Engenheiros conseguem obter comunicação artificial entre células

Da Universidade da Califórnia


Engenheiros da Universidade da Califórnia descobriram uma maneira de alterar o metabolismo das células, permitindo a elas se comunicar artificialmente entre si, de acordo com um estudo publicado esta semana pela revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences". Se as células forem capazes de se comunicar dessa maneira, dizem os pesquisadores, ação celular coordenada é possível. Células agindo em uníssono poderiam, por exemplo, ser instruídas a criar quantidades maiores de um composto químico a ser empregado, mais tarde, na fabricação de produtos químicos ou farmacêuticos.

"Comportamento biológico coordenado é certamente mais fácil de obter se as células puderem se comunicar", disse James Liao, co-autor do estudo e professor de engenharia química na Escola Henry Samueli de Engenharia e Ciências Aplicadas da universidade. "É um passo importante em direção a um meio de base biológica para produzir compostos químicos dotados das propriedades desejadas".

O estudo descreve a construção de um circuito gene-metabólico que imita um mecanismo natural empregado pelas células para "conversar" umas com as outras. Nas experiências da Universidade da Califórnia em Los Angeles, células da bactéria Escherichia coli enviaram sinais por meio de secreções de acetato, e reagiram de maneira coordenada assim que o acetato atingiu um nível determinado de concentração.

A pesquisa de Liao é parte de um campo conhecido como engenharia metabólica, que envolve alterar o metabolismo das células, inclusive das reações bioquímicas e de todos os circuitos de controle a elas associados, de modo que a célula possa executar funções que não lhe são naturais, como a produção de um componente químico específico, trabalhar como sensor ou até mesmo funcionar como ferramenta de diagnóstico.

Circuitos genéticos artificiais que se assemelham aos circuitos naturais de uma célula já foram projetados por pesquisadores, e resultaram em variantes de bactérias que exibiam um comportamento programado. Mas essas redes criadas artificialmente ficam isoladas do metabolismo celular e têm por objetivo funcionar sem comunicação intercelular. De acordo com o estudo de Liao, sistemas biológicos muito mais complexos e planejados sob medida seriam possíveis caso as células sofram alterações genéticas que lhes permitam comunicação umas com as outras.

"Comportamento celular sincronizado pode conduzir à fabricação de produtos químicos empregando recursos renováveis e processos favoráveis ao meio ambiente", disse Liao. "A maior parte dos produtos químicos atuais tem base no petróleo. Nas próximas décadas, o objetivo seria substituir os produtos químicos baseados no petróleo por produtos químicos de base biológica".

A Cargill-Dow, Dupont e outras grandes empresas químicas já estão desenvolvendo e produzindo componentes químicos essenciais por meio da engenharia metabólica, diz Liao.

Ele desenvolveu um mecanismo artificial, que permite que as células usadas para esse estudo secretem níveis reduzidos de acetato o tempo todo, transformando cada célula em um sensor artificial que alerta as células vizinhas quanto à sua presença.

"Estamos imitando o mecanismo natural que as células empregam para se comunicar em condições primárias", disse Liao. "Por exemplo, se um determinado patógeno secreta um determinado produto químico, mais ou menos como os animais secretam feromônios, quando um patógeno percebe a presença de um determinado nível desse produto químico em patógenos semelhantes, e próximos, ele reage atacando o hospedeiro. Os patógenos agem como soldados que esperam por reforços antes de entrar em combate".

Alterar o metabolismo das células é uma abordagem de base biológica que pode ser usada para criar compostos químicos que mais tarde seriam usados na produção de plásticos ou bens farmacêuticos. Por exemplo, o ácido láctico e outros monômeros usados em plásticos poderiam ser produzidos de maneira mais natural por meio da engenharia metabólica. A construção de componentes químicos por meio do uso de células bacterianas, em lugar de moléculas de combustíveis fósseis não renováveis, como o petróleo, é menos prejudicial ao meio ambiente e oferece uma melhor relação custo/benefício.

A universidade está envolvida na pesquisa de engenharia metabólica há muitos anos. Em 2000, Liao publicou um estudo que descrevia a criação de um controle de circuito para dirigir o fluxo metabólico de uma célula. O estudo publicado esta semana evoluiu do trabalho anterior.

"A abordagem anterior não permitia que as células se comunicassem entre si", disse Liao. "Para permitir que a célula produza os componentes químicos desejados de maneira efetiva, as células precisam se coordenar a fim de produzir simultaneamente um grande volume de um componente".

As pesquisas desenvolvidas pela universidade podem conduzir a novas aplicações.

"A comunicação entre células torna possível o projeto de biocircuitos inteligentes", disse Liao. "Os biocircuitos possibilitarão funções de computação especializadas e, em longo prazo, poderiam ser usados para a produção de próteses e medicamentos inteligentes".

Tradução: Paulo Migliacci

 

 

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