Ashlee Vance
Conheçam Laura, a assistente pessoal virtual para aqueles que
não conseguem pagar uma versão humana. Construída por
pesquisadores da
Microsoft, Laura aparece na tela como uma cabeça falante.
Você pode falar com ela para pedir tarefas básicas, como agendar
reuniões ou programar vôos. O mais irresistível, entretanto, é a
habilidade de Laura de tomar decisões sofisticadas sobre as
pessoas à sua frente, julgando aspectos como suas roupas, se
elas parecem impacientes, sua importância e seus horários
preferidos para compromissos.
Ao invés de ser um terminal relativamente burro, Laura
representa uma sutil tentativa de recriar os aspectos mais
refinados do relacionamento que pode existir entre um executivo
e uma assistente no decurso de muitos anos.
"O que buscamos é o senso comum sobre etiqueta e o que as
pessoas querem", explicou Eric Horvitz, pesquisador da Microsoft
especializado em aprendizado de máquinas.
A Microsoft quer disponibilizar uma Laura para cada pessoa
que já sonhou em ter um assistente pessoal. Laura e outros
dispositivos semelhantes surgem para a Microsoft como um
potencial caminho alternativo ao
computador pessoal, cujas vendas estão estagnando.
A Microsoft e sua parceira de longa data,
Intel, têm acelerado sua exploração pelos novos campos da
informática. Semana passada, a Microsoft apresentou em sua sede
próxima a Seattle, na TechFest, sistemas de software
desenvolvidos para possibilitar jogos futuristas, aparelhos
médicos, ferramentas técnicas e até elevadores inteligentes. E
nesta semana, a Intel, maior fabricante de chips do mundo, vai
aprofundar seus planos de estender seu
chip de baixo consumo,
Atom, de laptops a carros, robôs e sistemas de segurança
doméstica.
Essa guinada é natural em um momento no qual as pessoas
demonstram que querem menos, não mais, de seus computadores.
Trabalhadores e consumidores se afastaram dos desktops velozes
nos últimos anos e, agora, mesmo seu interesse por laptops caros
começa a diminuir.
Os produtos de venda mais rápida no mercado de computadores
pessoais são netbooks, laptops compactos e baratos para lidar
com atividades básicas como checagem de e-mails e navegação na
internet, atividades que ocupam o tempo de computador da
maioria das pessoas.
É claro que Microsoft e Intel continuariam casadas com o
mercado de PCs no futuro próximo. A maior parte da receita anual
de US$ 60 bilhões da Microsoft e de US$ 38 bilhões da Intel vem
da venda de produtos para computadores tradicionais - uma
franquia tão poderosa que é conhecida no setor por Wintel. Mas
com consumidores desinteressados em computadores cada vez mais
rápidos, as duas companhias optaram por redefinir como deve ser
o último e melhor computador.
"O PC é ainda muito saudável, mas não está mostrando o tipo
de crescimento que dá vida a essas novas e excitantes áreas",
disse Patrick P. Gelsinger, vice-presidente sênior da Intel.
Ainda não sabemos se as companhias vão conseguir realmente
transformar protótipos como Laura em produtos reais. Tanto
Microsoft quanto Intel têm o hábito de se empolgar com visões
fantásticas e ambiciosas do futuro. Em 2003, a Microsoft previu
com alarde que logo estaríamos usando computadores de pulso, os
relógios Spot. No ano passado, a companhia encerrou
discretamente o projeto.
Nesse período, entretanto, a base tecnológica do silício pode
ter alcançado o nível que possibilitaria as esperanças das duas
companhias para a informática.
Por exemplo, Laura necessita de um chip de última geração com
oito núcleos de processamento para rodar os gráficos e a
inteligência artificial necessários para dar ao sistema
aparência e funcionamento realistas. Esse chip normalmente
estaria em um servidor de um centro de dados corporativo.
A Intel trabalha para levar poder de processamento semelhante
a chips minúsculos, que possam caber em qualquer dispositivo.
Craig Mundie, pesquisador-chefe e estrategista da Microsoft,
espera que em 2013 os sistemas computacionais sejam de 50 a 100
vezes mais poderosos que os atuais.
O mais importante é que os novos chips vão consumir quase a
mesma coisa que os atuais, permitindo funções como um assistente
pessoal com reconhecimento de voz e rosto dentro de um
escritório.
"Acreditamos que, em cinco anos, as pessoas vão poder usar o
computador para coisas inacessíveis atualmente", disse Mundie em
pronunciamento na semana passada. "Talvez seja essencial um
médico dentro de uma caixa, digamos, na forma de um computador
que possa ajudar em cuidados básicos não-graves, problemas
médicos para os quais você não tem nenhum apoio hoje."
Com essa
tecnologia em mãos, a Microsoft prevê um futuro repleto de
uma variedade de aparelhos melhor equipados para lidar com fala,
inteligência artificial e processamento de bancos de dados
gigantescos.
Até agora, a Microsoft já desenvolveu sistemas de projeção
que permitem a manipulação de grandes imagens em vídeo com as
mãos. Usando essa tecnologia, os pesquisadores da Microsoft
projetaram uma imagem do universo conhecido em uma cúpula de
papelão caseira, onde, com um toque, podiam expandir a imagem da
Via Láctea ou atravessar a superfície de Júpiter.
"Você pode ligar isso a seu Xbox e ter seu próprio sistema de
projeção de jogo", disse Andrew D. Wilson, pesquisador sênior da
Microsoft. Professores podem usar esse tipo de tecnologia para
dar vida a suas aulas.
A tecnologia por trás de Laura pode ser usada em várias
outras áreas. Horvitz previu um elevador que detecta quando se
está no meio de uma conversa e mantém sua porta aberta até que
ela termine.
A Intel, por sua vez, confirmou que mais de mil produtos
estão sendo desenvolvidos para seu próximo chip Atom, que é
orientado para sistemas de computador não-tradicionais. Segundo
Gelsinger, a Intel prevê um mercado de aparelhos inteligentes
potencial de US$ 10 bilhões, crescendo para US$ 15 bilhões até
2015.
As fortunas que a Microsoft e a Intel acumularam com seus
negócios de PCs permitem a elas a rara oportunidade de explorar
esse amplo rol de produtos futuristas. E caso seus sonhos mais
loucos se tornem realidade, é possível que um dia os
consumidores associem o apelido Wintel mais a elevadores
inteligentes do que a desktops.
Tradução: Amy Traduções
The New York Times