Universo é uma bola de futebol, diz estudo

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo


Ninguém sabe dizer se Deus é brasileiro, mas o Universo, ao que parece, foi criado à imagem e semelhança de uma bola de futebol.

A conclusão, de um grupo liderado por Jean-Pierre Luminet, do Observatório de Paris, parece ser a melhor resposta aos dados obtidos com o satélite WMAP. Eles sugerem que a geometria do Universo, numa escala gigante, pode ser um dodecaedro esférico, composto por gomos pentagonais.

Se isso for verdade, quer dizer que o Universo não seria infinito, como normalmente se imagina, mas finito e fechado sobre si mesmo --se você caminhar indefinidamente à procura do "fim do Universo", acabará voltando ao ponto de partida. Essas idéias já circulam na física desde Albert Einstein, que, usando sua teoria da relatividade, propôs um modelo de cosmos esférico e fechado.

A sonda WMAP mede a radiação cósmica de fundo, uma espécie de eco deixado pelo Big Bang (explosão que teria dado origem ao cosmos) na forma de microondas vindas de toda parte. Medindo as pequenas variações de intensidade dessa radiação, é possível estimar a densidade do Universo --fator crucial para definir a natureza de sua geometria.

Resultados obtidos por uma equipe italiana com sensores em balões, em 2000, pareciam apontar na direção de uma densidade de valor "1", uma espécie de número mágico que sugeria a forma do cosmos como um tapete, plano e infinito em todas as direções. Mas o WMAP, mais preciso, parece apontar noutra direção.

Em março deste ano, um grupo liderado por Max Tegmark, da Universidade da Pensilvânia, apontou que os dados sugeriam uma conformação finita para o Universo. "Que forma ele teria, não sabemos", disse na época Angélica de Oliveira-Costa, brasileira que participou daquele estudo.

Luminet parece ter dado o próximo passo, sugerindo a estrutura da bola de futebol. Traduzida para as quatro dimensões do Universo, essa formação faria com que um objeto que saísse de um dos gomos da bola emergisse em outro, do outro lado.

Parece uma idéia esdrúxula, mas é a solução que apresenta hoje maior compatibilidade com os dados, segundo George Ellis, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, que comentou o estudo publicado hoje na revista "Nature" (www.nature.com).

A hipótese de Luminet prevê que a densidade do Universo deve ter um valor de exatamente 1,013. O sucessor do WMAP, chamado Planck Surveyor, será capaz de medir a radiação cósmica com resolução suficiente para chegar a esse grau de precisão.

 

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