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O evangelho gay
Nova igreja cresce nos EUA e chega ao Brasil pregando a
aceitação dos homossexuais
ELISA MARTINS
Há
uma semana, um sobrado com capacidade para 200 pessoas na Lapa, no
centro do Rio de Janeiro, abriga uma igreja nova. A organização
religiosa poderia passar despercebida se não fosse por um detalhe:
trata-se do primeiro templo voltado para a comunidade gay no país.
Chamada no Brasil de Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), a
Metropolitan Community Church existe há 35 anos nos Estados Unidos. Sem
impor regras rígidas aos fiéis, ganha adeptos pelo mundo pregando que
Deus ama a todos, independentemente da orientação sexual. Sobrevive de
ofertas espontâneas e aposta em paciência e empenho para lutar pelos
direitos dos homossexuais - entre eles o reconhecimento do casamento
entre pessoas do mesmo sexo.
Aqui, a ICM chegou de maneira inusitada. Descontente com a igreja
evangélica que freqüentava desde pequeno, o advogado carioca Marcos
Gladstone, de 28 anos, descobriu o site da Metropolitan Community Church.
'Entrei logo em contato', conta Gladstone, hoje pastor e representante
da denominação no Brasil. Ele traduziu o material on-line e lançou
uma versão em português do site em 2002. Em um ano a ICM, ainda
virtual, tinha alcançado 20 Estados. Foi a deixa para a formação de
grupos locais que se reuniam em praças e clubes até a inauguração de
uma sede oficial.
'Somos uma igreja cristã que começou voltada para a comunidade gay
e lésbica, mas que está aberta a qualquer um', conta o reverendo
americano Troy Perry, que fundou a Metropolitan Community Church em
1968. Ele se sentia discriminado na igreja pentecostal que freqüentava,
em Los Angeles. Na primeira reunião da Metropolitan Church apenas 12
pessoas apareceram - entre elas um casal heterossexual. Um ano e meio
depois, no entanto, a igreja já tinha mais de mil integrantes. 'Muitos
heterossexuais vêm movidos pela curiosidade', conta o reverendo. 'O que
atrai as pessoas é que não dizemos que é errado ser homossexual',
reforça a bispa Lillie Brock. Os cultos, como em toda igreja cristã,
incluem música e dança. Mudam o público-alvo e o conteúdo das
pregações. Aos poucos, a ICM vem ganhando força: já são mais de 300
igrejas em 21 países, somando cerca de 50 mil fiéis.
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