Redes sociais compõem valiosos bancos de dados

da Folha de S.Paulo

Por mais atraentes que possam parecer, as comunidades virtuais escondem sua parcela de lado negro da Força. Além de poderosas ferramentas de entretenimento e de interatividade, elas também servem aos interesses das empresas que as mantêm, que passam a ter um enorme banco de dados sobre seus usuários.

"Esse conhecimento concerne não apenas à identidade dos indivíduos mas também ao seu valor econômico potencial, às suas preferências de consumo, às suas tendências e inclinações comportamentais, à sua capacidades profissionais, aos riscos a que estão sujeitos e às doenças que podem vir a desenvolver", explica em artigo a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Fernanda Bruno.

"Vale ainda notar que o principal objetivo não é tanto saber sobre um usuário especificamente identificável, mas usar um conjunto de informações pessoais para agir sobre outros indivíduos", completa Bruno.

Catalogando

Prova do potencial desse armazém de dados pessoais foi dada por Orkut Buyukkokten, anos antes que o engenheiro de software originasse a popular rede Orkut. Em parceria com outros dois pesquisadores, Buyukkokten criou o Club Nexus, uma comunidade on-line baseada na Universidade de Stanford cujo propósito era usar a rede social para desvendar traços comportamentais e interações entre seus usuários.

O estudo analisou ações e preferências de seus 2.469 membros, que originaram 10.119 ligações entre si. Os dados também serviram para estabelecer relações entre a forma como os membros se descrevem e seus gostos (veja ao lado) e ligar hobbies a interesses de estudo.

A maioria dos usuários que gosta de ficar em casa se interessa por história, enquanto os que assistem muito à TV estudam relações internacionais.

Dos que se consideram inteligentes, 69% têm na filosofia seu tema de adoração. Os bem-sucedidos se identificam com ciências da computação, e os que se acham atraentes preferem ciências políticas. Quem se denomina esquisito aprecia matemática e física, e os criativos se interessam por design de produtos e por língua inglesa --esta última também tema de preferência de quem se considera sexy.

Outra conclusão da pesquisa é que interesses em comum são um fator de forte influência para a constituição de amizades.

Para medir o grau de conexão entre as pessoas que compartilham os mesmos gostos, os pesquisadores criaram um índice que mede a força das associações. A taxa relaciona o número de membros que dizem se interessar por determinado assunto ou atividade e o número de ligações estabelecidas entre eles. Assim, averiguaram que os apreciadores de dança de salão estabelecem uma relação mais forte entre si do que os que gostam de acampamentos: 1,61 contra 1,11.

A ligação entre pessoas que têm pouco em comum, por outro lado, se mostrou uma importante ferramenta para encurtar as distâncias entre os participantes da comunidade. Também contribuem para isso os indivíduos sociáveis, que aglutinam vários grupos de interesse.

 
 

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