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O fim do olé
Barcelona proíbe as touradas e provoca nova onda de debates
sobre maus-tratos a animais
Mariana Barros
De um lado da arena, o toureiro. Bravo, elegante, gracioso. Do outro, o
touro. Feroz, robusto, combatente. Esse mote alimenta o encanto das touradas,
uma tradição que desde o ano 200 cativa os aficionados. O duelo é sangrento.
O touro morre lentamente, debilitado pelos espetos fincados no couro. Seu sacrifício
é a glória do toureiro. E o horror dos ecologistas. No mês passado, a cidade
espanhola de Barcelona deu um basta à matança de 100 touros por ano nos
duelos. Por 21 votos a 15, o conselho municipal pediu a abolição das touradas
na Catalúnia. O gesto é simbólico, pois o município não tem poder para o
banimento, mas foi fortalecido por protestos e listas com 250 mil assinaturas.
Contrariados, os admiradores do esporte ameaçaram tomar as ruas. Num relato
emocionante, o escritor Mario Vargas Llosa defendeu a festa dos touros, “um
espetáculo que às vezes alcança momentos de beleza e intensidade indescritíveis
e tem por trás uma robusta tradição que se reflete em todas as manifestações
da cultura hispânica”. A iniciativa de Barcelona foi interpretada como uma
tentativa de criar uma identidade catalã desvinculada de Madri, que, junto com
Sevilha, sedia as touradas. A primeira proibição do embate ocorreu no século
XVI, com o papa Pio V. O ritual resistiu porque os adeptos defendiam que os
touros sacrificados são criados somente para esse fim e que outras espécies
animais são mutiladas cruelmente, sem fundamento cultural.
As baleias seriam o principal exemplo dessa prática. Depois de atingidas
pelo arpão, elas chegam a agonizar por mais de uma hora. Nos EUA, o que mais
ameaça as baleias é o turismo. Os barcos com curiosos quintuplicaram nos anos
1990 e o barulho dos motores obrigou os animais a gritar mais alto para se
comunicar com os companheiros. Ninguém parece ouvir o seu apelo.
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