Géis vivosHá vários anos, a equipe da professora Anna Balazs
(Universidade de Pittsburgh) vem aperfeiçoando gelatinas artificiais que
imitam comportamentos de seres vivos.
Tudo começou com
géis pulsantes, que funcionam como músculos artificiais.
Logo essas gelatinas ganharam capacidade de se
comunicar e cooperar como células, e não tardou muito para que elas
virassem
materiais inteligentes, capazes de imitar a habilidade biológica da
autorregulação.
Agora o grupo deu ao seu gel não apenas a capacidade de se movimentar
por si próprio, mas também de "agir como se estivesse vivo", imitando
processos básicos da comunicação biológica.
"Este estudo demonstra a capacidade de um material sintético para
realmente 'falar por si mesmo' e seguir uma determinada ação ou comando,
semelhante a espécies biológicas, como amebas ou cupins," disse Anna.
Simulando uma vida sintética
O material é conhecido tecnicamente como gel de Belousov-Zhabotinsky,
que já foi usado por outras equipes para criar
materiais sintéticos que se comportam como se estivessem vivos
graças à sua capacidade de pulsar sem a necessidade de qualquer estímulo
externo.
Quando o gel é cortado em tiras, uma ponta tende a se curvar em
direção à outra, permitindo o movimento do material.
Pratyush Dayal, membro da equipe, teve então a ideia de testar como
esse material de movimento autonômico reagiria a estímulos externos.
Para isso, ele cortou pedaços do gel e submeteu cada um a estímulos
ópticos e químicos.
Para surpresa geral, os pedaços do gel reúnem-se novamente de forma
automática, seguindo rigorosamente as instruções dos estímulos.
É como se o material pudesse "ouvir" os sinais químicos ou ópticos,
movimentar-se em reação a eles e ir e "falar" sobre os sinais com seus
vizinhos, repassando a informação.
O processo é chamado de autoquimiotaxia, a capacidade para emitir e
detectar um agente químico, e se mover em reação a esse sinal.
"Imagine um conjunto de peças de Lego que possa se desmontar em suas
peças e, em seguida, colocar todas juntas novamente na forma de objetos
diferentes, além de permitir que se controle essas formas por meio de
reações químicas e luz," explica Anna.
Materiais reconfiguráveis
A equipe explorou algumas possibilidades de uso do material, por
exemplo, construindo uma "locomotiva" capaz de capturar e movimentar um
"vagão", tudo controlado por luz.
"Nossos resultados abrem caminho para criar materiais reconfiguráveis
usando elementos autopropelidos, que se comunicam autonomamente com as
unidades vizinhas e, desta forma, participam ativamente na construção da
estrutura final," conclui o grupo.