Um novo tipo de droga está se espalhando pelo mundo. Mas pelo mundo virtual. As e-drogas, ou drogas digitais, nada mais são do que sons - ruídos altos, bipes, guinchos, sem nenhuma pausa - que prometem recriar sensações auditivas no cérebro para imitar o efeito de drogas tradicionais. Mas será que isso funciona? Alguns especialistas estão colocando em xeque a eficácia dessas 'novas drogas'.
Segundo o site do jornal espanhol El País, o especialista em psicologia de áudio e música Nick Ashton criou um site - o I-Doser - que oferece, por US$ 12, um pacote com uma série de sons que simulam o efeito de substâncias como absinto, cocaína e ecstasy. Mais de 2 milhões de pessoas já baixaram as drogas digitais, propagadas principalmente pelas redes sociais. Um advogado de 23 anos contou ao jornal que resolveu provar uma dessas drogas. Com uma toalha vermelha sobre os olhos, ele aguentou 30 minutos de um som "quase insuportável" para testar o efeito do som que simularia a cocaína. Ele diz que nunca usou a substância real, se considera pouco sugestionável e, apesar de ter imaginado um homem fugindo na chuva do som de uma broca, a e-droga não fez efeito.
O membro da Sociedade Espanhola de Neurologia Carlos Tejero Juste afirmou ao El País que nem mesmo fazendo um estudo com várias pessoas submetidas a esses sons seria possível provar sua eficácia. Esses sons binaurais (como são cientificamente chamados) podem deixar algumas pessoas mais animadas, mas de forma alguma causam o mesmo efeito que as drogas, segundo ele, que diz ainda que cada pessoa reage a esses sons de forma diferente. "Depende da sugestão, do humor do momento. Existem muitas variações e pouco consenso", afirmou ao jornal espanhol.
O professor de neurologia na Universidade de Yale Steve Novella, tranquiliza as famílias de "usuários" de e-drogas: "Não se preocupem, sons binaurais não têm nenhum efeito", afirmou. Juste concorda, e diz que é "um equívoco" chamar esses sons de drogas.
Por outro lado, os especialistas não negam que alguns sons podem criar sensações. "Ninguém pode negar que os sons podem gerar um estado de espírito", afirmou Fernando Perez del Rio, psicólogo da associação Hombre Burgos, dedicada à prevenção, tratamento e reabilitação de toxicodependências, que afirma que essas "drogas" se encaixam na sociedade atual, de culto ao corpo. "Há um culto muito pronunciado ao corpo, não queremos nos destruir", afirmou ao El País.
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