Preocupada com suas perspectivas de carreira, ela pediu a um amigo que retirasse uma foto em que ela bebia e usava um vestido justo. Quando a responsável por supervisionar seu estágio pediu para ser adicionada no Facebook, Liu concordou, mas limitou o acesso à sua página. "Quero que as pessoas me levem a sério", disse.
O senso comum sugere que todos aqueles com menos de 30 anos se sentem confortáveis em revelar cada faceta de suas vidas na internet, de sua pizza favorita a seus parceiros sexuais mais frequentes. Mas muitos membros da geração que conta tudo estão repensando o que significa viver em exposição.
Embora a participação nas redes sociais ainda seja forte, uma sondagem divulgada no mês passado pela Universidade da Califórnia, Berkeley, descobriu que mais da metade dos jovens adultos pesquisados estava mais cautelosa com sua privacidade do que cinco anos antes - espelhando o número de pessoas na idade de seus pais ou mais velhas com preocupação semelhante.
Porém, eles são mais aplicados do que adultos mais velhos na tentativa de se proteger. Em um novo estudo a ser publicado este mês, o Pew Internet Project descobriu que pessoas na faixa dos 20 anos exercem mais controle sobre sua reputação digital do que adultos mais velhos, apagando mais vigorosamente postagens indesejadas e limitando informações sobre si. "Interação social online exige vigilância, não apenas sobre aquilo que você posta, mas também sobre aquilo que seus amigos postam sobre você", disse Mary Madden, experiente especialista de pesquisa que supervisiona o estudo do Pew, que analisa o comportamento na internet. "Agora, você é responsável por tudo."
A erosão da privacidade se tornou uma questão tensa para usuários ativos de redes sociais. Na semana passada, o Facebook se apressou para consertar uma falha de segurança que permitia usuários acessar informações supostamente privadas de seus amigos, inclusive bate-papos pessoais.
Sam Jackson, terceiro-anista de Yale e estagiário na Google que começou um blog aos 15 anos, afirma ter aprendido a não confiar em nenhuma rede social para guardar sua informação privada. "Se olhar para trás, existem coisas de quatro anos atrás que eu provavelmente não diria hoje", disse. "Estou me censurando muito mais. Tento ser honesto e direto, mas presto atenção agora em com quem estou falando."
Ele aprendeu como conviver com a exposição sobretudo por tentativa e erro, criando uma teoria própria: camadas concêntricas de compartilhamento. Sua conta no Facebook, que mantém desde 2005, é estritamente pessoal. "Não quero que as pessoas saibam quais filmes eu aluguei", disse. "Se estou partilhando algo, quero ter certeza do que está sendo partilhado com os outros."
A desconfiança com relação às intenções dos sites sociais parece ser generalizada. Ao sondar mil pessoas por telefone, o Centro de Direito e Tecnologia de Berkeley, na Universidade da Califórnia, descobriu que 88% das pessoas entre 18 e 24 anos pesquisadas em julho disseram que deveria haver uma lei exigindo que websites apagassem informações armazenadas. E 62% disseram querer uma lei que desse às pessoas o direito de saber tudo que um website sabe sobre eles.
Essa falta de confiança se transforma em ação. No estudo do Pew, a ser divulgado em breve, pesquisadores entrevistaram 2.253 adultos no final do último verão americano e descobriram que pessoas entre 18 e 29 anos estão mais propícias a monitorar suas configurações de privacidade do que os adultos mais velhos. Elas também apagam comentários ou removem seus nomes de fotos para que não possam ser identificadas com maior frequência.
Adolescentes mais novos não foram incluídos nos estudos e podem não ter as mesmas preocupações com a privacidade. Mas indícios casuais sugerem que muitos deles não têm experiência o bastante para compreender as desvantagens do compartilhamento excessivo.
Elliot Schrage, que supervisiona a estratégia de política pública e comunicação global do Facebook, afirma ser uma boa coisa que jovens repensem o que colocam online. "Não estamos forçando ninguém a usá-lo", disse sobre o Facebook. Mas, ao mesmo tempo, companhias como Facebook possuem um incentivo financeiro em fazer amigos compartilharem o máximo possível entre si. Isso porque quanto mais pessoal for a informação coletada pelo Facebook, mais valioso o site se torna para os anunciantes, que podem garimpar os dados para oferecer anúncios mais direcionados.
Há duas semanas, o senador democrata Charles Schumer (Nova York) requereu que a Comissão Federal de Comércio analisasse as políticas de privacidade das redes sociais para assegurar que os consumidores não estejam sendo deliberadamente confundidos ou enganados. A medida foi motivada por uma mudança recente nas configurações do Facebook que obrigou mais de 400 milhões de usuários a escolher a opção de não compartilhar informação privada com websites de terceiros, ao invés de oferecer uma opção a favor de compartilhar informação dessa forma, uma mudança que confundiu muitos internautas.
Schrage, do Facebook, disse: "Tentamos diligentemente fazer as pessoas entenderem as mudanças". Em muitos casos, jovens adultos estão ensinando uns aos outros sobre privacidade.
Liu não está policiando apenas seu comportamento, mas também o de sua irmã. Liu enviou uma mensagem de texto à sua irmã de 17 anos alertando-a para retirar a foto de um rapaz sentado no colo dela. Por quê? A irmã quer participar de um teste para o seriado "Glee", e Liu não queria que os produtores do programa vissem a foto. Além disso, e se sua irmã se tornar uma celebridade? "Vai ficar uma imagem que, se você ficar famosa, qualquer um pode procurar e enviá-la a um site de fofocas", disse Liu.
Andrew Klemperer, 20 anos, diz que foi um colega seu da Universidade de Georgetown que o alertou sobre as implicações da recente mudança no Facebook - por meio de uma atualização de status no (onde mais?) Facebook. Agora, ele está mais atento ao monitoramento de suas configurações de privacidade e mais propício a alertar outros.
Helen Nissenbaum, professora de cultura, mídia e comunicação da Universidade de Nova York e autora de "Privacy in Context", um livro sobre compartilhamento de informações na era digital, disse que os adolescentes se tornam naturalmente mais cuidadosos com sua privacidade à medida que chegam na idade adulta, e que a frequência com que as empresas mudam as regras de privacidade lhes ensinou a ter cautela.
Essa foi a experiência de Kanupriya Tewari, estudante de 19 anos se preparando para se especializar em medicina na Universidade Tufts. Recentemente, ela procurou limitar as informações que um amigo pudesse ver no Facebook e acabou achando o processo muito difícil. "Passei quase uma hora tentando adivinhar como limitar meu perfil e não consegui", disse. Ela desistiu porque tinha um dever de casa de química, mas promete descobrir depois das provas finais. "Não acho que eles vão me proteger", disse. "Eu tenho de me proteger