Os livros impressos talvez estejam a caminho da
escassez. Alguns dizem que talvez da própria
extinção. Entre os argumentos que reforçam a tese de
quem aponta os livros eletrônicos como protagonistas
da próxima "revolução" na internet está a
estatística de vendas de livros nos Estados Unidos.
Segundo a Associação Americana de Editores, as
vendas de e-books em valor foram maiores que as dos
livros convencionais no mês de fevereiro. A
diferença já é de quase US$ 10 milhões a favor das
versões eletrônicas (US$ 90 milhões contra US$ 81,2
milhões dos livros de papel). E mais: o crescimento
dos e-books comparado ao ano passado foi de 202,3%.
Mas além dos Estados Unidos, a 'revolução' também
acontece em outros países. Nações emergentes têm
tentado atrair cada vez mais investimentos em
tecnologia ou incentivar o consumo de aparelhos
eletrônicos. No caso do Brasil, o Senado já aprovou
a isenção de impostos para as obras eletrônicas no
País. A iniciativa pode ajudar a dar fim a uma
grande reclamação de leitores: o preço dos livros.
Outra medida importante é a fabricação do iPad no
Brasil - anunciada neste ano. Ela pode também
baratear o custo de tablets dependendo da tributação
que o produto terá. Este fator pode contribuir ainda
mais para a popularização dos e-books por aqui, já
que o iPad, a exemplo de outros tablets, oferece
suporte para a leitura de livros digitais.
Entre as vantagens do e-book está o custo menor
por não haver necessidade de impressão. Outra é a
facilidade para comprar online. O livro está
disponível imediatamente após a aquisição, não
precisa ser entregue por uma transportadora ou
correio.
Distante ou não? Ameaça ou oportunidade?
Apesar dessas grandes mudanças, muitas pessoas não
creem que os livros comuns sejam substituídos ou que
exista alguma ameaça contra os impressos. Por
exemplo, para Francisco Goyanes, dono da livraria
independente Cálamo de Zaragoza, na Espanha, a médio
prazo os livros digitais não são uma ameaça, mas sim
uma oportunidade.
"Temos que pensar que o livro eletrônico é um
aliado. Nós, os livreiros independentes, temos que
pensar somente como oferecer esses livros", afirmou
Goyanes à BBC.
A opinião de Goyanes é de que o mercado de livros
impressos ainda é muito maior e, por isso, é preciso
continuar atuante nele. Os dados comprovam a opinião
do comerciante espanhol. Cerca de 82% das edições
vendidas no mundo ainda são impressas.
Best-sellers eletrônicos
Muitos autores atualmente nem sabem o que é ter uma
obra publicada da maneira tradicional. A
norte-americana Amanda Hocking, 26 anos, é um
exemplo. Ela ganhou mais de US$ 1 milhão somente com
vendas de e-books na Amazon. Já são 19 livros de
autoria de Amanda à venda - e somente na internet.
Ela leva 70% da receita dos livros que produz, o que
já pode ser considerado positivo para a classe
artística em geral. No caso da americana, isso não é
pouco: ela já vendeu mais de 900 mil cópias.
O escritor espanhol Fernando Trujillo Sanz é
outro exemplo de boa receptividade na internet. Sanz
publicou sua primeira obra digital em junho de 2010
e já vendeu sete mil exemplares.
Pirataria
A crescente presença de livros eletrônicos trouxe
também uma grande dor de cabeça para escritores e
editoras: a pirataria. Autores ingleses já chegaram
a criar uma forte campanha pedindo para que as
pessoas não façam downloads de livros digitalizados.
Uma das maiores vítimas foi o inglês David Hewson,
autor de Fallen Angel. A obra do britânico
foi lançada em fevereiro e, em menos de uma semana,
estava disponível no torrent. A agente
literária de Hewson, Carole Blake, diz que todos
dias sem falhar o Google manda alertas de novas
edições pirateadas de Hewson. "É uma guerra de
muitos fronts", afirmou Blake ao jornal The
Guardian.
Preferência
Muitos leitores assíduos de livros estão reclamando
de ler pela internet ou por meio de novos
dispositivos como o Kindle, da Amazon. Essa, aliás,
era a única reclamação do escritor gaúcho Moacyr
Scliar, quanto aos livros eletrônicos. Ele não
considerava amigável folhear as páginas em uma tela
de tablet.
No entanto, pesquisas já dizem que ao menos os
jovens estão acostumados. No Reino Unido, estudo
realizado somente com maiores de 18 anos, concluiu
que 58% dos britânicos já preferem os e-books aos
impressos. Além disso, 67% desses leitores disseram
que a preferência é por ser mais fácil ler no Kindle
(leitor eletrônico da Amazon).
Apesar da citada preferência, a pesquisa
realizada pelo site myvouchercodes.co.uk, revela
ainda que os ingleses também não estão lendo muito.
Somente 26% dos 1.642 entrevistados tinham lido um
livro nos últimos três anos.
No Reino Unido, a Amazon vende mais livros
eletrônicos que em papel. A cada 115 livros digitais
vendidos, outros 100 físicos são comercializados na
terra da Rainha pelo site de compras.
BBC