SÃO PAULO - Para associação,
exigências de projeto de lei criam
estado policial e limitam inclusão
digital.
O projeto de crimes de
informática e controle da web, já
aprovado no Senado, abre graves
riscos à privacidade dos usuários,
cria um clima de denuncismo entre os
responsáveis por redes de PCs e
dificulta a expansão do uso da
internet no Brasil.
Esta é a avaliação de Eduardo
Parajo, presidente da Abranet,
associação que reúne os provedores
de acesso à internet brasileiros.
Segundo Parajo, há itens no
projeto que são positivos, como a
tipificação de crimes eletrônicos,
porém o texto contém, na sua visão,
artigos absurdos como a necessidade
dos provedores guardarem logs de
acesso dos usuários por três anos.
“Nós calculamos que esta
exigência vai impactar entre R$ 13
milhões e R$ 15 milhões por ano os
custos dos provedores, por ano, no
Brasil para armazenar logs de acesso
por 3 anos. Consideramos o tempo
muito longo e em desacordo com leis
internacionais, como a convenção de
Budapeste, citada nas discussões do
projeto pelo próprio senador Azeredo
(Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator
do texto do projeto) que prevê 90
dias de tempo de armazenagem”, diz.
Segundo Parajo, muitos provedores
já guardam os logs de acesso e
fornecem essas informações, quando
autorizados judicialmente, ao
Ministério Público e à Justiça.
“Desde 2005 temos um trabalho de
registros que permitiu
responsabilizar responsáveis por
crimes de pedofilia e racismo na
internet”, diz Eduardo.
O presidente lembra que a lei
prevê esta responsabilidade (guardar
logs) também para administradores de
redes privadas. “Essa exigência fará
muitas cidades digitais, projetos de
inclusão digital ou mesmo redes
corporativas a retrair seus
investimentos”, avalia.
“No projeto, fala-se muito de
crimes, de pedofilia. Mas devemos
lembrar que a internet é uma
ferramenta também muito positiva,
usada para difusão da cultura,
educação, entretenimento e que, ao
criar estas limitações, o projeto
impede um avanço do acesso a esta
ferramenta por parte dos
brasileiros”, diz Parajo.
Outro aspecto considerado pela
Abranet muito negativo no texto é a
determinação de que os provedores
encaminhem, sigilosamente, à polícia
e à Justiça as denúncias que
receberem. “Não cabe a nós avaliar
se uma denúncia procede ou não. Não
podemos checar o que os usuários
fazem online, sob pena de ferir a
privacidade deles”, argumenta.
Para a associação, denúncias não
devem ser captadas pelos provedores,
mas sim por quem pode investigá-las,
ou seja, a polícia e o Ministério
Público. “Se a polícia entende que
há algo a investigar, então pode vir
até nós com uma ordem judicial que
forneceremos os dados de logs de
acesso. Mas não podemos nós sermos
os responsáveis por policiar
internautas”, diz.
O executivo acredita que os itens
mais controversos da lei podem ser
alterados na Câmara. “Acho que toda
a sociedade deve se levantar contra
este projeto absurdo. Pois não são
só os provedores os prejudicados,
mas também empresas e, sobretudo, o
usuário comum, que pode ser
criminalizado. Se não houver uma
mobilização em massa, corremos o
risco de ver este projeto virar
lei”, afirmou.