pode ser útil".
A preocupação com o tema vai muito além do mundo virtual da Web:
afinal, ressalta Almeida, as transações eletrônicas que todo mundo
faz hoje na Internet ou com um simples cartão de crédito deixam
rastros que podem ser seguidos por governos, empresas ou até
criminosos. É com base nesse tipo de informação, por exemplo, que
os Estados Unidos pretendem criar seu banco de dados para classificar
passageiros de avião nas categorias verde, amarelo e vermelho -uma
escala de probabilidade de que aquela pessoa possa participar de ações
terroristas ou criminosas.
Numa escala um pouco menos paranóica, transações comerciais também
dão a livrarias ou a outras lojas virtuais muitos dados sobre os
gostos e interesses de seus clientes, que podem acabar se tornando um
incômodo ou um jeito de facilitar a vida -dependendo de como forem
usados ou liberados. "Você não gostaria de entrar numa grande
livraria, uma megastore, e perceber que o funcionário ficou olhando
os títulos que você estava procurando. Por outro lado, numa livraria
pequena, onde o dono conhece você, pode acontecer que ele receba
alguns títulos novos e avise que algum deles pode interessá-lo",
compara Almeida.
É nessa via de mão dupla que entra o trabalho do trio mineiro.
"A arquitetura que a gente propôs tem basicamente dois
blocos", diz Almeida. O primeiro é o chamado agente de
privacidade, que evita os cookies (arquivos gravados pelos sites
visitados no computador do usuário, de forma a registrar suas ações
passadas) e impede que as páginas da Web registrem o IP, que equivale
ao documento de identidade daquele computador. Por outro lado, a
empresa do usuário ou o provedor por meio do qual a pessoa está
acessando a Internet contariam com um servidor de máscaras.
"O algoritmo que nós criamos é análogo a uma máscara de
verdade: ele esconde a face, mas ao mesmo tempo dá um significado a
ela", explica Almeida. "De acordo com esse sistema, a minha
identidade fica escondida, mas eu passo a ser uma máscara que tem
interesse em artes plásticas, em esportes etc.", diz o
pesquisador da UFMG.
A criação da máscara é baseada nas palavras-chaves usadas pelo usuário
numa busca por livros, CDs ou simplesmente informação. Isso permite
que a pessoa continue a ser tratada de forma razoavelmente
personalizada, já que o site vai dar a ela benefícios ligados ao
tipo de máscara escolhido. "Essa é a novidade do nosso sistema.
Antes, você ou tinha o anonimato completo, ou a personalização sem
segurança", sintetiza Almeida. O aspecto inovador rendeu aos
pesquisadores a capa da revista norte-americana "Security &
Privacy", do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos).
"É muito importante ver como essa questão da privacidade vai
evoluir na sociedade eletrônica", avalia o cientista da UFMG.
"O cidadão vai ter que começar a criar mecanismos para se
proteger". O sistema de máscaras só não resolve os problemas
do bolso: na hora de fazer uma transição financeira, obviamente vai
ser preciso usar o número do cartão de crédito, e o anonimato
acaba.
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