Quando a Agência Nacional de Telecomunicações foi criada, em 1997, fazia
apenas dois anos que a internet comercial havia chegado ao Brasil. Desde então,
o ambiente online não tem sido considerado uma atividade de telecomunicação
propriamente dita e, por isso, foge à responsabilidade do órgão regulador e suas
regras. Mas este cenário pode mudar em breve.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, as operadoras pretendem acabar com a
desregulamentação da internet colocando-a sob vigilância da Anatel. Para
oferecer acesso à web para seus clientes, as teles usam a licença do Serviço de
Comunicação Multimídia (SCM), cujo novo regulamento foi aprovado em maio pela
Agência.
Entre as mudanças tratadas no documento estão o fim da obrigatoriedade da
contratação de provedor, regras mais rígidas para o armazenamento dos 'logs' -
informações sobre as conexões - e a neutralidade da rede - conceito que dá a
mesma importância para qualquer tipo de comunicação na internet. Estes dois
últimos itens constam do projeto do Marco Civil, travado há mais de dois anos
devido a desentendimentos.
Embora não tenha quem a controle, a internet é regida pelo Comitê Gestor de
Internet, vinculado ao NIC.br, entidade sem fins lucrativos. As teles querem
tirar do CGI.br até mesmo a atribuição de administrar os nomes e números de IPs.
Há um impasse com relação à mudança de tecnologia da internet, que passa do
modelo de protocolo IPv4 para IPV6 para ampliar a quantidade de endereços e
suportar a demanda por novas conexões. Ao contrário do CGI.br, que incentiva a
migração, as teles reclamam de dificuldades em conseguir domínios da versão
antiga. Segundo elas, a situação seria melhor conduzida pelo órgão regulador.
Na opinião das empresas de internet, submetê-la a regulação pode "engessar" o
mercado. “A internet hoje é, pela LGT (Lei Geral de Telecomunicações) de 1997,
atividade de valor agregado, para a qual não se necessita concessão nem licença,
ao contrário dos meios de telecomunicações. Isso permitiu uma expansão vigorosa
da atividade de internet no País. Travar a internet, tornando-a regulada pela
Anatel, vai minar a inovação, o empreendedorismo e a competitividade nacional,
além dos riscos de controle quanto ao que fazem usuários e provedores de
conteúdo”, defende o diretor-presidente do NIC.br, Demi Getschko.
Olhar Digital