|
Memórias
são mais difíceis de esquecer do que se pensava
Da Universidade da Pensilvânia
Talvez não pareça verdade na próxima vez que você procurar a
chave do carro, mas cientistas da Universidade da Pensilvânia (Penn)
mostraram que as memórias não são tão fluidas quanto sugerem as
pesquisas atuais. Suas descobertas desafiam a idéia dominante de como
as memórias são armazenadas e lembradas - ou que uma memória lembrada
pode ser modificada ou perdida quando é "re-lembrada".
"As atuais teorias da memória afirmam que o ato de lembrar
transforma uma memória guardada em algo maleável, que precisa ser
recodificado", disse K. Matthew Lattal, pesquisador de pós-doutorado
no departamento de biologia da universidade e co-autor do estudo.
"Mostramos que o ato de recuperar uma antiga memória e guardá-la
novamente é um processo diferente de criar uma nova memória.
Infelizmente, isso talvez signifique que apagar as memórias traumáticas
não seja tão simples quanto se poderia desejar."
O estudo será publicado em "Proceedings of the National Academy of
Science" e estará disponível na Internet esta semana na edição
online da PNAS.
Estudos anteriores com roedores mostraram que o processo de codificar
uma memória poderia ser bloqueado pelo uso de um inibidor de síntese
de proteínas chamado anisomicina. Experimentos com anisomicina contribuíram
para a aceitação da teoria de que um comportamento aprendido se
consolida em uma forma armazenada e então entra num estado "lábil"
- transitório ou adaptável - quando é solicitado.
Segundo esses estudos anteriores, o ato de guardar novamente uma memória
lábil envolve um processo de reconsolidação idêntico ao utilizado
para armazenar inicialmente a memória. De fato, experimentos mostraram
que a anisomicina poderia fazer um rato esquecer uma memória se ele a
recebesse logo depois de lembrar um evento.
No estudo publicado em PNAS, no entanto, os pesquisadores da Penn
mostram que a ruptura de uma memória "lembrada" não é
permanente.
"Quando examinamos os ratos 21 dias depois de serem tratados com
anisomicina para bloquear a reconsolidação de uma memória, mostramos
que de fato eles podiam lembrar o comportamento aprendido
original", disse Lattal. "Se você usar anisomicina, pode
destruir uma memória 'nova', mas o efeito de 'esquecimento' da
anisomicina sobre uma memória estabelecida é temporário, no máximo."
Segundo os pesquisadores da Penn, a teoria dominante de como as memórias
são armazenadas não explica o retorno de uma memória supostamente
esquecida. Explicar a perda temporária de memórias depois do ato de
lembrar exigirá novos estudos.
"Seja qual for o mecanismo molecular que ocorre conforme a memória
está sendo rearmazenada, ele permite que a memória original não seja
afetada", disse Ted Abel, professor-assistente do departamento de
biologia da Penn e co-autor do estudo. "Em última instância, a 'reconsolidação'
talvez não seja um retrato preciso do que está acontecendo."
Doenças relacionadas à memória, como distúrbio de estresse pós-traumático,
certamente seriam beneficiadas por uma maior compreensão dos eventos
moleculares por trás do armazenamento de memórias.
"Há muita coisa que não sabemos sobre os eventos moleculares que
ocorrem quando nosso cérebro processa as memórias -- e seria muito
positivo um entendimento mais preciso do funcionamento das memórias",
disse Abel.
Tradução: Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
|