As empresas detectam vantagens no celular que é também computador

Por Camila Guimarães

EXAME Primeiro, era uma agenda eletrônica sofisticada. Depois, um potente processador de dados. Agora, os computadores de mão, mais conhecidos como palmtops, já viraram celular. Começa a tomar corpo nos Estados Unidos, nos países asiáticos -- e agora no Brasil -- um novo mercado, o de telefones inteligentes, ou smartphones. Eles reúnem em um só aparelho a mobilidade do telefone celular e a capacidade de processamento dos computadores. A nova tecnologia chega ao Brasil ainda neste ano, com produtos desenvolvidos principalmente para empresas. As pioneiras no uso já perceberam que os benefícios para os negócios são enormes.

Fabricado por quem produz palms e vendido pelas operadoras de celular, o smartphone faz tudo o que um computador faz -- gerencia e-mails, arquivos de texto, áudio e vídeo, tira fotos, navega em alta velocidade pela internet, transfere dados para outros equipamentos e pode até servir de controle remoto para ligar e desligar eletrodomésticos. Mas tudo isso num aparelho do tamanho de um celular, com jeito de celular e que fala como um celular.

A transição para o smartphone no Brasil começou com os palms que permitem conversar por meio de um fone de ouvido, como o Tungsten W, da Palm-One, lançado em parceria com a operadora Claro em outubro de 2003. Muitas empresas brasileiras se alvoroçaram com a novidade. "Estou com 30 aparelhos em campo e eles funcionam com perfeição", diz Enio Lima, gerente comercial da Master Boi, processadora de carnes de Recife (PE). Dos 100 vendedores equipados com computadores de mão, 30 já usam o recurso de voz. "A vantagem é que eu não preciso pagar um celular e um palm para cada vendedor. Fica mais barato ter um equipamento só", afirma Lima.

O resultado econômico da nova tecnologia também é patente. A SPP-Nemo, distribuidora da fabricante brasileira de papel Suzano, deu palms que falam aos 60 integrantes de sua equipe de vendas. O projeto custou 300 000 reais, pagou-se em três meses e a produtividade de cada vendedor aumentou cerca de 18%. "Ter a voz no computador de mão fez grande diferença", diz Marco Antônio Oliveira, gerente-geral da SPP-Nemo.

O mundo sem fio entrou de vez na ordem de prioridades das empresas nos últimos 18 meses. "Mais de 50% dos novos projetos encomendados pelas companhias que nos procuram são com dispositivos que integram voz e dados", diz Marcelo Condé, diretor da empresa especializada no mercado sem fio Spring Wireless. "Faz pouco sentido carregar dois aparelhos se é possível ter um só." A Spring prevê dobrar o número de clientes neste ano.

A TIM decidiu lançar no país a atual sensação do mercado americano, o BlackBerry, produzido pela Research in Motion. O lançamento está prometido para o segundo semestre deste ano, segundo Michael Martin, gerente de desenvolvimento de produtos da TIM. Em visita ao Brasil em junho, o vice-presidente global de operações da PalmOne, Angel Mendez, disse que está nos planos da empresa tra zer para o país a produção de seu smartphone Treo. Os equipamentos estão em testes com algumas operadoras e a decisão deve ser tomada até o final do ano. A HP, a segunda maior vendedora de computadores de mão do mundo, atrás da PalmOne, também acredita na tendência e planeja para o ano que vem a chegada do modelo ao país.

Além da alta demanda do mercado corporativo, os fabricantes têm outros motivos para prestar atenção no Brasil. No resto do mundo, acuadas pelo avanço dos celulares sofisticados, as vendas de palms têm sofrido forte queda -- quase 12% no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o instituto de pesquisa International Data Corporation (IDC). Só a PalmOne, a líder de mercado, vendeu 38,7% menos, embora tenha registrado no último trimestre do ano fiscal um lucro de 16 milhões de dólares. "Nosso sucesso veio principalmente dos smartphones", diz Mendez. No Brasil, porém, parece que só agora, com atraso de pelo menos dois anos em relação aos Estados Unidos, os usuários descobriram que o computador de mão é bem mais que uma agenda eletrônica cara. "O segmento deve registrar crescimento de dois dígitos neste ano", diz Ivair Rodrigues, analista do IDC Brasil. Só as vendas da PalmOne brasileira cresceram 150% nos últimos 12 meses, e o plano da empresa é tornar o Brasil a base exportadora para a América Latina. Na HP, a procura pelos computadores de mão cresce de 5% a 10% por trimestre.

Some-se a este cenário o avanço da telefonia móvel no país. No ano passado, o Brasil tinha 46,3 milhões de celulares, base que deve crescer 25% neste ano -- acima da média mundial de 13%. "Deste total, de 8 milhões a 10 milhões de usuários têm o perfil adequado ao smartphone", diz Alexandre Szapiro, vice-presidente de vendas da PalmOne Brasil. O sucesso dos smartphones dependerá ainda da aceitação pelos consumidores. Nesse ponto, será decisivo o quesito preço. De acordo com estimativas dos especialistas, nenhum deles deverá ser lançado por menos de 2 000 reais. "Trata-se de um produto caro e sofisticado", diz Rodrigues, do IDC. "Mas os fabricantes terão a vantagem de ter as operadoras de celulares como canal de vendas."

TREO 600

O smartphone da PalmOne faz e recebe ligações, manda e recebe e-mails, dá acesso à internet em alta velocidade. Deve ser fabricado no Brasil.
Preço nos EUA: US$ 450

BLACKBERRY
A TIM promete para este ano no Brasil a sensação dos Estados Unidos. Além de funcionar como celular, é um poderoso gerenciador de e-mails.
Preço nos EUA: US$ 500

TUNGSTEN W
Não é exatamente um telefone inteligente, mas um palm que faz ligações com fone de ouvido. Permite que até cinco pessoas falem ao mesmo tempo.
Preço no Brasil: R$ 2 200

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