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Relógio e celular
substituem dinheiro em Hong Kong
MARINA WENTZEL
da BBC Brasil, em Hong Kong
Um minichip de silício de crédito pré-pago pode levar ao completo
desaparecimento do dinheiro em pequenas transações comerciais em
Hong Kong.
Lançado em 1994 e conhecido como Octopus, o chip funcionava
inicialmente apenas como um cartão válido nas linhas de transporte
público.
Mas seu uso popularizou-se de tal forma que hoje ele serve como
documento de identificação e é aceito para compras em supermercados,
máquinas automáticas e grandes redes como McDonald's, Starbucks ou
SevenEleven.
"É mais prático. Eu tenho tudo em um só cartão", explica May Chan,
24. Cerca de 95% da população de Hong Kong entre 16 e 65 anos
utiliza a tecnologia.
Futuro
Com o chip é possível pagar sem abrir a carteira. Ele funciona com
ondas de rádio e basta posicioná-lo por alguns segundos próximo à
máquina leitora que o valor da conta é automaticamente descontado
dos créditos.
A versão mais popular é o cartão, mas também existem chaveiros,
celulares e relógios. No caso do último, o usuário só precisa
estender o braço para pagar.
O sistema de Hong Kong realiza diariamente 9,2 milhões de
transações. Catherine Fu, gerente de relações públicas da Octopus
Cards Limited, empresa operadora do sistema, atribui o sucesso do
produto ao que considera sua "simplicidade e conveniência de uso".
Na Universidade City de Hong Kong, o Octopus substituiu a
carteirinha de estudante.
Com o modelo personalizado do chip, alunos podem retirar livros da
biblioteca, fazer fotocópias e até registrar presença em classe.
Alguns condomínios residenciais e empresas também usam a tecnologia
para identificação de visitantes na portaria.
"Dinheiro na forma de moeda está se tornando cada vez mais
inconveniente nas sociedades modernas", afirma Lucia Siu, do Grupo
de Pesquisa de Estudos Socias de Finanças da Universidade de
Edimburgo, na Escócia.
Ela acompanha o fenômeno do Octopus e acredita que, entre as classes
de alto poder aquisitivo, as moedas cairão em completo desuso dentro
de um século.
Mas Michael Rogers, renomado futurista e ex-vice-presidente de novas
mídias do grupo Washington Post, diz que o advento do Octopus não
significa o fim definitivo dos trocados.
"Eu duvido que sistemas como esse venham a substituir completamente
as moedas num futuro próximo, especialmente entre os pobres",
afirma. "Mas eles vão cada vez mais fazer parte do dia-a-dia de
quase todo mundo."
"Não existem mais razões para usarmos moedas. O único impedimento
real para a aceitação do dinheiro eletrônico é a padronização e o
alto potencial de fraudes", pondera David Zach, mestre em Estudos do
Futuro pela Universidade de Huston Clear Lake, no Texas, Estados
Unidos.
Ele considera dinheiro de metal algo do século passado e,
referindo-se à sua rotina nos Estados Unidos, diz que "se não fosse
pelos parquímetros", ele nunca usaria moedas.
Em Hong Kong é diferente. Os 13 milhões de usuários do Octopus podem
pagar parquímetros com o chip e não precisam ter troco no bolso.
Talvez por isso faça cada vez mais sentido a piada dita por um
chinês anônimo na rua: "aqui em Hong Kong só circulam moedas raras,
pois é muito rara a circulação de moedas".
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