SÃO PAULO - Alternativas gratuitas e
baseadas na web se multiplicam e ameaçam
o produto mais lucrativo da Microsoft.
A Microsoft vende o tocador de MP3
Zune e o videogame Xbox 360, produz
software de gestão empresarial para
pequenas e médias empresas, tem uma
presença importante no mundo dos
smartphones e já sedimentou sua presença
no mercado de programas para servidores.
Mas quem olhar com atenção para o
balanço da empresa vai notar que boa
parte dessas iniciativas é deficitária.
O que tornou a Microsoft um dos melhores
negócios de todos os tempos — e fez de
Bill Gates por vários anos o homem mais
rico do mundo — são dois nomes que fazem
parte do dia-a-dia de quem usa
computadores: o sistema Windows e o
pacote de programas Office. O primeiro
deles é um monopólio confortável: o
sistema está presente em nove de cada
dez computadores pessoais do mundo e tem
uma barreira virtualmente intransponível
para a concorrência, pois já vem
pré-instalado de fábrica. Mas a situação
do segundo é bastante diferente. O
Office, como se sabe, é o pacote de
programas de escritório que inclui o
processador de texto Word, as planilhas
eletrônicas Excel e o software de
apresentações PowerPoint. Um consumidor
que queira usar as funções básicas do
programa tem duas opções. A primeira é
comprar o Office no varejo, por algo em
torno de 1 300 reais. A segunda é usar
um concorrente — de graça, cortesia de
algum dos maiores rivais da empresa,
como Google, IBM e Yahoo!.
O mundo do software está atravessando
uma mudança fundamental. O que antes era
vendido numa caixa e instalado em cada
computador agora funciona remotamente,
na grande nuvem da internet. O Google
lançou no início deste mês o terceiro
componente de seu serviço Docs. Além de
um processador de texto e de uma
planilha eletrônica, o gigante da web
agora oferece o Presently, programa para
criação de apresentações que concorre
diretamente com o ubíquo PowerPoint.
Para acessar os três programas, basta um
navegador e uma conexão com a rede.
Todos são limitados e não dispõem dos
recursos mais sofisticados que se
encontram nas versões do Office. Por
outro lado, a imensa maioria das pessoas
não usa as funções mais avançadas desses
programas. Outra vantagem é que os
documentos ficam guardados na rede. Isso
significa que eles podem ser acessados
de qualquer computador, em qualquer
lugar do mundo. E, não custa lembrar,
tudo isso é grátis. Quem paga a conta
são os anunciantes.
ESSA CONCORRÊNCIA ASSUSTA e muito a
Microsoft. O Office é uma máquina de
fazer dinheiro. De acordo com o
relatório anual divulgado em junho, a
divisão de negócios teve faturamento de
16,4 bilhões de dólares e lucro de 10,8
bilhões, e o grande responsável pelo
resultado é o pacote de programas de
escritório. A maior parte das vendas é
feita para clientes corporativos, que
pagam um preço bem inferior ao do
varejo, mas compram licenças em grandes
volumes. É claro que grandes empresas
não vão correr para trocar os programas
mais utilizados por seus funcionários
por versões gratuitas baseadas na web.
Mas há outras possibilidades. A IBM
anunciou em meados de setembro o pacote
Lotus Symphony. Qualquer empresa ou
consumidor pode baixar o programa de
graça do site da empresa. O Symphony,
que é construído sobre uma versão de
software livre chamada Open Office,
também inclui os três principais
programas de escritório e é mais uma
peça na estratégia da IBM de minar a
Microsoft. “O que entregamos de graça
não dá dinheiro”, diz Steve Mills, chefe
de software da IBM. É uma platitude, sem
dúvida, mas ela tem um complemento não
tão óbvio. Clientes que abandonam o
Office terão sobra no orçamento de
tecnologia, e é essa a receita que a IBM
quer abocanhar.
Google e IBM são apenas duas de uma
série de empresas que podem, graças aos
flancos abertos pela internet, incomodar
a Microsoft. E a palavra incômodo é a
única adequada para descrever um gigante
encastelado que conta com 500 milhões de
clientes de seus programas de escritório
e que vendeu, apenas seis meses após o
lançamento, mais de 70 milhões de cópias
da nova versão do pacote Office. Além
dessa enorme base instalada, existe
outra barreira importante para os
concorrentes: as companhias e as pessoas
já estão habituadas a utilizar os
programas. Todas as estruturas de
assistência técnica estão montadas para
resolver eventuais problemas do Excel,
enquanto a versão do Google é gratuita
e, naturalmente, não oferece nenhum tipo
de suporte. Apesar disso, a Microsoft
não está parada. Recentemente entrou no
ar a versão online de alguns produtos do
Office. São poucos e esparsos recursos,
pois a empresa não quer jogar areia nas
engrenagens de sua máquina de imprimir
dinheiro. A pressão se faz sentir na
maior empresa de software do mundo.
Falando à revista britânica The
Economist, o presidente da consultoria
Forrester Research, George Colony,
definiu de forma brilhante a situação da
Microsoft e o dilema vivido por seu
fundador: “Bill Gates sabe concorrer com
quem cobra por produtos, mas a cabeça
dele explode quando tem de confrontar
alguém que dá os produtos de graça".
Cercados por todos os lados
Os programas campeões de venda da
Microsoft (Word, Excel e PowerPoint) têm
concorrentes gratuitos cada vez mais
competentes
Lotus Symphony IBM
O pacote gratuito, que deve ser
baixado para o computador do usuário,
cria e edita documentos criados com os
programas equivalentes da Microsoft
Google Docs GOOGLE
Com o novo clone do PowerPoint, o
gigante da web oferece três concorrentes
dos carros-chefes do Office — e tudo
funciona pela internet, sem downloads
Zimbra YAHOO!
Recém-adquirida, a empresa oferece
programas de e-mail e de colaboração
online — um dos principais pilares da
nova versão do Office