Impulsos do cérebro podem controlar dispositivos mecânicos

Da Universidade Duke


Estudos realizados pelo Centro Médico da Universidade Duke mostram que é possível fazer com que o cérebro controle, por meio de impulsos elétricos, dispositivos mecânicos. A equipe de pesquisa agora está trabalhando para desenvolver protótipos que possam permitir que pessoas paralisadas operem "neuropróteses" e outros dispositivos externos usando apenas o sinal do cérebro.

Apesar dos novos estudos fornecerem uma prova inicial da aplicação humana de interfaces cérebro-máquina ser possível, os pesquisadores enfatizaram que muitos anos de desenvolvimento e testes clínicos serão necessários antes que tais neuropróteses estejam disponíveis.

A equipe de pesquisa, liderada pelo neurocirurgião e professor de neurobiologia Dennis Turner e pelo neurobiólogo Miguel Nicolelis, publicará seus resultados na edição de julho de 2004 da revista "Neurosurgery". Entre os principais membros da equipe de pesquisa também estão Parag Patil, residente em neurocirurgia e principal autor do estudo, e Jose Carmena, Ph.D. e estudante de pós-doutorado em neurobiologia.

A pesquisa se baseou em estudos anteriores de laboratório de Nicolelis, nas quais macacos aprenderam a controlar um braço robô usando apenas os sinais do cérebro.

Em estudos preliminares em seres humanos, Patil e colegas gravaram sinais elétricos a partir de conjuntos de 32 microeletrodos durante cirurgias realizadas para aliviar sintomas do mal de Parkinson e tremores. Tais procedimentos cirúrgicos geralmente envolvem o implante de eletrodos no cérebro, com a estimulação deste com pequenas correntes elétricas para aliviar os sintomas do paciente. Os pacientes são despertados durante a cirurgia, e os neurocirurgiões geralmente gravam os sinais cerebrais para assegurar que os eletrodos permanentes sejam colocados no ponto ideal no cérebro.

Nas experiências relatadas na "Neurosurgery", os pesquisadores adicionaram uma simples tarefa manual ao procedimento cirúrgico. Enquanto os sinais do cérebro eram gravados usando um novo conjunto de eletrodos de 32 canais, foi pedido aos 11 pacientes voluntários que jogassem um videogame controlado pela mão.

Analisando posteriormente os sinais destas experiências, a equipe descobriu que os sinais continham informação suficiente para servir na previsão dos movimentos da mão. Tal previsão é um requisito necessário para o uso confiável de sinais neurais para controle de dispositivos externos.

"Apesar das limitações das experiências, nós ficamos supresos ao descobrir que nosso modelo analítico podia prever os movimentos dos pacientes muito bem", disse Nicolelis. "Nós só contávamos com cinco minutos de dados de cada paciente, dos quais foram necessários um ou dois minutos para ensiná-los a tarefa. Isto sugere que à medida que os testes clínicos prosseguirem e usarmos conjuntos de eletrodos implantados para um longo período de tempo, nós poderemos obter um sistema de controle funcional para dispositivos externos", disse ele.

Apesar de outros pesquisadores terem demonstrado que eletrodos implantados individualmente podem ser usados para controlar um cursor na tela do computador, dispositivos externos complexos exigiriam dados de grandes conjuntos de eletrodos, disseram os pesquisadores da Duke.

Segundo Nicolelis, outra grande diferença entre os estudos iniciais com seres humanos e os estudos com macacos é que a gravação nos pacientes humanos foi feita com eletrodos inseridos mais profundamente no cérebro, nas estruturas subcorticais, em vez da superfície cortical.

"Isto mostra que é possível extrair informação não apenas das áreas corticais, mas também das subcorticais", disse Nicolelis. "Isto sugere que no futuro haverá mais opções para extrair informação neuronal para controle de um dispositivo protético", disse ele.

Segundo Turner, a passagem para estudos clínicos em seres humanos apresenta uma série de desafios. Por exemplo, disse ele, os dados com macacos foram obtidos por eletrodos ligados à superfície do córtex cerebral.

"Nós inicialmente usamos eletrodos subcorticais, porque são mais estáveis e inseridos mais profundamente", disse Turner. Além disso, ele disse, as regiões mais profundas apresentam outras vantagens. "Pela forma como o cérebro trabalha, todos os sinais para controle motor são filtradas nessas regiões profundas antes de chegarem à saída final cortical", disse ele. "Assim, elas são teoricamente mais fáceis de gravar do que as áreas corticais. As áreas subcorticais também são mais densas, o que significa que há mais células para gravar em uma área menor."

Trabalhando com engenheiros biomédicos da Duke, a equipe de pesquisa está atualmente desenvolvendo o protótipo inicial de um dispositivo neuroprotético que incluirá uma interface sem fio entre o paciente e o dispositivo.

Segundo Turner, apesar da aplicação mais óbvia de tal tecnologia ser um braço robô para um quadriplégico, ele e seus colegas também estão planejando outros dispositivos. Um seria uma cadeira de rodas elétrica controlada neuralmente, assim como um teclado operado neuralmente, cuja saída incluiria tanto texto quanto fala. Tais dispositivos poderiam ajudar pessoas paralisadas ou que perderam a fala devido a derrame ou esclerose lateral amiotrófica (mal de Lou Gehrig).

Uma questão chave em futuros estudos clínicos será se os humanos podem incorporar tais dispositivos em seu "esquema", ou a representação neural do mundo externo, disse Turner. Os macacos nos estudos de Nicolelis pareceram capazes de fazê-lo.

"Nós sabemos que para todo tipo de treinamento motor, como andar de bicicleta, as pessoas incorporam um dispositivo externo ao seu esquema, e o processo se torna subconsciente", disse ele. "Nós exploraremos este fenômeno em nossos estudos em seres humanos. É conhecido, por exemplo, que os pacientes que não usam seu braço ainda exibem em imagens por ressonância magnética os centros de controle do cérebro funcionando normalmente. Quando lhes é pedido que imaginem o movimento dos braços, os centros de controle se tornam ativos. Assim, nós temos boas esperanças de que os neurônios nestes centros ainda possam fornecer os mesmos sinais, apesar do braço não estar fisicamente funcionando."

Como seu próximo grande passo, disse Turner, os pesquisadores já fizeram o pedido para aprovação federal para o início do implante de eletrodos experimentais de longo prazo em pacientes quadriplégicos. Tais testes, que serão conduzidos ao longo dos próximos três a cinco anos, envolverão implantar de eletrodos em regiões específicas, pedir aos pacientes que realizem tarefas específicas e então explorar que tarefas são melhor controladas por tal região.



Tradução: George El Khouri Andolfato

 

 

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