Cientistas descobrem micróbio que vive a 130ºC

da Folha Online

Um micróbio que habita água fervente e "respira" ferro está ampliando os limites dentro dos quais os cientistas acreditavam que a vida poderia existir, de acordo com um estudo publicado hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org).

O micróbio é um extremófilo, organismo que vive nas condições mais adversas encontradas na Terra. Ele foi encontrado na cadeia montanhosa submarina de Juan de Fuca, no Pacífico, marcada por gêiseres que chegam a ter altura equivalente a quatro andares. Não há luz, a pressão da água é suficiente para esmagar instantaneamente qualquer organismo terrestre e o ambiente está repleto de resíduos tóxicos.

Não é a primeira vez que formas de vida são encontradas nesses gêiseres. Elas se aproveitam do equilíbrio entre águas geladas e ferventes e usam o enxofre da água como combustível --como o micróbio Pyrolobus fumarii, que vive a temperaturas de até 113ºC.

O micróbio recém-descoberto consegue sobreviver em temperaturas ainda mais altas, sem usar nem oxigênio nem enxofre na respiração. Esse organismo queima ferro para transformar sua comida em energia --um papel desempenhado pelo oxigênio em quase todas as outras espécies da Terra. "É uma nova forma de respiração", disse o pesquisador Derek Lovley em um comunicado.

Ele e Kazem Kashefi, ambos da Universidade de Massachusetts, EUA, testaram uma amostra recolhida por uma equipe de Washington. Ao aquecê-la em laboratório, eles detectaram um crescimento dos organismos mesmo depois de atingir a temperatura de 121ºC -- 21 graus além do ponto de ebulição --e a sobrevida até os 130ºC. Por isso, o microorganismo foi apelidado de Cepa 121.

"O número de células dobrou após 24 horas", explica a dupla na revista. "O crescimento acima de 121ºC é notável porque a esterilização a essa temperatura, em equipamentos normalmente pressurizados para manter a água em estado líquido, é um procedimento-padrão que já demonstrou matar todos os microorganismos previamente descritos e esporos resistentes ao calor."

A descoberta indica que a vida pode existir em planetas muito diferentes da Terra. Ela também sugere que a vida nem sempre evolui da forma como a biologia ensina --em águas mornas, repletas de nutrientes, banhadas pela luz do Sol.

Com Reuters

 

 

 

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