Artista põe cérebro à venda 

Por Ryan Singel  
Jonathon Keats, um artista conceitual e escritor de 32 anos, decidiu leiloar contratos futuros sobre seus 6 bilhões de neurônios, cujos direitos autorais foram requeridos por ele esse ano. Como todo direito autoral, os de Keats sobre seu cérebro valem durante toda a sua vida mais 70 anos, graças à polêmica Lei Sonny Bono de Extensão de Direitos Autorais, de 1998. "Achei que seria bom ser imortal", disse o artista. "Setenta anos de imortalidade compensam a taxa de US$ 20 que paguei pelo registro".
 

Keats registou seu cérebro como uma escultura, alegando que ele o havia criado, pensamento por pensamento. Na festa em que irá marcar a "abertura do capital" de sua mente, a ser realizada no próximo dia 23 na galeria Modernism, a opção de adquirir um milhão de neurônios de Keats vai custar apenas dez dólares. Se ele conseguir vender os direitos sobre todas as suas células neurais, irá arrecadar US$ 60 mil. Segundo o artista, metade desse valor será entregue à galeria, enquanto o restante servirá para manter seu cérebro alimentado a fim de ter novas idéias, o que vai valorizá-lo.

Para garantir a confiabilidade dos títulos que está oferecendo, o artista foi até o Centro de Estudo da Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia fazer exames de ressonância magnética que retrataram o funcionamento de seu cérebro enquanto pensava sobre arte, verdade e beleza. As 45 imagens obtidas estarão nas paredes da galeria, em parte para assegurar aos investidores que estão tomando uma sólida decisão financeira. "Os exames são bastante convincentes", disse o artista. "Eles sugerem que os meus neurônios estão funcionando bem - uma informação indispensável para quem pensa em comprá-los".

Se a venda é apenas uma idéia ruim (ou seja, se o seu cérebro, afinal de contas, não vale tanto assim) ou se ela é apenas uma excelente crítica à duração excessiva dos direitos autorais (o que pode significar que Keats é mais esperto que o renomado professor de direito Lawrence Lessig, da Universidade de Stanford), isto é algo que o mercado ira decidir.

Donna Wentworth, uma ativista da propriedade intelectual que trabalha para a EFF (Electronic Frontier Foundation) e edita o blog Copyfight, afirma que a idéia de Keats pareceu, à primeira vista, "um golpe bobo". Logo em seguida, porém, ela passou a perceber que ele estava realmente tramando algo maior. "Ele parece estar fazendo uma crítica à mercantilizarão do intangível, ao levar a expressão 'propriedade intelectual' ao pé da letra", escreveu Wentworth num e-mail. "Do jeito que as coisas estão indo, seu cérebro talvez jamais caia no domínio público. Será sua propriedade pela eternidade menos um dia".

Keats disse que sua intenção não era levantar exatamente essas questões, mas que as conseqüências imprevisíveis são o que ele mais gosta em seu trabalho, que ele descreve como uma tentativa consciente de entender tudo errado. "Sempre estou tentando me equivocar melhor", brinca Keats, que aponta como suas influências tanto Marcel Duchamp quanto Andy Warhol. "O equívoco perfeito é o que permitirá a criação da mais brilhante obra de arte conceitual".

Keats garante que não está brincando, e que a idéia de ter uma companhia de holding administrando seu cérebro depois que morrer o conforta. Ele não sabe, entretanto, quem vai presidir a empresa. "É preciso que seja alguém que possa levar isso a sério, e pessoas que pensam assim tendem a não me entender", sentenciou

 

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