O
bug do milênio
Eis que o céu se rasgou em chamas de onde surgiram
os quatro dígitos do apocalipse... Com apenas
algumas décadas de existência, os anos para os
computadores jamais precisaram mais do que dois
dígitos para mensurar o tempo. E como a primeira
regra do aproveitamento prega que jamais devemos
criar algo novo se o velho continua a funcionar,
ninguém mexeu em uma linha sequer do antigo código
COBOL para as datas.
Graças a esse comodismo, à meia-noite do dia 1º de janeiro do ano 2000, todos os bancos de dados do mundo interpretariam que havíamos voltado para o ano 1900. Todos os sistemas entrariam em colapso, controles essenciais parariam de funcionar e ninguém saberia o que poderia vir depois. A data chegou e, além da dor de cabeça, nenhum cataclismo tecnológico ocorreu.
Em 99 (ou melhor, em 1999), muitas empresas de todo o mundo investiram pesado na atualização de seus sistemas e, mesmo para os que não se alarmaram com a situação, nada de grave ocorreu. Segundo especialistas, a temível virada foi positiva para muitas companhias, pois enfim atualizaram seus sistema de dados.
A terceirização de serviços na data também marcou a ascensão de mercados tecnológicos até então pouco expressivos, como o indiano. Coincidências à parte, alguns meses após a virada, era fundado o maior portal de tecnologia e downloads do Brasil: o Baixaki.
Barebones, desktops compactos
Olhando para trás, não é difícil perceber que a
evolução dos componentes eletrônicos tende tanto
para o aumento de desempenho quanto para a redução
de tamanho. Apostando nessa ideia, a Shuttle
Computer foi a primeira a lançar um desktop
consideravelmente menor e com formato cúbico.
Devido ao seu sucesso, poucos anos depois, o mercado estaria coberto de computadores de menores dimensões, alguns contando até com configurações entusiastas. Por um fértil período para o comércio, o sonho de consumo de muitos usuários era economizar volume na mesa de trabalho com um desses.
Ironicamente, o mercado parece não encontrar mais espaço para os barebones, resultando em prejuízo para diversas empresas que investiram no conceito e no acúmulo de peças que jamais foram vendidas. Atualmente, quem procura por uma máquina de alto desempenho parece não se incomodar com um grande gabinete. Já entre os modelos compactos, a nova febre diz respeito aos computadores all-in-one, que eliminam a figura do desktop.
Gateway
Se lançar uma nova onda (fadada ao fracasso) levou
os barebones à extinção, não se adaptar ao mercado
acabou ruindo uma das maiores empresas de computador
dos EUA. Em 2004, a Gateway possuía 25% dos volumes
de venda de PCs no território norte-americano e era
a terceira maior empresa do segmento, atrás apenas
da Dell e da HP. Três anos depois, fora comprada
pela Acer pela bagatela de US$ 710 milhões para
cobrir suas dívidas.
Dreamcast
O lançamento do Dreamcast foi um sucesso absoluto,
esgotando todas as 150 mil unidades postas à venda
no Japão e as 500 mil nos EUA no dia de seu
lançamento. O console que inaugurou a sexta geração
contava com suporte a jogos pela internet, os
melhores gráficos até então e diversas outras
tecnologias únicas para a época. Foi um verdadeiro
sonho para uma geração inteira de gamers, mas que em
pouco tempo se tornou um pesadelo para a SEGA.
Depois de perder investidores, o videogame fora lançado às pressas para faturar antes dos concorrentes. Com a chegada dos demais consoles da mesma geração, principalmente o Sony Playstation 2, o hardware do Dreamcast acabaria em grande desvantagem. A mídia ótica era a principal delas, enquanto os demais adotaram o DVD como formato padrão, o console desenvolveu um formato próprio com apenas 1 GB de capacidade (o GD-ROM).
Logo, o volume de vendas do aparelho e de seus discos caiu a tal ponto que a própria SEGA acabou se aposentando do mundo do entretenimento eletrônico. Descontinuado na América em 2001 e em 2006 no Japão, o desenvolvimento independente de jogos continua graças a um kit lançado pela Microsoft. Algumas comunidades de fãs cultuam o Dreamcast, desenvolvendo aplicativos, emuladores e comunidades para o console.
Windows Vista
Em 30 de janeiro de 2007, o mundo conhecia o último
fruto da maior empresa de softwares do mundo. O
Windows Vista foi criado com o intuito de aumentar a
segurança do mais difundido sistema operacional, ao
mesmo tempo em que oferecia um visual deslumbrante
com o efeito Aero.
A primeira decepção veio quando os usuários descobriram que as melhorias na segurança não eram assim tão grandes. Os requisitos para rodar o sistema também eram altos e acabaram impedindo o upgrade de muitas máquinas. Finalmente, a quantidade de memória RAM exigida pelo Vista prejudicou seu desempenho em máquinas menos robustas.
O resultado foi uma grande quantidade de usuários optando pelas versões anteriores do sistema e uma quantidade imensa de reclamações nos telefones da Microsoft. Somente com a chegada de seu sucessor é que a sombra do Vista pareceu se diluir. Segundo dados da empresa, o número de usuários que migram diretamente do XP para o 7 é maior do que o de usuários que optaram pelo Vista.
HD DVD
O formato foi lançado comercialmente dois anos antes
do que o Blu-ray, contava com apoios de peso como
Microsoft, Toshiba e Universal Pictures, seus
aparelhos eram muito mais baratos, possuía menus
interativos, função quadro por quadro e conteúdos
baixáveis da internet. Mesmo assim, o HD DVD perdeu
a guerra de mercado para o Blu-ray. Por quê?
Alguns dizem que o espaço extra do BD foi o fator decisivo, outros defendem que a quantidade maior de parceiros com que o Blu-ray contava garantiu sua vitória. Mas a resposta mais aceita não provém do cinema, mas sim do mundo dos games: Playstation 3.
No início da disputa, ambos os players eram ausentes no mercado, despertando a incerteza dos desenvolvedores. Como um dos principais patrocinadores do formato, a Sony teve a grande ideia de incluir a mídia em seu novo console. Sucessor de um dos videogames mais vendidos da história, em pouco tempo o Playstation 3 e o Blu-ray player estariam na casa de muitos espectadores.
Especialistas afirmam que, por cerca de dois anos, a venda de cada PS3 dava prejuízos à Sony e, mesmo assim, faziam dele o console o mais caro da geração. O resultado veio em 2008, quando os últimos estúdios deixaram de apoiar o HD DVD para se dedicar ao Blu-ray. Há quem afirme que o principal erro da Microsoft foi não adotar o formato para o Xbox 360, o console utiliza um drive de DVD comum e sofre com as limitações de espaço.
PDAs
Também conhecidos como Palm Tops, os PDAs (Personal
Digital Assistants) ganharam vida nos anos 90 e se
tornaram populares entre executivos na primeira
metade da década seguinte. Em 2005 os PDAs possuíam
Wi-Fi, Bluetooth, grande compatibilidade de formatos
multimídia, funções touchscreen e processadores
superiores a qualquer celular da época.
Mas em 2006, os smartphones passaram por uma evolução incrível e incorporaram a maleável conectividade 3G. Os desenvolvedores perceberam que era possível unir as funcionalidades de um PDA em um celular. Já as companhias telefônicas, que poderiam subsidiar os aparelhos para lucrar com os serviços.
Ao final de 2007, o Palm Treo com seus anos de estrada atingia a marca de 690 mil unidades vendidas, enquanto o Blackberry já havia ultrapassado os 3 milhões de aparelhos. Até mesmo o recém-lançado iPhone já ultrapassava 1 milhão de aparelhos em operação. Diga-se de passagem, ninguém deseja carregar um aparelho grande a mais se um único smartphone supre todas as suas necessidades.
Segway
O veículo elétrico tinha a proposta de substituir os
automóveis por um meio de transporte limpo para os
meios urbanos. Não se engane com sua aparência
simples, o desenvolvimento do Segway custou mais de
US$ 100 milhões para aperfeiçoar sua autonomia e
equilibrar automaticamente o condutor.
Segundo previsões da companhia, o Segway seria o aparelho a bater a marca de 1 bilhão de unidades vendidas no menor período de toda a história. Contudo, desde seu lançamento, em 2001, até o final de 2007, o veículo alcançou apenas a marca de 30 mil unidades.
O preço de US$ 3 mil a US$ 7 mil por veículo parece um tanto alto para um veículo de visual desengonçado, porém que almeja ser consumido em massa. Alguns países exigiram habilitação especial para os condutores do Segway e proibiram seu trânsito em vias públicas, comprometendo ainda mais suas vendas. Contudo, ele continuará a ser utilizado por policiais em filmes de comédia.
Iridium
Alguém se lembra da Iridum, aquela companhia
telefônica que prometia celulares por satélite
capazes de funcionar em qualquer região do planeta?
O conceito era simplesmente revolucionário e era
motivo de destaque na publicidade mundial há cerca
de 10 anos.
Com o apoio da Motorola, a Iridium gastou cerca US$ 5 bilhões construindo e lançando os 66 satélites necessários para o serviço. Para cobrir o investimento, previa-se que 500 mil aparelhos estariam operantes em 1999. Contudo, o número de usuários não passou de 10 mil.
Além de US$ 3 mil por cada aparelho, o custo das ligações era de US$ 5 dólares. E como o aparelho dependia da comunicação com satélites para operar, não era possível fazer ligações dentro de carros em movimento, de prédios e de muitas áreas urbanas. Um preço tão elevado para um sinal instável não atraiu muitos clientes.
Na mesma época, as companhias de telefonia móvel cresciam amplamente nos países desenvolvidos, garantindo serviços de qualidade a preços muito mais acessíveis. Tudo isso fez com que o Iridium se tornasse uma das 20 maiores falências de toda a história dos Estados Unidos.
Por que a internet vai fracassar?
Calma, caro leitor, essa predição não foi escrita e
muito menos defendida pelo Baixaki. Na verdade, caso
a previsão que Clifford Stoll publicou em 1995 na
Newsweek estivesse correta, este site nem
estaria no ar neste exato instante.
Nela, o autor defende que o crescimento exponencial da rede de computadores entraria em colapso dentro de alguns anos. Fato que, felizmente, não se concretizou, uma vez que a infraestrutura da web evoluiu junto com o crescimento da internet.
Outro ponto defendido pelo autor era de que o ser humano é uma criatura social e, portanto, jamais trocaria os estabelecimentos físicos pelos serviços e transações virtuais. O que Stoll não previu foi a adaptabilidade dos homens diante das novas mídias. Em vez de reduzir, a internet amplia o circulo social dos usuários de um limitado espaço físico ao seu redor para comunidades online com milhares pessoas em todo o mundo.
Ao passo em que o crescimento da internet pode ser vertiginoso, ela jamais será capaz de se autodestruir. Em vez de ser consumida como os demais recursos naturais do nosso planeta, a previsão falha de Clifford Stoll evidencia que a tecnologia serve de matéria-prima para a própria tecnologia.
Baixaqui