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TV
Digital ficará para a próxima década, diz Boni
A grande revolução prometida pela TV digital, com imagens claras, sem
fantasmas e com possibilidades quase infinitas de interatividade chegará
ao Brasil, com sorte, apenas na próxima década. Essa é a opinião de um
dos maiores especialistas do mercado de televisão no país, José Bonifácio
Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo poderoso da Rede Globo que agora tem
sua própria rede de TV no interior paulista.
"A TV digital talvez
não chegue nem na próxima década. É dinheiro que não acaba mais (para
a implantação). As emissoras não têm, o povo não tem", disse
Boni num evento que reuniu especialistas do setor em São Paulo. "Não
será uma simples troca como foi a da TV preto e branco para a
colorida", acrescentou ele, que começou a trabalhar na TV Tupi em
1953 e depois ajudou a implementar a Rede Globo.
Estima-se que o custo
estimado para a digitalização total das emissoras de TV no Brasil será
de US$ 1,7 bilhão. Para que todos os lares do país tenham acesso à TV
digital, serão gastos outros US$ 5 bilhões em conversores.
O caráter utópico e
ainda distante dessa tecnologia foi reforçado em um seminário realizado
na Universidade de São Paulo na semana passada, do qual participaram
professores, produtores de TV, pensadores e engenheiros, além de
representantes dos Ministérios da Cultura e das Comunicações.
As dificuldades da transição
para a TV digital têm sido muito grandes em várias partes do mundo. Nos
Estados Unidos, por exemplo, só recentemente alguns canais passaram a ser
transmitidos em alta definição, mas os aparelhos continuam muito caros.
Berlim é o único lugar
do mundo que pode comemorar a morte da "velha" televisão. A
capital alemã passou a ter apenas sinais de TV digitais em agosto, e
ninguém ficou de fora. Do 1,8 milhão de casas na cidade com TV, apenas
160 mil não usavam cabo ou satélite para receber os sinais e precisaram
de conversores, vendidos a partir de US$ 100. No Brasil, os números são
muito maiores, e a imensa maioria da população está fora do cabo ou do
satélite.
No momento, o Ministério
das Comunicações está analisando a viabilidade de desenvolver um padrão
nacional da tecnologia para a TV digital, após ter estudado os sistemas
desenvolvidos nos Estados Unidos, Japão e União Européia. A idéia é
que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa ver os jogos da Copa do
Mundo de 2006 já em uma televisão digital no Brasil. Um dos grandes
medos do governo, conforme o secretário de planejamento do Ministério
das Comunicações, Marcos Dantas, é elitizar algo que é extremamente
democrático no país.
Atualmente, a TV está
presente em 87% dos lares brasileiros. Com a adoção da TV digital, seja
qual for a fórmula adotada, será preciso comprar novos aparelhos de TV
ou então adaptar uma através de uma unidade conversora, conhecida pelo
nome em inglês de "set-top box", que permite à TV analógica
receber sinal digital. "Não temos expectativa de que a população vá
aderir logo (ao modelo de TV digital), isso só vai acontecer quando os
custos baratearem", disse Dantas.
Por isso, o governo
pretende, uma vez implementada a TV digital no Brasil, obrigar as
emissoras a transmitir seus sinais também da forma analógica por pelo
menos 15 anos, para evitar que alguém seja "deixado para trás"
pela evolução tecnológica.
Reuters
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