Retrato de uma obsessão

Pesquisa revela preocupação excessiva dos jovens
com sua imagem corporal

Celina Côrtes

O sonho da carioca Vanessa Dellaperuta, 18 anos, é ser modelo. Ela mede 1,73 m e pesa 54 quilos. Predicados não lhe faltam, mas a moça pagou caro para alimentar seu ideal. Gorda quando criança, fez vários regimes, chegou a pesar 38 quilos e passou por diversas internações. Tornou-se vítima de anorexia, distúrbio caracterizado pela resistência a comer, e bulimia, o doentio hábito de eliminar as refeições pelo vômito. Hoje, ela superou esses problemas, mas ainda não está feliz com sua imagem. “Queria ter mais peito e bumbum e menos barriga”, afirma.

Vanessa engrossa os impressionantes números de uma pesquisa feita pela psiquiatra Paula Melin, chefe do setor de transtornos alimentares da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Dos 3.152 estudantes de 13 a 20 anos entrevistados, 74,2% estão insatisfeitos com o corpo. “O que tem valor para eles é a aparência. Estamos criando futuros adultos doentes”, alerta a médica.

Entre os participantes, 77,9% se sentem culpados quando comem
demais e 84,4% escolhem alimentos pelos efeitos que trarão às formas. “Os homens optam por comidas que os ajudam a adquirir músculos e as mulheres restringem tudo para emagrecer”, diz Paula. Os resultados mostram que os jovens estão criando modelos de felicidade inatingíveis
e têm pouca auto-estima. A pesquisa revela ainda que 89,1% dos jovens gastam muito tempo pensando em dietas. E 35% dos regimes adotados são de redução do consumo de alimentos calóricos. Muitos, no entanto, apelam para saídas radicais, como passar quase o dia todo sem comer nada, e adoecem.

 

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