Um
robô-pintor e um grupo de
robôs que disputam a atenção do visitante são os destaques da 4ª
edição da Bienal de Arte e Tecnologia do Itaú Cultural, que abre na
quarta-feira em São Paulo.
"Emoção Art.ficial 4.0 ¿ Emergência" reúne 16 trabalhos de
artistas de diferentes nacionalidades, espalhados por três andares
do prédio da instituição na avenida Paulista, além de uma grande
instalação na estação de metrô Paraíso.
Uma biblioteca sonora, um mixer de
vídeos do YouTube e um programa de computador para criar
monstros de um
videogame também fazem parte da Bienal, em cartaz até setembro.
Apesar dos robôs e das obras tecnológicas, todos previamente
programados ou organizados por artistas, as obras trazem
comportamentos imprevisíveis, como que subvertendo as regras simples
de seus criadores.
"O conceito comum é que a programação é sempre completamente
previsível. Mas o conceito de emergência mostra que isso não é
verdade", explicou Marcos Cuzziol, coordenador do Itaulab (núcleo de
arte e tecnologia do instituto) e um dos organizadores da Bienal. "A
criatura extrapola um pouco aquilo que o criador imaginou", disse.
Os dois trabalhos que apresentam robôs estão no primeiro andar do
prédio. Em uma sala escura, quatro robôs com luzes coloridas
observam a entrada dos visitantes e analisam seus padrões faciais
através de um
software de reconhecimento.
"Eles competem pela atenção do visitante. São como crianças
querendo chamar atenção, mas que não sabem muito bem como fazer",
explicou o artista irlandês Ruairi Glynn.
Os robôs trocam informações entre si, e seus comportamentos e
luzes vão mudando conforme a eficácia de suas performances para
conseguir manter o interesse do público.
Editor de monstros
Na mesma sala está o RAP3, o robô-artista, criado pelo português
Leonel Moura. Autônomo, o robô cria desenhos abstratos a partir de
códigos em seu "cérebro" que vão interagindo entre si e criando
trabalhos originais.
"Ele decide tudo sozinho, como serão as linhas, onde a cor vai se
concentrar, quando termina e onde assina. É muito imprevisível",
afirmou Moura, que por sua vez não pinta.
"Sou artista do século XXI, e não do século XX. Aquilo que me
interessa como artista é a capacidade de inovar, de abrir portas, de
ampliar o campo da arte."
A artista brasileira Raquel Kogan criou uma estante com 50
livros-objetos que, ao serem abertos, emitem na sala inteira o som
de trechos de livros de diversos autores, como Fernando Pessoa e
Clarice Lispector, criando uma verdadeira torre de babel.
A obra "youTag", do brasileiro Lucas Bambozzi, mixa vídeos do
YouTube a partir de três palavras digitadas pelo visitante, que
receberá apenas em seu e-mail o produto final. Já o trabalho "Spore"
é um editor de criaturas para um videogame da Electronic Arts que
deve ser lançado em setembro.
Segundo Cuzziol, cada visitante terá cerca de 15 minutos para
criar seu monstro e deixá-lo em uma base de dados na Internet, que
poderá ser usado no universo intergaláctico do jogo de Will Wright,
o mesmo de SimCity e The Sims.
Antes de chegar à exposição, o público pode passar pelo metrô
Paraíso para ver o "jardim virtual" do artista mexicano Miguel
Chevalier, em um vídeo de 9 por 3 metros.
As flores e árvores são criadas por seis variedades de plantas
digitais, que entram em processo de polinização com a interação do
público, por meio de
sensores, criando novas e inesperadas florações.