ReutersPARIS - O poder promocional da
pirataria e os méritos artísticos do
hábito de blogar serão alguns dos
temas comentados por Paulo Coelho,
na abertura da Feira do Livro de
Frankfurt, que acontece entre os
dias 15 e 19/10 na Alemanha.
O escritor de 61 anos de idade
está sendo considerado um pioneiro
digital pela sua entusiasmada adoção
da mídia online.
Coelho mantém um blog pessoal,
perfis em diversas redes sociais e
usa o Twitter, além de regularmente
colocar vídeos no YouTube, usando o
nome "Privacy Zero". Anos atrás, ele
já distribuía gratuitamente versões
digitais dos seus livros na
internet.
Em seu apartamento em Paris,
Coelho falou sobre a sua relação com
a web.
P: Qual o seu objetivo com tudo
isso?
R: Diversão. É tão agradável
fazer isso. Não sou uma pessoa muito
sociável, não freqüento festas.
Descobri esse fantástico mundo
online que me ajuda
profissionalmente, como escritor.
P: De que forma a internet o
ajuda?
R: A base de qualquer livro é o
ser-humano e seus conflitos. As
pessoas não gostam de falar a
respeito da sua vida privada, mas é
só acessar a web e lá existe uma
enorme quantidade de informações
escancaradas. Obviamente, nem tudo o
que é publicado é verdadeiro, porém
às vezes o conteúdo não precisa ser
real para ser interessante.
P: Por que você acha que blogar
vale a pena?
R: Se você perguntasse aos
macacos na era Medieval o que eles
achavam de Gutemberg e da imprensa,
eles diriam “Ah, qual a graça de ter
livros impressos? Estamos desenhando
todas as letras com uma bela
caligrafia, isso é arte e é sagrado!
O processo de impressão que
Gutemberg inventou não é nada." Acho
que vivemos uma situação muito
parecida atualmente. As pessoas
podem expressar o que sentem e
pensam por imagens, textos e filmes.
Todos têm um potencial criativo e a
partir do momento em que é possível
comunicá-lo, começamos a mudar o
mundo.
P: Você pretendia se tornar um
pioneiro digital?.
R: No começo, procurava
informações para escrever meus
livros, mas sentia que estava
recebendo demais e oferecendo pouco.
Então comecei a participar mais e
rapidamente percebi como era
importante fazer aquilo. Se você
acessar meu blog, encontrará muito
conteúdo gratuito. Será que isso me
faz vender menos livros? Ninguém
sabe. Irei à Feira do Livro de
Frankfurt para falar justamente
sobre esse assunto. Não sei se ser
um pioneiro digital vende livros,
mas sei que estou compartilhando a
minha alma e essa é a meta do
artista.
P: Você está empolgado com a
multimídia como uma alternativa aos
livros?
R: Como escritor, me interesso
por qualquer tipo de experiência.
Acabei de produzir um filme junto
com meus leitores. Durante um ano,
peguei meu livro “A bruxa de
Portobello” e disse: “Você deve
escolher um personagem e desenvolver
um filme baseado nele”. Cerca de
seis mil pessoas aceitaram o
desafio. Selecionei cinco histórias
e consegui um excelente filme.
P: Por que você gosta tanto das
redes sociais?
R: Não que eu esteja cansado de
escrever livros, mas quero escrever
em novas plataformas, porque isso me
obriga a usar outros idiomas. Temos
que ser diretos. Sou muito
pragmático em meus livros, mas a
internet exige um outro estilo de
escrita. Estou aprendendo. Estou em
uma nova fase, expandindo meu
universo.
P: O que está por trás do apelido
Privacy Zero?
R: A idéia por trás do Privacy
Zero é que a ausência de privacidade
é uma realidade. Não existe mais uma
vida privada. Portanto comecei a
publicar vídeos da minha vida no
YouTube. É claro que a primeira
reação dos publicitários foi dizer
que eu estava errado, que devia
preservar uma aura de mistério.
P: Você se preocupa com a sua
segurança e com seus fãs
desequilibrados?
R: John Lennon foi morto antes da
internet. Se começar a pensar em
todos os perigos de me expor, não
faço nada. É necessário se arriscar.
P: Como a HarperCollin´s decidiu
disponibilizar versões digitais de
alguns dos seus livros?
R: Minha CEO na HarperCollin´s
era a Jane Friedman. Um dia ela me
ligou e eu disse que não podia
voltar atrás – ele havia mencionado
em uma conferência que colocaria
downloads gratuitos dos seus livros
na internet.