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Fraudes eletrônicas assustam setor financeiro
Instituições financeiras dão duro para evitar lavagem de
dinheiro e fraudes no internet banking. Soluções baseadas em regras e em análise
do comportamento ganham importância para diminuir o risco operacional.
Francisco Camargo
Depois da implantação de infra-estrutura tecnológica para atender as exigências
do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), uma nova onda deve movimentar o
mercado de softwares para instituições financeiras. Agora é a vez de soluções
para diminuir o risco operacional e propiciar total controle das operações. E,
entenda-se por risco operacional não apenas erros e enganos de funcionários
mas também lavagem de dinheiro e fraude.
A crescente preocupação com os riscos operacionais, de crédito e de
tesouraria; a prevenção à lavagem de dinheiro em seguros e previdência e
mesmo a necessidade de implementação da certificação digital e de documentos
eletrônicos, deve-se tanto à especialização dos fraudadores como aos novos
direcionamentos impostos pela comunidade mundial de bancos. É neste cenário
que a demanda por sistemas eletrônicos para suporte de normas de auditoria deve
crescer muito. Afinal, perdas financeiras e desgastes com clientes são prejuízos
inaceitáveis numa economia globalizada.
Recentemente, o Bank for International Settlements (BIS), o Banco Central dos
Bancos Centrais que regula o setor no mundo inteiro, instituiu um novo Acordo de
Capitais, o Basiléia II, exigindo que as perdas operacionais previstas sejam
deduzidas da base de capital, diminuindo o índice de alavancagem das instituições
financeiras. Desta forma, bancos, administradoras de cartão de crédito e
outras instituições financeiras precisam redobrar seus cuidados, reduzir as
perdas e garantir total controle sobre os prejuízos oriundos de erros, fraudes
e inadimplência, para estar em conformidade com o Acordo até o fim de 2006.
Outros fatores contribuem também para essa crescente preocupação com o
controle efetivo das operações, principalmente bancárias. Observa-se, no
mundo inteiro e não apenas no Brasil, vários fenômenos que aumentaram a
vulnerabilidade das instituições financeiras, como o incremento do numero de
transações e a aceleração brutal dos fluxos financeiros. Além disso, o
aumento de transações e a transferência de valores, que passaram a ser feitas
praticamente em tempo real, tiveram como conseqüência um significativo
incremento no número de fraudes, operações de lavagem de dinheiro e mesmo de
erros nessas instituições.
Por outro lado, por mais que pareça diletantismo, a verdade é que o ser humano
está em crise e houve uma erosão ética e moral, o que resultou no aumento da
probabilidade de fraudes e de lavagem de dinheiro. A miséria e a falta de
oportunidades também são fatores geradores do crescimento das tentativas de
enganar bancos e/ou seus clientes. Em decorrência disso, as autoridades estão
apertando o cerco contra o risco operacional e, paralelamente, há uma postura
de combate ao crime organizado e prevenção à lavagem de dinheiro.
Falta falar ainda de auditoria de sistemas em e-business e fraudes eletrônicas,
que parece ser um dos maiores desafios da fiscalização do sistema financeiro.
Uma pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostrou que as
transações por internet banking cresceram 177%, em 2002, representando 11,7%
do total transacionado. Considerando que no meio eletrônico as informações
precisam ter total disponibilidade, o vilão de bancos e clientes, passou a ser
a fraude bancária via internet. Assistiu-se ao surgimento de novas modalidades
de roubo como o envio de e-mails falsos para induzir clientes a informar senha,
número da conta corrente e dados pessoais. Nesses casos, os fraudadores
desenvolveram programas de captura de senha e outras informações, que se
instalam quando o e-mail é aberto.
Neste momento, é preciso pontuar a diferença entre fraude e lavagem de
dinheiro, principalmente no que tange ao tempo. Em ambos os casos, há a intenção
de enganar a instituição financeira e/ou seu cliente, entretanto, o fraudador
tem urgência em retirar o dinheiro desviado/roubado. Já quem faz lavagem de
dinheiro quanto mais tempo se passar, melhor. Uma das técnicas é deixar o
dinheiro que seguiu via ordem de pagamento esquecido por meses na agência bancária
ou em contas de 'laranjas'.
Mais complexas e em franco crescimento, as fraudes em cartão de débito, cuja
prevenção é praticamente inexistente nos bancos brasileiros, foram agravadas
pela quase instantaneidade dessas transações, imposição do SPB. Com cartões
de crédito, a vigilância não pode ser menor. Segundo os responsáveis pela
monitoração de pagamentos via cartão de crédito cerca de R$ 3,8 mil são
roubados por minuto em compras remotas (sem a presença do dono do cartão),
feitas pela internet, por telefone e por fax. Além disso, a maioria dos bancos
médios e pequenos não possuem tecnologia anti-fraude e os poucos que
investiram, contam com sistemas deficientes que buscam padrões de comportamento
anômalos e são facilmente burlados.
Assim, seja para atender os aspectos regulatórios da segurança da informação
no segmento financeiro, seja para coibir ações que causem prejuízos, é
inevitável a adoção de sistemas de controle para áreas de auditoria interna,
compliance, controles internos, gestão de riscos e jurídica. Neste sentido, as
soluções baseadas em regras e em análise do comportamento do cliente, do
estabelecimento comercial e dos empregados do próprio banco serão as vedetes
contra fraude e lavagem de dinheiro. Porém, é importante atentar para alguns
detalhes. A tecnologia deve suportar adequadamente sistemas para detecção de
erros internos e risco operacional. Precisa consolidar na base de dados todas as
informações sobre fraudes, lavagem de dinheiro, padrões de operações
suspeitas, de comportamento, etc. Cada incidente tem que ser investigado,
denunciado e armazenado.
Por isso, o software precisa ter um sistema de workflow integrado às operações
do banco e efetuar o armazenamento dos resultados da auditoria juntamente com os
dados da operação suspeita que deu origem à investigação. E, em caso de um
falso-positivo, mais que permitir que a regra seja mudada ou mesmo que uma nova
seja criada, o sistema tem que 'aprender' com as investigações. Em termos de
soluções complementares, a adoção de softwares de análise de
vulnerabilidades na camada de aplicação, para análises do Internet Bank, que
previnam os administradores para ameaças mais sérias, pode ser muito valiosa.
Sistemas de Detecção de Intrusão (IDSs), principalmente os baseado em no open
software SNORT também serão extremamente úteis.
Enquanto as mudanças não chegam, alguns cuidados podem preservar sua segurança.
Para quem usa cartão de crédito é prudente rasgar extratos e comprovantes de
pagamento; não emprestar o cartão para terceiros comprarem via internet ou por
telefone; não comprar em sites desconhecidos; checar sempre o extrato e não
deixar o vendedor levar o cartão para lugares em que não se possa ver o que
está sendo feito. Com relação à conta corrente, NUNCA informe sua senha a
ninguém, nem por e-mail ou telefone nem pessoalmente, nem para o banco por
telefone, desconfie de promoções muito vantajosas que chegam à sua caixa
postal. [Webinsider]
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