Transição metal-isolanteO óxido de vanádio é um
material estranho: como metal, ele é um condutor térmico e
elétrico.
Mas aqueça-o a meros 67 ºC e, em um trilionésimo de segundo,
ele passa a ser um isolante.
Isso tem inúmeras aplicações práticas, como
janelas sensíveis à temperatura, que absorvem a energia no
Sol nos dias frios, e a refletem nos dias de calor.
Ou vidros inteligentes que simplesmente
deixam passar a luz e bloqueiam o calor.
Alguns pesquisadores estão também usando o óxido de vanádio
para desenvolver chaves ópticas para incorporação em circuitos
eletrônicos, no campo da chamada
optoeletrônica.
Agora, esse "material bipolar" poderá encontrar ainda mais
utilidades, uma vez que cientistas descobriram uma forma não
apenas de baixar a temperatura dessa transição metal-isolante,
mas também de torná-la totalmente reversível.
Dopagem reversível
A técnica de "dopagem reversível" é feita com a mera adição
do gás hidrogênio.
"Se adicionamos pouco hidrogênio, a transição de fase
acontece a uma temperatura ligeiramente mais baixa, e a fase
isolante se torna mais condutora. Se o hidrogênio for
acrescentado em quantidade suficiente, a transição para a fase
isolante desaparece completamente," explica Douglas Natelson, da
Universidade Rice, nos Estados Unidos.
"No lado prático, há várias aplicações para isso, como
sensores ultrassensíveis de hidrogênio", diz o pesquisador. "Mas
a compensação mais imediata será nos ajudar a entender melhor a
física envolvida na transição de fase do VO2."
De fato, os modelos atuais não conseguem explicar o que
acontece na rede atômica desse dióxido.
Transição de fase do dióxido de vanádio
Quando o oxigênio reage com o
vanádio para formar o VO2, os átomos formam cristais que se
parecem com longos caixotes retangulares. Os átomos de vanádio
alinham-se ao longo das quatro bordas do caixote, em linhas
regularmente espaçadas.
Um único cristal de VO2 pode ter várias dessas caixas
alinhadas lado a lado. Nessa estrutura, esses cristais conduzem
eletricidade como se fossem fios.
Mas tudo muda aos 67 ºC.
"Estruturalmente, os átomos de vanádio emparelham-se, e cada
par fica ligeiramente inclinado, de forma que você não tem mais
essas longas cadeias. Quando a fase muda, com a ocorrência
desses emparelhamentos, o material passa de um condutor elétrico
para um isolante elétrico," explica Natelson.
Ou seja, ocorre uma transição de fase que é tanto estrutural,
quanto eletrônica.
Quando entenderem totalmente esse processo, os pesquisadores
poderão ajustá-lo ou controlá-lo de forma mais precisa, levando
o óxido de vanádio para aplicações mais nobres.
Isso agora poderá ser feito com muito mais rapidez e precisão
com a possibilidade de reverter a transição de fase à vontade,
com a simples adição de
hidrogênio.