Katharine Houreld
A
mensagem
de
texto
enviada
pelo
elefante
chegou
à
tela
de
Richard
Lesowapir:
Kimani
estava
a
caminho
de
algumas
fazendas
localizadas
nas
imediações
da
reserva.
O
grande
elefante
macho
tem
um
longo
retrospecto
de
ataque
às
safras
dos
aldeões
na
época
da
colheita,
e
suas
ações
ocasionalmente
podem
destruir
seis
meses
de
trabalho
de
uma
vez.
Mas
agora,
um
cartão
de
celular
inserido
em
uma
coleira
enviou
uma
mensagem
de
texto
aos
guardas
florestais.
Lesowapir,
um
guarda
armado
e um
motorista
se
encaminharam
ao
local
ameaçado
em
um
jipe
equipado
com
muitos
holofotes,
com
o
objetivo
de
assustar
Kimani
e
fazê-lo
retornar
ao
território
da
reserva
natural
de
Ol
Pejeta.
O
Quênia
é o
primeiro
país
a
experimentar
o
uso
de
mensagens
de
texto
enviadas
por
elefantes
como
forma
de
proteger
tanto
a
crescente
população
humana
do
país
como
os
animais
selvagens
para
os
quais,
diante
do
crescimento
populacional,
resta
menos
espaço
para
circular
livremente.
Os
elefantes
estão
classificados
como
"quase
ameaçados"
na
Lista
Vermelha,
um
índice
de
espécies
de
animais
vulneráveis
compilado
pela
União
Internacional
para
a
Conservação
da
Natureza.
A
corrida
para
salvar
Kimani
começou
cerca
de
dois
anos
atrás.
O
Serviço
de
Proteção
à
Fauna
do
Quênia
já
havia
se
visto
forçado,
relutantemente,
a
abater
cinco
elefantes
da
reserva
natural
que
vinham
se
recusando
a
abandonar
seus
ataques
contra
as
plantações,
e
Kimani
é o
último
dos
animais
que
tinham
por
hábito
conduzir
esse
tipo
de
ataque.
O
grupo
conservacionista
Save
the
Elephants
queria
determinar
se
seria
possível
levá-lo
a
abandonar
seus
padrões
de
comportamento.
Por
isso,
colocaram
um
chip
de
telefonia
móvel
SIM
na
coleira
de
Kimani
e
criaram
uma
"geocerca"
virtual
em
torno
da
reserva,
usando
um
sistema
de
posicionamento
global
que
reproduz
os
limites
dessa
área.
Sempre
que
Kimani
se
aproxima
desses
limites
virtuais,
o
chip
instalado
em
sua
coleira
envia
uma
mensagem
aos
guardas.
Eles
já
interceptaram
o
elefante
15
vezes
desde
que
o
projeto
foi
iniciado.
Antes
acostumado
a
deixar
a
reserva
quase
todas
as
noites
em
suas
incursões,
há
quatro
meses
Kimani
não
se
aproxima
dos
campos
de
um
agricultor.
É
um
grande
alívio
para
os
pequenos
fazendeiros
que
dependem
de
suas
safras
para
alimentar
suas
famílias
e as
vendem
para
ajudar
a
pagar
despesas
escolares.
Basila
Mwasu,
31,
tem
dois
filhos
e
vive
muito
perto
dos
limites
da
reserva.
Ela
e
suas
vizinhas
costumavam
tamborilar
em
panelas
durante
toda
a
noite
para
tentar
assustar
os
elefantes
e
mantê-los
fora
de
suas
plantações.
Em
certa
ocasião,
um
elefante
enfiou
a
tromba
para
dentro
do
quarto
onde
sua
filha
bebê
estava
dormindo,
e
que
servia
também
de
depósito
para
reserva
de
milho
da
família.
Ela
teve
de
afastar
o
animal
golpeando
seu
focinho
com
um
graveto
em
chamas.
Em
outra
ocasião,
um
elefante
matou
um
vizinho
de
Mwasu
que
estava
tentando
defender
sua
plantação.
"Nós
tínhamos
de
ir à
cidade
para
informar
aos
guardas
florestais
que
eles
precisavam
controlar
os
elefantes,
se
não
queriam
que
os
matássemos",
ela
conta.
Mas
mesmo
assim
os
elefantes
continuavam
a
retornar
ao
ataque.
Batian
Craig,
especialista
em
conservação
e
segurança
na
reserva
de
Ol
Pejeta,
uma
área
de
35
mil
hectares,
diz
que
programas
de
desenvolvimento
comunitário
não
são
muito
úteis
caso
os
agricultores
não
tenham
safras.
Ele
recordou
a
ocasião
em
que
15
famílias
tiveram
suas
plantações
destruídas.
"Assim
que
um
agricultor
perde
seu
ganha-pão
por
seis
meses,
pouca
diferença
lhe
faz
que
existam
estradas,
escolas,
abastecimento
de
água
ou
qualquer
outra
coisa",
disse
Craig.
Iain
Douglas-Hamilton,
fundador
da
Save
the
Elephants,
disse
que
o
projeto
ainda
está
em
seu
estágio
inicial
-
até
agora
apenas
duas
geocercas
foram
instaladas
no
Quênia
- e
que
o
método
tem
seus
problemas.
As
baterias
que
acionam
os
chips
instalados
nas
coleiras
se
esgotam
depois
de
poucos
anos.
Algumas
vezes,
as
comunidades
consideram
que
o
fato
de
que
a
reserva
ou a
organização
tenham
colocado
uma
coleira
no
animal
implicam
em
que
este
seja
sua
propriedade,
e
por
isso
caberia
a
elas
cobrir
quaisquer
prejuízos
pelos
estragos
causados.
E
além
de
tudo
o
trabalho
é
dispendioso
- Ol
Pejeta
tem
cinco
funcionários
em
tempo
integral
e
precisa
de
um
veículo
em
prontidão
permanente
para
responder
caso
o
aviso
de
elefante
à
solta
surja
na
tela
dos
guardas
florestais.
Mas
a
experiência
com
Kimani
registrou
muitos
sucessos,
e no
mês
passado
uma
nova
geocerca
foi
instalada
em
outra
região
do
país,
para
conter
um
elefante
conhecido
como
Mountain
Bull.
Moses
Litoroh,
coordenador
do
programa
de
elefantes
no
Serviço
de
Proteção
à
Fauna
do
Quênia,
espera
que
o
projeto
possa
ajudar
a
resolver
algumas
das
1,3
mil
queixas
que
o
serviço
recebe
ao
ano
sobre
ataques
de
animais
às
safras.
Os
elefantes
podem
ser
rastreados
com
o
software
Google
Earth,
o
que
ajuda
a
mapear
e
preservar
os
corredores
que
usam
para
se
mover
de
uma
para
outra
área
protegida.
O
rastreamento
também
ajuda
a
impedir
caça
clandestina,
já
que
os
guardas
florestais
sabem
para
onde
deslocar
seus
recursos
a
fim
de
proteger
os
valiosos
animais.
Mas
a
maior
vantagem
até
o
momento
vem
sendo
a
queda
no
número
de
ataques
a
plantações.
Douglas-Hamilton
diz
que
elefantes,
como
os
adolescentes,
aprendem
uns
com
os
outros,
de
modo
que
rastrear
e
controlar
um
animal
que
tenha
o
hábito
de
depredar
plantações
pode
gerar
mudança
de
hábitos
em
todo
um
grupo.
As
duas
filhas
pequenas
de
Mwasu
podem
brincar
sob
as
bananeiras,
nas
noites
quentes,
sem
que
a
mãe
precise
se
preocupar
com
os
elefantes.
"Podemos
conviver",
ela
diz.
"Os
elefantes
têm
o
direito
de
viver,
e
nós
também".
AP