Se há uma palavra que sempre
resumiu bem o espírito
empresarial do Google, essa
palavra é inovação. E uma das
marcas desse conceito é o Google
Labs, projeto que mostra novas
ferramentas e tecnologias
desenvolvidas pelos funcionários
do Google e que são postos à
prova para que os usuários
testem e enviem sua opinião para
a empresa. Na quarta-feira, a
companhia decidiu abandonar o
serviço, o que levanta a dúvida:
onde fica a tão falada inovação
do gigante das buscas? Para o
diretor da Bites, empresa de
consultoria em internet, Manoel
Fernandes, o Google passa
atualmente por um amadurecimento
do seu modelo de negócios. "O
Google está deixando de ser o
Google para ser a Microsoft,
focada no que dá resultado, no
que dá mais dividendos, mas
perdendo um pouco de contato com
o que é o pulso da internet, a
experimentação", disse ele em
conversa com o
Terra.
Inúmeros sucessos do Google
começaram assim: Google Maps,
Reader e Groups são exemplos
disso, ideias inovadoras postas
à prova no Labs. Mas mesmo com
tantos exemplos de sucesso - e
uma fila de mais de 50 outras
ferramentas aguardando para
virarem produtos oficiais no
portifólio da empresa -, o
serviço chega ao fim, como parte
da estratégia da companhia de
priorizar esforços em produtos
realmente importantes. Uma das
práticas mais conhecidas do
Google é o de permitir que
funcionários usem 20% do
expediente para trabalharem em
projetos inovadores. Mas o que
mudou nesse meio tempo? "O
Google percebeu que quando era
monopolista e majoritário, fazer
experimentos fazia sentido. Hoje
eles pensam que não podem mais
dispersar energia em um momento
tão importante, em que devem
proteger seus flancos para não
serem atacados e perder mais
espaço", afirma Fernandes.
Segundo o analista, as
maiores ameaças para o Google
hoje são o Facebook e uma nova
realidade da internet: as
pessoas precisam cada vez menos
de buscadores. "O usuário pode
consultar os contatos na própria
rede social e ter um resultado
muito mais confiável do que por
uma busca no Google", afirma.
Para ele, o Google vê a
necessidade de construir um
produto forte. "Hoje quando o
usuário quer navegar na
internet, ele vai de uma ilha a
outra. O Facebook é uma ilha, o
Quora - site de perguntas e
respostas - é uma ilha, mas o
Google é um grande oceano, e
precisa construir essa ilha, e
está buscando ser parte dessa
ilha", diz.
O foco em novos produtos
parece ser realmente o motivo do
encerramento do Google Labs. Em
nota oficial, o vice-presidente
de Pesquisa e Infraestrutura de
Sistemas da empresa, Bill
Coughran, afirmou que "apesar de
termos aprendido muito lançando
uma grande quantidade de
protótipos no Labs, acreditamos
que um foco maior é crucial se
quisermos aproveitar ao máximo
as oportunidades que surgirem
pela frente". O fim do Labs não
significa o abandono total dos
produtos. Segundo a companhia, o
Google vai aposentar alguns dos
experimentos e manter outros
funcionando, incorporando-os a
outras áreas da empresa, mas não
divulgou ainda que produtos
serão esses. Por outro lado, a
companhia afirmou que não há
planos para mudar as
experimentações dentro do Gmail
ou do Maps. "Vamos continuar a
experimentar novas
funcionalidades em cada um de
nossos produtos", afirmou a
companhia em nota enviada ao
Terra.
Para o diretor da Bites, a
nova estratégia coloca o Google
em risco. "Se você não
experimentar, não descobre
oportunidades, como já foi
feito. Isso deixa o Google, como
empresa, mais focada, mas menos
inovadora", disse. E essa é a
principal dúvida do analista. "A
minha pergunta - e eu não tenho
essa resposta - é onde o Google
irá inovar. A fome por inovação
sempre foi uma característica do
Google. A área para isso era o
Labs, e agora? Para que setor
vai isso?", questiona. Em nota
ao Terra, o Google
afirmou que continuará inovando,
mas em escala maior. "Em vez de
dispersar nossos esforços
através de diversos produtos
isolados, queremos refocar nossa
força em projetos de impacto
global, em apostas ainda
maiores. Nosso objetivo é inovar
mais rápido do que nunca, e com
ainda mais impacto".