A vingança da internet
Movimentos no mercado sinalizam um
amadurecimento da rede.
Movimentos recentes no mercado internacional e nacional começam a
apontar para um aquecimento significativo de négocios ligados à
internet. Modelos de negócio inovadores, construidos em cima de
espectativas de retorno realistas, avançam agressivamente em
múltiplas frentes para conquistar o coração e mente do
consumidor.
Não estamos definitivamente falando de uma nova onda
especulativa de captações como aconteceu há cerca de cinco anos
na dita cuja “bolha” da internet. Durante este período ocorreu
um fenômeno cognitivo de mercado que supervalorizou empresas que
representavam a chamada nova economia. Forças do mercado fizeram
acreditar que a perda do timing de entrada na nova economia
seria um problema sério em médio prazo para corporações já
estabelecidas.
O alto custo de entrada seria teoricamente compensado através
de um ingresso rápido em um mercado ainda em formação. No
entanto, captações milionárias geraram uma onda especulativa que
favoreceu negócios oportunistas – resultando em uma ressaca
pessimista que durou alguns anos após o estouro da bolha.
Apesar da montanha russa de emoções, a dinâmica da internet
nunca realmente parou de evoluir, demonstrando hoje resultados
reais – e de proporções grandiosas. Este ano, a receita
publicitária combinada do Google e Yahoo! deve superar a receita
combinada das três grandes redes de TV americana: ABC, CBS e
NBC. Em agosto, a empresa de busca chinesa Baidu lançou ADRs na
NASDAQ a US$27 culminando a um pico de US$154, e chegando agora
a US$83. A Ebay, em movimento agressivo, compra a empresa de
VoIP Skype por 2.6 bilhões de doláres. No Brasil, onde o
comércio eletrônico cresce a uma taxa de cerca 50% ao ano, a
Americanas.com comprou recentemente o Shoptime por R$126,7
milhões, e o Submarino consegue captações na Bovespa.
Estes são apenas alguns dos exemplos que caracterizam a
consolidação do segmento internet. No entanto, é importante
notar que um dos erros perceptuais importantes da “bolha” foi
considerar a internet como iniciativas isoladas, ditas empresas
pontocom. Na verdade, internet, extranet e intranet são canais
que devem ser inerentes ao modus operandi de empresas de
tradição secular. É impensável no mercado americano uma
corporação que não esteja usando fortemente algum destes canais,
resultado de investimentos e mesmo mudanças de paradigmas
organizacionais nos últimos anos. Wall-Mart, GM, Procter &
Gamble, SBC, dentre muitas e muitas outras, são exemplos de
empresas que usam fortemente canais interativos para vendas,
relacionamento e mesmo gestão interna. No Brasil, já temos
iniciativas expressivas em empresas das mais variadas
indústrias, como telecom, petroquímica, conteúdo, varejo, dentre
outras. Note que as transações B2C via canal eletrônico no
Brasil somaram R$7.4 bilhões em 2004, contra R$148.9 bilhões no
mercado corporativo B2B. Existe um crescimento oculto aos olhos
do consumidor final que é cerca de 20 vezes maior em
faturamento.
A concentração de renda no país infelizmente cria obstáculos
para a expansão da base de usuários na rede, especialmente nas
classes D e E. Esta realidade no entanto começa a mudar.
Iniciativas de crédito e valorização do Real estimulam a venda
de PCs, que aumentaram 44% somente no primeiro semestre.
Celulares, que são uma forma importante de conexão à internet,
já têm como usários mais de um terço da população, e continuam
expandindo a base.
Claro, existe sempre um nível de risco em qualquer
investimento. Mas estamos em um século em que possivelmente o
controle da informação será o maior diferencial competitivo no
ambiente darwiniano do mercado. Assim, espera-se que as empresas
brasileiras leiam estas sinalizações, e consequentemente
garantam sua competitividade. [Webinsider]
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Marcello Póvoa é
sócio-diretor da
MPP
Solutions.