Quadrinhos ganham mais vida com a internet

ALEXANDRE MATIAS
especial para a Folha de S.Paulo

Longe da crise que sempre assombrou o mercado editorial, os quadrinhos brasileiros encontraram na internet uma forte aliada. O que começou com um simples flerte curioso, com desenhistas e ilustradores criando sites que serviam de portfólio, hoje se torna uma alternativa para publicar revistas e manter o fluxo de criação, sem o fantasma do custo de produção à espreita na próxima esquina.

"O que a internet proporciona é facilidade e flexibilidade de publicação", diz Guilherme Caldas, da loja e editora curitibana Candyland (www.candyland.com.br). "Digo isso comparando com o circuito de fanzines, que foi durante muito tempo o grande laboratório de idéias e suportes nas HQs. Era tremendamente complicado, o cara tinha de montar o zine na base da cola, bancar xérox e mandar pelo correio. Com a internet, basta escanear o desenho, meter num blog e está publicado. Isso é que é o grande barato."

Amauri de Paula, editor do site especializado Quadrinho.com, diz que, "pela primeira vez, publicações nacionais podem dizer que atingiram mais de 10 mil leitores, via internet. São consumidores que, incentivados pelo custo quase nulo de ler uma revista on-line, acabam tomando conhecimento dos quadrinhos", completa.

Um exemplo é a editora Nona Arte, que lida com álbuns em PDF e histórias curtas em HTML. Segundo seu criador, André Diniz, alguns títulos já ultrapassaram os 25 mil downloads em cerca de um ano e meio no ar e já houve caso de uma edição ter mais de 3.000 downloads em um mês. "São números altíssimos se comparados ao número de leitores que as edições impressas atingem", diz.

"Acho que a mídia digital funciona como uma extensão do trabalho do cartunista", opina Newton Foot, que inaugurou seu site há pouco tempo. "Ela dá mais autonomia na divulgação do trabalho e torna mais acessível a realização de sonhos." O cartunista goiano Galvão descreve o próprio exemplo: "Criei o VidaBesta com o objetivo de ser apenas um portfólio digital, mas fui percebendo que seria muito mais legal se eu fizesse um site dinâmico. Transformei o site em uma revista, atualizada quase todos os dias. Atraiu muita gente e hoje acredito que tenho um público fiel".

A repercussão on-line, para Adão Iturrusgarai, "é sempre muito boa. Poucos ficam indignados ou ofendidos com alguma piada minha".

Alguns são mais resistentes ao formato on-line, como os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, do premiado fanzine "10 Pãezinhos". "Desde o início, nunca colocamos histórias no site, pois não acreditamos que a internet seja um bom veículo para a leitura de quadrinhos", diz Gabriel. "Usamos o site para divulgar nossos trabalhos e, a partir daí, quem se interessasse poderia ir atrás dos livros." Para o desenhista Falex, da Central do Rato, que traz HQs em Flash, os autores em geral ainda estão "tentando conciliar as mídias impressa e virtual".

Já Fábio Zimbres, da editora Tonto, que vende suas publicações --impressas-- na rede, é mais cético: "A internet está ajudando a treinar alguns artistas, está aproximando desenhistas de todo o Brasil, mas não dá condições de vida para a maioria deles. Mas, de modo geral, é uma saída para qualquer um que queira se divulgar sem precisar pensar em retorno financeiro imediato. Para isso, não tem igual".

   

 

 

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