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Telefone
via internet se expande e cria bolha
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SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo
Uma nova "bolha" de tecnologia, semelhante à da internet nos
anos 90, está sendo inflada no setor de telecomunicações com
a crescente demanda pelos serviços de transmissão de voz via
internet, o VoIP (Voice over Internet Protocol). Já existem
mais de cem provedores de telefonia sobre plataforma IP no
país e alguns estão virando redes de franquias.
A maioria dessas empresas brotou nos últimos dois anos de
olho no mercado corporativo. Hoje, 70 mil companhias do país
já usam o VoIP para se comunicar com seus escritórios locais
ou internacionais, com reduções de custos superiores a 80%
em relação às tarifas cobradas pelas empresas de telefonia
fixa nas ligações de longa distância (DDD e DDI).
As "teles virtuais", como são chamadas, também estão comendo
pelas bordas o mercado residencial. Com um potencial de 3,5
milhões de usuários já conectados à internet por banda larga
--condição técnica básica para fazer ligações telefônicas
pela rede mundial--, esse segmento ainda engatinha. Dos 52
milhões de residências do país, apenas 6,7% estão plugadas
na banda larga.
Muitas das provedoras de VoIP que brotaram nos últimos dois
anos são clandestinas, operam sem nenhum registro na Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), órgão regulador do
setor, segundo Mauro Peres, diretor da IDC (International
Data Corporation), consultoria de análise de mercado em
tecnologia da informação e telecomunicações.
Embora a posição da Anatel, até o momento, seja a de não
regular o VoIP, para oferecê-lo as empresas têm de se
registrar como operadoras SCM (Serviço de Comunicação
Multimídia) ou como STFC (Sistema de Telefonia Fixa
Comutada).
"Nem todas cumprem essa exigência. O número de operadoras
com outorga da Anatel é pequeno", observa Daniel Duarte,
diretor de tecnologia da Tellfree Brasil, uma das primeiras
provedoras de VoIP do país, criada em 2003, em Porto Alegre.
Focada no mercado corporativo, a Tellfree obteve na semana
passada licença da Anatel para exploração do serviço
multimídia em âmbito nacional e internacional.
Com isso, seus clientes poderão receber e originar chamadas
para a telefonia convencional fixa ou celular. Antes, eles
só podiam falar de telefone IP para telefone IP dentro do
sistema da Tellfree. A empresa está formando uma rede de
franquias que trabalham com seus pacotes de tarifas e usam a
sua marca. O investimento para ser franqueado é pequeno, de
R$ 40 mil, e inclui o fornecimento de equipamentos, software
e o modelo de gestão da empresa.
Consolidação
A tendência do mercado de VoIP é um crescimento rápido e
posterior consolidação, de acordo com analistas. "Sempre que
surge uma nova tecnologia, há uma proliferação de oferta.
Depois, o mercado se consolida em "players" dominantes.
Nesse caso, todo mundo ainda está testando a oportunidade de
negócio que o VoIP representa", afirma Petrônio Nogueira,
sócio-diretor da consultoria Accenture.
Na opinião de Peres, da IDC, a explosão dos provedores de
VoIP é semelhante à que ocorreu com a internet, embora em
proporções menores. "No caso atual, há uma barreira de
entrada: exige-se conhecimento técnico e capital", diz ele.
Nos anos 90, qualquer um com uma idéia na cabeça e acesso à
rede mundial montava seu site. Depois, veio a quebradeira no
início da década atual.
A consolidação do mercado de VoIP, segundo Peres, vai se dar
com a quebra de algumas das novas teles virtuais, que não
vão agüentar a competição. "As de médio porte podem comprar
outras para ficar grandes, e as grandes companhias de
telefonia fixa vão comprar alguma grande que vire uma pedra
no sapato. As empresas que ganharem mais clientes na fase de
expansão do serviço acabarão sendo compradas pelas teles
fixas", diz Peres.
Na opinião de Victor Ribeiro, diretor de produtos do UOL
(Universo Online, empresa do grupo Folha e da
Portugal Telecom), "cedo ou tarde as empresas de telefonia
fixa entrarão mais agressivamente nesse mercado", acirrando
a competição.
O UOL foi a primeira empresa a oferecer o VoIP em larga
escala, segundo ele. O serviço foi lançado em maio de 2005
só para assinantes do provedor de internet. Desde dezembro,
está disponível também aos não-assinantes do UOL. "A demanda
cresce mensalmente, tanto de pequenas empresas como das
grandes."
Também os clientes residenciais que têm família fora de São
Paulo aderiam ao serviço. "O UOL Fone permite economia de
até 90% nas ligações interurbanas em comparação aos preços
das teles fixas", diz Ribeiro.
Modelo americano
Para Duarte, da Tellfree, o boom atual resulta da influência
do mercado americano, no qual há uma oferta inesgotável de
pacotes de tarifas de ligações locais. "As teles virtuais
não precisam investir em tecnologia.
Elas fazem parceria com algum provedor americano de VoIP que
fornece um software para permitir o tráfego de voz pela
rede, compram pacotes tarifários de diversos países pela
internet e os repassam aos seus clientes aqui", diz Duarte.
O usuário do serviço tem de ter um software para transmissão
de voz, um fone IP conectado direto no computador ou um
adaptador para falar pelo telefone convencional. Para usar o
serviço, o cliente compra um pacote de tarifas e carrega seu
telefone com créditos e tem disponível uma lista de cidades
e países que pode acessar pagando o equivalente a uma
ligação local.
Basta discar o código DDD ou DDI, o código de área e ligar
direto para o destino escolhido com economia de até 80% em
relação à tarifa convencional. "Quase todo o modelo do
negócio VoIP é de ligações pré-pagas", diz Duarte.
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