Sem criticar diretamente a diretriz governamental, tanto
Antunes quanto Maturana alertam para a importância de se
pensar também no trabalhador. “Não é verdade que o
incremento tecnológico traz melhores condições de trabalho.
Frequentemente ele intensifica, frequentemente ele precariza.
A tecnologia introduzida no mundo produtivo e de serviços
visa ao aumento de produtividade e acaba tendo uma
tendencialidade para ou desempregar ou intensificar ou
precarizar [o trabalho]”, diz Antunes, que é professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor dos
livros Adeus ao Trabalho? (Editora Cortez, 1995) e Os
Sentidos do Trabalho (Editora Boitempo, 1999).
“A
tecnologia está aí para desenvolver o aspecto econômico da
atividade. Nós não estamos tendo uma tecnologia sendo
desenvolvida para a melhoria da saúde e a segurança do
trabalho ou para o conforto do trabalhador”, completa
Maturana, da Procuradoria Regional do Trabalho 15ª Região,
responsável por 599 municípios do estado, exceto a Grande
São Paulo e a Baixada Santista.
Um balanço feito para a Agência Brasil, por aquela
procuradoria, revela que a maioria dos inquéritos sobre
condições de trabalho contra empresas, na comparação do
período entre janeiro e setembro de 2010 e o mesmo período
de 2011, está na região metropolitana de Campinas (35% dos
casos) e no Vale do Paraíba (com 20% do total), nas cidades
onde está a maior concentração de indústrias de tecnologia
do país. Nos nove primeiros meses do ano passado, foram 469
inquéritos. Este ano, até o ultimo dia 19, já haviam sido
abertos 509 inquéritos.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de
Campinas e Região, Jair dos Santos, “as denúncias das
condições de trabalho e os casos de doenças relacionadas [ao
trabalho] crescem de forma assustadora” naquelas áreas. Ele
aponta que há problemas especialmente nas indústrias de
capital asiático. “Eles [empresários de países asiáticos]
vêm de uma realidade em que o trabalhador não tem nenhum
direito, só tem deveres. A legislação só protege a
indústria. E, quando chegam ao Brasil, querem implementar a
filosofia de produção, como querem trabalhar nas mesmas
condições de legislação e salário que têm nos seus países de
origem”, queixa-se o sindicalista.
Na semana passada, o sindicato fechou acordo com a
coreana Samsung após dois dias de greve por melhores
salários. A companhia é apontada pelo sindicalista como uma
das empresas mais problemáticas. “A mãe de uma trabalhadora
ligou no sindicato e disse que precisávamos intervir porque
a filha estava em uma sala de castigo porque tinha feito o
processo errado. Para punir a trabalhadora, colocaram ela em
uma sala olhando para a parede de castigo”, relatou.
Após relatos de agressões físicas e verbais, a empresa
fez um acordo judicial com a Procuradoria do Trabalho, por
meio do qual se comprometeu a não praticar assédio moral
contra seus funcionários. Em nota encaminhada à ABr, a
Samsung disse que o acordo “foi celebrado sem que tenha
havido qualquer reconhecimento das alegações feitas pelo
Ministério Público”. A empresa também disse que “continuará
a adotar todas as medidas necessárias, como sempre tem
feito, para impedir qualquer prática vexatória e/ou
atentatória à dignidade de seus colaboradores, bem como a
aplicar penalidades, quando necessário, a seus
trabalhadores, de acordo com a legislação brasileira”.