SÃO PAULO - Uma leva de novos e
poderosos concorrentes vai tentar
minar a liderança absoluta do Google
em redes sociais no Brasil.
Quando se fala em rede social no
Brasil, o primeiro nome que vem à
cabeça é o Orkut. Não poderia ser
diferente. Todos os meses, quase
sete em cada dez usuários de
internet residencial do país acessam
o site de relacionamento do Google
pelo menos uma vez. No último ano, a
audiência do Orkut cresceu 30%. A
interação e as conversas entre os
usuários são o coração e o sangue
que mantêm vivo esse tipo de site, e
nesse quesito os internautas daqui
são imbatíveis. Além de passar mais
horas online do que qualquer outra
nacionalidade, os brasileiros são
líderes mundiais em tempo de
navegação nas redes de
relacionamento. Também estão entre
os mais jovens, segundo Alexandre
Magalhães, gerente de análise de
mercado do Ibope/NetRatings, empresa
que faz o principal levantamento de
audiência de internet. Traduzindo: o
Brasil é uma mina de ouro para as
redes sociais — e o resto do mundo
percebeu. O Facebook, maior rede
social do planeta, acessada por
cerca de 120 milhões de pessoas,
terminou em junho um processo de
tradução para o português. A rede
americana LinkedIn, com foco no
ambiente profissional, vai lançar
uma versão para o Brasil em breve, e
a novata Sonico, da Argentina,
abrirá um escritório no país no
segundo semestre. O Orkut, que até
agora reinou solitário, vai
enfrentar competição por todos os
lados.
Desbancar o líder será uma tarefa
dificílima, pelo menos no curto
prazo. A rede tem no país mais de
50% dos seus 27 milhões de usuários,
e se beneficia do efeito de rede:
trocar o Orkut por outra rede só faz
sentido se todos os seus amigos
forem junto, o que torna o custo da
mudança muito alto. Mas os novos
competidores têm força, dinheiro e,
ao contrário do Google, são
especialistas em redes sociais.
Facebook e MySpace têm alcance
global e são os dois nomes mais
conhecidos mundialmente nesse
segmento. Mas quem vem apresentando
os melhores resultados, de acordo
com os dados do Ibope/NetRatings, é
o quase desconhecido Sonico, da
Argentina. Com menos de um ano de
idade, o serviço criado pelo
economista Rodrigo Teijeiro teve um
crescimento formidável entre os
usuários brasileiros. A versão em
português saiu há apenas cinco meses
e o Sonico já conta com 3,9 milhões
de usuários no país. Nascida como
uma empresa de cartões virtuais, a
Sonico se converteu numa rede de
relacionamentos e já aparece como a
segunda mais visitada pelos
brasileiros. O sucesso foi tão
grande que a companhia terá um
escritório brasileiro no segundo
semestre. Para o diretor de
comunicação Juan Pablo Sueiro, um
dos motivos foi aprender com os
erros do líder. Uma equipe de 40
pessoas checa todos os novos perfis.
Fotos de animais ou celebridades
numa página pessoal, por exemplo,
são vetadas. “Credibilidade e
privacidade são fundamentais para
que os usuários recomendem uma nova
rede para seus amigos”, diz Sueiro.
O líder mundial Facebook também
vem crescendo rapidamente por aqui
graças a um sistema mais
sofisticado. Além de montar listas
de amigos e participar de
comunidades, o Facebook permite que
seus usuários escolham entre mais de
24 000 pequenos programas para
instalar em seus perfis. Criados por
desenvolvedores independentes, esses
miniaplicativos podem ser jogos,
ferramentas de comparação do gosto
musical ou maneiras divertidas de
interação com os amigos. Embora
ainda seja relativamente
desconhecida dos usuários
brasileiros, a experiência mais
completa do site americano pode ser
uma ameaça real ao Orkut, diz Luli
Radfahrer, professor de comunicação
digital da Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de São Paulo.
“Muitas das novas redes que estão
surgindo são apenas cópias, mas o
Facebook traz algo realmente novo:
os aplicativos”, afirma Radfahrer. O
Google anunciou no final do ano
passado que o Orkut também teria
aplicativos criados por
programadores independentes, mas a
estréia da novidade já foi adiada
pelo menos duas vezes nos últimos
dois meses. Uma nova data foi
marcada para o dia 10 de julho —
ainda assim, o lançamento será
gradual, com conclusão prevista para
o final do mês. Ou seja, vai levar
um bom tempo até que haja aplicações
variadas e, acima de tudo, com
qualidade.
Dono da maior audiência do
Brasil, o Google não ganha um
centavo sequer com o Orkut. Mas
alguns concorrentes têm, sim, um
modelo de negócios claro para
rentabilizar a audiência das redes
sociais. Nesse sentido, o mais
inovador deles é o LinkedIn, rede
voltada para ser um repositório
online dos contatos criados no
ambiente de trabalho. Além das
receitas com publicidade, a idéia é
criar modelos de cobrança para
empresas que queiram recrutar
funcionários na rede ou publicar
anúncios de vagas. Usuários mais
devotados podem pagar para ter uma
conta Premium, que dá direito de
fazer pesquisas mais completas, por
exemplo. Com um claro modelo de
negócios, o serviço criado pelo
multimilionário americano Reid
Hoffman já recebeu quatro rodadas de
investimento de capitalistas de
risco, que totalizaram 80 milhões de
dólares — o que levou a avaliação do
serviço a 1 bilhão de dólares.
Embora seja um serviço de nicho, o
LinkedIn deve capturar um tipo de
usuário que está fora do Orkut por
achar que um perfil na rede não é
condizente com a imagem no trabalho.
O site ainda não foi traduzido para
o português, mas cerca de 350 000
brasileiros já criaram seu perfil.
“Podemos explorar um mercado
potencial de 20 milhões de
profissionais no Brasil”, diz
Florencia Pettigrew, gerente de
marketing internacional do LinkedIn.
Apesar do começo auspicioso no
Brasil — compreensível, dado o
entusiasmo do público daqui por tudo
o que diz respeito a interação —, o
impulso inicial das redes não é
garantia de sucesso. Essa é a crença
de Emerson Calegaretti, diretor da
operação brasileira do MySpace. Para
acelerar o crescimento no Brasil, o
site desenvolveu uma ferramenta que
permite aos usuários convidar
contatos do Orkut. Mas talvez o
grande inimigo do líder sejam suas
próprias deficiências. Após meses
sob os holofotes da CPI da
Pedofilia, o Google firmou um termo
de ajustamento de conduta com o
Ministério Público Federal. Os
mecanismos de investigação dos
supostos pedófilos foram azeitados.
Foram estabelecidos mecanismos de
filtragem do conteúdo enviado ao
site e a colaboração com as
autoridades brasileiras ficou mais
eficiente.
A imagem do serviço, porém,
sofreu com tanta atenção na mídia.
Igualmente, muitos usuários
pioneiros, justamente os
responsáveis por espalhar a palavra
do Orkut nos primeiros tempos,
ficaram incomodados com a falta de
recursos para garantir a
privacidade. Durante muito tempo,
spam, perfis falsos e vírus se
disseminaram livremente pelo Orkut,
e esse tipo de dano é difícil de
reverter. Desbancar o líder não será
tarefa fácil para os concorrentes.
Como diz Felix Ximenes, diretor de
comunicação do Google: “Os
brasileiros abraçaram o Orkut antes
de o resto do mundo descobrir as
redes sociais”. Essa é uma vantagem
considerável. Os cerca de 16 milhões
de usuários por mês também são uma
fortaleza difícil de ser
conquistada. Mas pode estar certo: o
ataque vai vir de todos os lados.
Horário nobre
Orkut: 16 140 0000
Sonico: 1 830 000
MySpace: 1 113 000
Via6: 957 000
hi5: 644 000
Habbo: 385 000
Facebook: 365 000
(1) Em 5/8 Fonte: Ibope/NetRatings