Jill Colvin
Quando Steve Hamrick deixou seu último emprego, como gerente em uma produtora de software, havia pelo menos 25 mensagens que ele não tinha ouvido em sua caixa de recados. E isso sem contar as ligações não atendidas em seu celular e em sua linha fixa doméstica.
Não é que ele não goste de falar. Mas com a cascata de mensagens que recebe por e-mail, no celular e no Facebook, Hamrick, 29, que se descreve como portador de "fobia a mensagens de voz", disse que encontrou modos melhores de manter contato.
"Eu tinha de deixar alguma coisa de lado, e no meu caso a escolha foram as mensagens de voz", disse. "É como cortar certas formas de comunicação para abrir espaço a outras".
Quando foi introduzido, no começo dos anos 80, o serviço de correio de voz era alardeado como invenção miraculosa - um modo de elevar a produtividade nos escritórios e de organizar a vida nas residências mais movimentadas. Os roteiristas de Hollywood logo incorporaram o recurso às suas tramas: heroína chateada chega em casa e vê a luz vermelha de sua secretária eletrônica piscando; nela, uma mensagem de um homem apaixonado implora por nova chance de consertar as coisas, e o amor triunfa.
Mas na era da gratificação instantânea, o esforço de apertar o botão e ouvir a mensagem - ou, pior, ligar para um serviço e digitar um código - parece demasiado.
Muita gente detesta o processo ou, como Hamrick, o evita completamente, o que suscita a questão: o correio de voz está se tornando obsoleto?
"No passado, esse serviço era útil", diz Yen Cheong, 32, que trabalha como relações públicas em uma editora de Nova York e hoje praticamente só usa e-mails e mensagens de texto. No cálculo dela, verificar uma mensagem de voz requer entre sete e 10 passos, enquanto verificar um e-mail requer de zero a três.
"Se você deixa uma mensagem de voz, tenho de ligar para a caixa de mensagens, digitar meu código. Depois que ouço a mensagem, preciso do número do telefone; tenho de anotá-lo, e usualmente preciso ouvir a mensagem de novo para isso", ela diz, simulando exaustão.
Tim Kassouf, 24, de Baltimore, que se declara "inimigo declarado das mensagens de voz", contou que tinha 68 mensagens, 62 das quais não ouvidas, na caixa de mensagens de seu celular. Scott Taylor, 41, gerente sênior em uma empresa de comércio eletrônico em Phoenix, diz que as mensagens de voz "são um meio totalmente ineficiente de comunicação, uma coisa antiga demais".
Como muita gente, a mensagem de correio de voz de Taylor alerta as pessoas que tentam contactá-lo a ligar para seu celular ou enviar um e-mail, se têm pressa de falar com ele.
É um bom conselho. Pesquisas demonstram que responder a mensagens de voz demora mais que a outras formas de comunicação.
Dados da uReach Technologies, que opera os sistemas de mensagens de voz da Verizon Wireless e outras operadoras de telefonia móvel, demonstram que mais de 30% das mensagens de voz não são ouvidas por três ou mais dias, e que mais de 20% das pessoas que têm mensagens em suas caixas de entrada "raramente ligam" para verificá-las, diz Saul Einbinder, vice-presidente de marketing e desenvolvimento de negócios da uReach.
Em contraste, 91% das pessoas com menos de 30 anos de idade respondem a mensagens de texto em prazo de uma hora, e é quatro vezes mais provável que respondam a elas do que a mensagens de texto em prazo de minutos, de acordo com um estudo que a Opinion Research conduziu para a operadora de telefonia móvel Sprint, em 2008. Até mesmo as pessoas de mais de 30 anos têm duas vezes mais probabilidade responder em minutos a uma mensagem de texto do que a uma mensagem de voz, constatou o estudo.
Não existem estudos comparativos sobre o volume de mensagens de voz que os norte-americanos utilizam hoje, em comparações a períodos passados, mas se essa tecnologia parece destinada à obsolescência - como muitos especialistas em comunicação suspeitam -, o que propele a tendência são os hábitos dos jovens.
As pessoas de menos de 25 anos costumam responder às mensagens de amigos e familiares sem verificar o conteúdo da mensagem primeiro. Graças à tecnologia dos celulares, elas podem ver quem ligou e retornar a ligação diretamente, sem primeiro verificar a caixa de mensagens. "Você não recebeu o recado?", perguntam os pais. "Não", dizem os filhos, "mas vi que você ligou".
Para atender às pessoas que não têm paciência com as mensagens de voz, as operadoras de telefonia móvel estão lançando novas alternativas em formato texto que prometem tornar a comunicação mais fácil e mais eficiente.
A mais popular é o Visual VoiceMail, que vem como padrão no iPhone e está disponível outros celulares inteligentes, como o Samsung Instinct e o BlackBerry Storm. O aplicativo exibe mensagens em uma caixa de entrada visual, como a do e-mail, e permite que os usuários escolham que mensagem ouvir, na ordem que preferirem.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times