Era uma das mais audaciosas idéias no boom da
Web 2.0 - a de que pessoas emprestariam dinheiro a outras
via
Internet, eliminando os intermediários, também conhecidos
como bancos tradicionais.
Nos três últimos anos, empresas iniciantes de Internet com
nomes como Prosper, Lending Club, Zopa e Loanio surgiram para
atingir esse objetivo. Juntas, elas estavam a caminho de superar
o total de US$ 150 milhões em empréstimos este ano, com alta de
50% ante o total de 2007, de acordo com o Online Banking
Report, um boletim de notícias financeiras.
Mas os chamados empréstimos diretos, que até recentemente
pareciam capazes de oferecer uma fonte confiável de dinheiro em
meio ao ambiente econômico calamitoso, também estão passando por
uma compressão. Na última quarta-feira, o maior dos sites de
empréstimos diretos dos Estados Unidos, o Prosper, suspendeu os
empréstimos novos entre seus usuários, alegando que precisava
esperar que a Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que
fiscaliza o regulamenta o mercado de valores mobiliários) avalie
seus balancetes. Os volumes mensais de empréstimos da empresa
vinham em queda desde que a crise de crédito se agravou, há
alguns meses.
A Prosper, que levantou US$ 40 milhões junto a empresas de
capital para empreendimentos e ainda não saiu do vermelho, agora
enfrenta a preocupante possibilidade de que os emprestadores
retirem o dinheiro do site, em lugar de esperar que a SEC
autoriza a retomada das transações, algo que pode levar meses.
"As autoridades regulatórias parecem desejar garantir que
compreendem exatamente o que está acontecendo nesse mercado
antes que ele cresça demais", disse Jim Bruene, editor do
Online Banking Report. "Isso com certeza desacelerará os
empréstimos diretos via Internet".
Existem outros sinais de problemas, igualmente. Na semana
retrasada, a Zopa desativou seu site norte-americano,
mencionando "as circunstâncias extremamente difíceis de crédito
ao consumidor". A Zopa continua a manter sites de empréstimos no
Reino Unido, Itália e Japão.
Os problemas desse setor nascente do mundo financeiro surgem
em momento particularmente ruim. Enquanto as instituições
tradicionais de empréstimo formam reservas e recusam crédito até
mesmo aos devedores mais consistentes, os sites de empréstimos
diretos poderiam servir como fonte alternativa de crédito, ou
concorrer por meio de taxas de juros mais baixas, em certos
casos.
Na Prosper, por exemplo, os juros sobre os empréstimos de
três anos com taxa fixa são determinados por um processo
semelhante a um leilão. Os interessados em empréstimos revelam
quanto querem, sua ficha de crédito e alguns detalhes pessoais
(histórias tristes e fotos de animais de estimação bonitinhos
podem ajudar). Os interessados em emprestar concorrem pelo
direito de fazê-lo, e os melhores juros oferecidos ganham.
A Prosper recebe honorários pelas transações bem sucedidas. O
fundador e presidente-executivo da Prosper, Chris Larsen,
falando na segunda-feira antes que sua empresa tivesse de acatar
uma ordem de silêncio inesperadamente imposta pela SEC, disse
que os empréstimos diretos remontam à era em que as pessoas
interessadas em fazer e receber empréstimos se conheciam
pessoalmente.
"Essa é a grande tendência agora; as empresas de Wall Street
estão voltando a se tornar bancos e procurando suas raízes",
disse. "Os empréstimos diretos são a forma mais simples de
atividade bancária que existe".
Mas a Prosper e suas rivais estão encontrando diversos
obstáculos modernos à prática. Em abril do ano passado, o
Lending Club, uma empresa iniciante da Califórnia que promove
empréstimos entre membros de redes sociais como o
Facebook, solicitou licença à SEC para criar um mercado
secundário, no qual os detentores de empréstimos a receber
poderiam negociá-los antes do prazo de vencimento.
De acordo com Renaud Laplanche, fundador e
presidente-executivo do Lending Club, a SEC surpreendeu a
empresa, questionando se ela não deveria ter se registrada como
agente de corretagem antes de começar a intermediar empréstimos.
Como resposta a essas dúvidas, o Lending Club suspendeu os novos
empréstimos no site por seis meses, frustrando os emprestadores,
muitos dos quais retiraram seu dinheiro.
"Se a situação fosse clara desde o começo, provavelmente
teríamos registrado a nova função enquanto nosso atual mercado
continuava funcionando", disse Laplanche. Na terça-feira, a SEC
credenciou o Lending Club e o site reabriu.
Na última segunda-feira, Larsen disse não acreditar que a
Prosper necessitasse seguir o mesmo complicado caminho,
apontando para o fato de que o Lending Club determina os juros
de seus empréstimos e financia por sua conta cerca de metade dos
empréstimos concedidos por intermédio do site.
Mas na terça-feira ele mudou de idéia e solicitou licença
para criar um mercado secundário, suspendendo as atividades na
Prosper.com. A empresa prefere não comentar, mencionando a ordem
de silêncio, mas a medida dolorosa sugere que ela também
considerou necessário obter o registro devido junto à SEC e
evitar qualquer ambigüidade legal que pudesse resultar em
problemas regulatórios.
Larsen disse antecipar um período difícil durante a crise
econômica em curso, mas considera os empréstimos diretos
bastante propícios em um período de recessão prolongada.
"De muitas maneiras, essa é uma boa oportunidade para que
demonstremos que podemos ser parte da solução", disse. "Gosto da
idéia de que os norte-americanos têm um lugar a que recorrer em
busca de crédito, e que não precisem esperar decisões de grandes
bancos e instituições sobre quando a crise vai acabar".
Tradução: Paulo Migliacci ME