Campanha
arrecadará PCs para inclusão digital
Wellington Otto Bahnemann
Em evento realizado na Sala Nobre da Federação das Indústrias de São
Paulo (FIESP), a ONG Comitê de Democratização da Informática (CDI) e a
Câmera Americana de Comércio de São Paulo (Amcham) lançaram a quarta
edição da campanha para a inclusão digital de comunidades carentes
Megajuda.
Este ano, a campanha
pretende arrecadar cerca de 2,8 mil computadores, para serem distribuídos
pelos 20 estados brasileiros que o CDI participa, o que irá beneficiar 84
mil jovens de comunidades de baixa renda. Segundo Rodrigo Baggio,
diretor-executivo da ONG, para cada computador doado, 60 alunos da Escola
de Informática e Cidadania são favorecidos. A EIC é um espaço de
ensino montado em parceria pela comunidade onde será instalado o CDI. Nos
últimos três eventos, a campanha arrecadou cerca de 5,4 mil
computadores.
Tanto empresas quanto
pessoas podem participar da campanha. Para isso, pode-se doar computadores
(na configuração mínima de 486 DX2 ou DX4) ou periféricos como
impressoras, scanners, mouses, teclados, caixas de som, hubs, no-breaks,
kitd multimídias e modems. Outra forma de contribuir é ser tornar voluntário
em um dos dez mutirões para a manutenção dos equipamentos arrecadados
ao longo do ano. Em 2002, 700 pessoas participaram como voluntárias. Para
2003, a estimativa é de 800.
Além destas duas formas,
a campanha deste ano traz duas novidades. As empresas poderão adotar uma
EIC, investindo R$ 11.500 por ano. A outra é um questionário intuito de
criar um plano estratégico entre uma companhia e a CDI para a doação de
computadores.
Baggio aponta que a doação
é somente um passo para promover a inclusão digital. E ressalta também
a importância dos softwares. Desde a primeira edição do evento, a
Microsoft doa o Windows e o Office para os computadores arrecadados pela
campanha. Este ano, no entanto, os alunos também poderão utilizar o
Linux 9 ¿ Professional Edition doado pela Conectiva.
O uso de Linux na EIC,
afirma Baggio, "foi uma demanda das comunidades. Eles queriam ter a
liberdade em poder mexer em outro sistema operacional". Todo
computador utilizado terá instalado o Windows e o Linux. Desde de 2000,
quando a campanha foi criada, 172, 5 mil pessoas foram beneficiadas.
Desafios da inclusão
digital
Para Álvaro de Souza,
presidente e CEO da Amcham SP, "o impacto da exclusão digital é o
mesmo do analfabetismo nesta sociedade da informação". Baggio
acredita que haverá inclusão digital no Brasil quando três ações
fundamentais forem realizadas: a existência de infra-estrutura, capacitação
e produção e acesso público.
Baggio afirma que no
Brasil ações no intuito de capacitar e possibilitar o acesso já
ocorrem, mas a grande questão é a infra-estrutura. Dos cerca de 6 mil
municípios brasileiros, somente 800 possuem condições para acessar a
internet.
Para resolver esse
problema, ele afirma que isso só irá ocorrer quando existir uma sinergia
entre os três setores da sociedade. Para o diretor-executivo da CDI,
muitas vezes não existe um interesse comercial para que ocorram os
investimentos. "As empresas não irão querer criar uma
infra-estrutura na zona rural". E que o governo deveria olhar mais
para o terceiro setor em busca de parcerias.
A existência da EIC
busca suprir um pouco essa lacuna. Além de promover o acesso a
computadores, o CDI capacita pessoas para dar aula. Atualmente, existem
mais de educadores 1,5 mil em todo o Brasil.
A criação da EIC alia
também um projeto pedagógico. Para o CDI, a tecnologia é um meio de
transformar a realidade. A primeira escola surgiu em uma favela do Rio de
Janeiro, em 1995. Hoje em dia, existem unidades dentro de penitenciárias,
hospitais psiquiátricos e aldeias indígenas.A idéia é desenvolver a
auto-estima desses indivíduos e reintegrá-los na sociedade.
Durante as aulas nas
escolas, os alunos aprendem a utilizar programas como Word e Excel. A
faixa etária mínima é de 14. Segundo Fábio de Moraes, educador da EIC
da cidade de Embu-Guaçu, a maior procura é por adolescentes. Mas também
existem projetos específicos para terceira idade.
O conteúdo das aulas é
definido pelos próprios alunos. Eles trazem um tema para discussão e, a
partir dele, utilizam os softwares disponíveis para o aprendizado. Moraes
comenta que durante a Guerra do Iraque os estudantes fizeram cartazes
sobre o evento com Word e distribuíram pela cidade. "Se eu pedisse
para eles escreverem uma carta para namorada, provavelmente não
conseguiriam. mas quando a tarefa é escrever no Word sobre um tema da
atualidade, eles acabam se informando e aprendendo a mexer no
programa", completa o educador.
As aulas ocorrem duas
vezes por semana, durante quatro meses. Ao final, o aluno recebe um
certificado. Moraes diz que muitos alunos posteriormente realizam outros
cursos de informática e utilizam o que foi aprendido para buscar novos
empregos.
Mais informações podem
ser obtidas no site
oficial da campanha.
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