Stephanie Kohn
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Maryland (Estados Unidos) levantou
uma questão interessante sobre as redes sociais. Será que o Facebook e outros
sites de relacionamento virtual podem acelerar o surgimento da fobia social e a
depressão? De acordo com Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em
Informática da PUC/SP, quando uma pessoa já tem pré-disposição ou apresenta
sintomas de que não está bem, as redes podem ser uma facilitadora.
O jornalista Gabriel Nunes (nome fictício), que trabalha com mídias sociais e é
diagnosticado com fobia social há dez anos, compartilha da mesma opinião. Ele,
que já sofreu na pele o que é se esconder por trás das redes, diz que boa parte
das vezes que usa a internet ou conhece uma pessoa pela web é pra fugir de sua
realidade. Ele até acredita que seu destino profissional de trabalhar com as
redes sociais foi uma escolha inconsciente. "Eu parei na comunicação bem de
paraquedas e nunca me imaginei trabalhando com isso. Mas, acredito que a
facilidade que tenho de mexer nas redes se deve ao fato de eu ter fobia social,
já que trabalho com um público que não me vê e não me conhece", explica.
Segundo Luciana, sites como Facebook, Orkut ou Twitter são canais que trazem
prazer e preenchem uma lacuna na vida da pessoa como a falta de contato com
outros seres humanos. Com isso, é possível que a rede contribua para que o
usuário permaneça mais tempo isolado e faça deste ambiente virtual sua fuga.
"Uma pessoa que tem dificuldade de se relacionar vai encontrar ali pessoas para
participar da vida e, às vezes, este contato virtual é o suficiente", comenta.
Um indivíduo com propensão à depressão e fobia social tende a usar as redes de
forma dependente da mesma forma como acontece com as drogas. A pessoa faz
daquela prática sua evasão dos problemas. No entanto, a dependência à internet,
de acordo com Luciana, não é identificada pela quantidade de tempo gasto na
rede, mas sim nas coisas que foram deixadas de lado para que o usuário
permanecesse conectado. "Aquele que deixa de fazer coisas e estar entre amigos e
família para permanecer conectado também tem maus hábitos na rede", afirma. "O
problema não é a ferramenta. É o uso que fazemos dela", completa.
Por outro lado, as redes sociais também podem auxiliar no tratamento da fobia
social. A psicóloga conta que, durante a atividade terapêutica, é necessário
fazer com que o paciente encontre suas habilidades e, para isso, é possível
utilizar ferramentas extras como, no caso, sites de relacionamento. Porém, para
que o resultado seja positivo, é necessário que a pessoa tome consciência de que
os relacionamentos que ela mantém na rede podem ser transportados à vida real.
"Até dá para usar a rede como recurso, mas depende muito do caso. O paciente
precisa gostar deste tipo de site e o psicólogo precisa ter familiaridade com
estas ferramentas", diz.
No caso de Gabriel, a internet o ajudou a fazer amigos, porque, segundo ele, era
mais fácil conversar com alguém sem estar cara a cara. Um dos principais motivos
é que na internet você pode construir uma imagem da maneira que quiser, criar
uma personalidade que pode ou não ser a verdadeira. Outro ponto positivo, de
acordo com Gabriel, é que a web pode ser um caminho para que as coisas aconteçam
no mundo real. "Na rede é possível esconder várias coisas como defeitos e
traumas, justamente por esta construção de personalidade. Mas, ao meu ver, a
internet é mais uma fuga do que uma solução para os problemas", ressalta. "Você
até pode se apegar à internet pra fazer com que essa sensação se amenize e,
assim, conseguir ter um relacionamento com outras pessoas. Mas, sempre vai rolar
uma ponta de desconfiança, sabe?", completou.
Sobre a fobia social
A fobia social também é conhecida como transtorno de ansiedade social,
transtorno ansioso social ou sociofobia. Trata-se de uma síndrome ansiosa
caracterizada por manifestações de alarme, tensão nervosa e desconforto
desencadeadas pela exposição à avaliação social. A condição psiquiátrica,
segundo a psicóloga Luciana, é bem difícil de ser revertida, uma vez que se
trata de uma pessoa com timidez extrema.
De acordo com a psicóloga, uma pessoa diagnosticada com fobia social tem
vergonha de comer na frente dos outros, não conta dinheiro em público com medo
de errar, não fala com estranhos e mal consegue se comunicar com conhecidos.
Além disso, ela se sente muito mal em situações que precisa conhecer pessoas
novas.
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