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Serviços
de encontros lideram faturamento entre os sites
VITOR PAOLOZZI
da Folha de S.Paulo
Uma das regras básicas para o sucesso de qualquer atividade
comercial é o estabelecimento de um laço duradouro de
fidelidade com a clientela.
Esse, no entanto, não é o caso de um dos negócios que
mais dão dinheiro hoje na internet: mesmo contando com uma
freguesia de alta rotatividade, os sites especializados na
promoção de encontros on-line já estão em primeiro lugar
entre as empresas que oferecem conteúdo pela web.
Em 2003, o faturamento desse setor nos EUA deve ultrapassar
os US$ 400 milhões.
Somente no primeiro semestre deste ano, os internautas
americanos gastaram US$ 214,3 milhões em sites de
encontros. Isso representa quase um terço do dinheiro gasto
(US$ 748 milhões) pelos americanos em sites de conteúdo
(não entram nessa conta sites de pornografia e jogos de
azar, cuja renda não é medida, e de comércio eletrônico,
como Amazon.com e eBay).
Geralmente, quem se inscreve num site de encontros paga de
três a seis mensalidades. A maior parte simplesmente
desiste, mas cerca de um terço, segundo o Match.com, sai
porque encontrou alguém. O Match.com afirma que mais de mil
casamentos acontecem no mundo todo ano graças a seu
serviço.
"Céu é o limite"
Com mais de 12 milhões de pessoas cadastradas, o Match.com
atinge praticamente todo o planeta: a empresa cataloga
corações solitários em mais de cem países. Embora a
rotatividade dos membros pagantes seja muito alta, o número
de clientes potenciais é quase infinito: "O mercado de
solteiros está crescendo. Diria que o céu é o limite para
o nosso negócio", afirma Nigel Sharman, 44, diretor de
relações públicas internacionais do Match.com.
Uma vantagem desse tipo de site é que eles são operações
pequenas. A MatchNet, que mantém dez diferentes sites de
encontros, tem 138 funcionários para 5,5 milhões de
cadastrados.
Nos três primeiros trimestres deste ano, a MatchNet teve um
faturamento de US$ 25 milhões. O Match.com conta com 274
funcionários em todo o mundo e em 2002 teve um faturamento
de US$ 125 milhões, com um lucro de US$ 36 milhões.
Os sites de encontros on-line não cobram nada de quem quer
colocar um anúncio pessoal. A receita é obtida por meio da
cobrança de mensalidades daqueles que querem ter acesso a
uma série de "serviços especiais". Esses extras
podem ser o direito de colocar fotos, de ver quem está
on-line naquele momento ou de entrar em uma sala de
bate-papo.
A mensalidade desses sites gira em torno de US$ 25 (no
Brasil, o preço fica em cerca de R$ 20). O Match.com
declara que, dos seus 12 milhões de cadastrados, 910 mil
são membros pagantes.
Tendência
A rápida popularização dos namoros on-line está ajudando
a diminuir a imagem negativa que alguns têm desses sites
--apelar para a internet para conhecer alguém seria o
último recurso dos desesperados por companhia. Não faltam
também explicações sociológicas para o fenômeno.
"Os avanços da tecnologia e os tropeços da economia
fizeram com que as pessoas passassem a ter menos atividades
de lazer fora de casa. O declínio das atividades sociais em
clubes e igrejas diminuiu as possibilidades de encontrar
pessoas. A internet preenche esse vácuo", analisa
Larry Gant, psicólogo e professor da Universidade de
Michigan e autor de um estudo sobre o uso que homens e
mulheres fazem da internet.
Embora não veja diferenças entre as relações que tiveram
seu início na internet e relações que começaram de
formas tradicionais, Gant detecta o surgimento de uma
tendência "triste" na maneira como muitos casos
chegam ao fim: "E-mails simplesmente deixam de ser
respondidos, e o outro parceiro fica sem saber o que
aconteceu. Parece que mais e mais gente que se envolve em
namoros on-line está aceitando isso como uma regra do
jogo".
Essa nova "regra" social talvez seja uma das
razões do sucesso dos sites de namoro. Terminar um caso sem
ter de passar pelo doloroso processo de "discussão da
relação" pode ser um estímulo decisivo para fazer
com que aqueles que têm dificuldades de interagir decidam
sair da toca e encontrar outras pessoas.
O raciocínio é simples: trocam-se alguns e-mails,
marcam-se encontros em lugares públicos e, se no fim não
der certo, basta deletar o nome da agenda eletrônica e
partir para a próxima tentativa. Sem dor, sem desculpas.
Certamente, ser rejeitado dessa forma não é a única
experiência ruim associada aos sites de encontro. O medo de
muitos de se envolver em alguma aventura que possa acabar em
morte ou estupro faz com que sites como o AmericanSingles
exibam uma lista com precauções a tomar.
Apesar disso, os sites afirmam que incidentes desse tipo
são raros. "As pessoas podem ter uma experiência ruim
encontrando alguém num bar, num supermercado ou num site.
Não é exclusividade da internet", diz Gail Laguna,
vice-presidente de operações da MatchNet, que mantém o
AmericanSingles.com.
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