Bruno Vieira Feijó, da
INFO
Os amigos Daniel Heise, Alexandre Bernardoni, Gustavo
Zaiantchick e Giovanni Cervieri estavam na casa dos 20 anos
quando fundaram a Direct Talk em 2000. Precisando de capital
para crescer, venderam 40% da companhia a quatro fundos de
investimento. O produto da empresa, um sistema unificado de
atendimento ao consumidor — que junta e-mails, telefonemas e
chats — foi adotado por call centers e companhias aéreas. Em
2008, a crise econômica deu as caras, mas a meta de
crescimento foi batida com uma receita de 12 milhões de
reais — 50% a mais que em 2007.
A Direct Talk é um exemplo de empresa brasileira bancada
pelo capital de risco. Agora, mesmo com um cenário econômico
turbulento, os quatro sócios contam com um reforço dos
investidores. Em 2009, vence o prazo para que um dos fundos,
a DGF, opte por sair ou continuar como sócio. “Existia um
movimento de saída. A questão é que agora a noiva ficou mais
atraente”, diz Daniel Heise. O quarteto planeja a saída
total dos fundos apenas por volta de 2012.
Apesar da crise de liquidez, os fundos de investimento ainda
são uma fonte de suporte para as startups. Segundo o Centro
de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV (GVcepe),
desde 1999 até hoje os fundos investiram 26,6 bilhões de
dólares no país, e estão em fase de captação para mais 8,6
bilhões de dólares. Se os bancos estão mais rígidos para
conceder empréstimos, os fundos têm dinheiro para investir.
“É claro que a cautela é preponderante na escolha das
empresas. Mas a busca por inovações não parou, continuamos
atrás de bons negócios”, diz Carlos Eduardo Guillaume,
diretor-executivo da Confrapar, que investe em empresas
nascentes de TI.
Do VoIP à virtualização
A Confrapar avalia empresas de tecnologia em São Paulo, Rio
de Janeiro e Minas Gerais e pretende fechar dois acordos em
janeiro. “O empreendedor deve aproveitar os solavancos do
mercado para procurar espaços”, diz Guillaume. E as
oportunidades estão aí: em busca de eficiência e de redução
de custos, as corporações investem mais em gestão de
processos. “Vantagem para as tecnologias como virtualização,
VoIP e software de análise automatizada de risco”, diz
Frederico Greve, sócio-diretor da DGF, fundo em fase
avançada de análise de quatro empresas.
A empresa com fome de capital precisa mais do que grande
potencial em inovação e de retorno financeiro para atrair os
investidores. “Um dos segredos é constituir uma sociedade
com as melhores práticas em governança desde a nossa
fundação, com um conselho de administração formado por
executivos experientes”, afirma Daniel Heise, da Direct Talk.
Um dos quatro fundos que investem na empresa é o Rio Bravo,
do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Um
investidor anjo, pessoa física, também ajudou a levantar
capital.
Heise recomenda aos interessados consultar empreendedores
que receberam investimento dos fundos com que estão
negociando. “É uma prática comum, já recebi vários
empresários para conversar. O empreendedor também deve fazer
a própria due dilligence (Investigação feita por uma das
partes da negociação sobre os negócios da outra) sobre o
investidor”. Guillaume, da Confrapar, concorda: “Para haver
empatia, o ideal é que o investidor seja especializado
naquele negócio. Se sua empresa vende software, procure quem
sabe testar um programa, que tenha intimidade com a venda de
licenças”.
Com que fundo eu vou?
Para quem procura investidores, o primeiro passo é
identificar o tipo de fundo mais adequado à fase em que a
empresa se encontra. Em ordem crescente de valor de
investimento e estágio, há os investidores anjos e os fundos
de capital semente, de capital de risco e de private equity
(veja quadro). Os dois primeiros investem em empresas
iniciantes, e os dois últimos, apenas naquelas que já têm um
faturamento significativo — a DGF exige receita anual de 10
milhões de reais — e topam vender o controle acionário.
Mas o capital de risco não serve para todas as empresas. Se
o interesse essencial é dinheiro, os bancos podem ser a
melhor opção. “Private equity é um conjunto de investidores
que se tornam sócios da empresa e influem para aditivar sua
profissionalização, transparência e relacionamento com o
mercado. O fundo participa das reuniões e até indica
funcionários para ocupar os cargos de alto-escalão”, diz
Mario Malta, associado sênior da Advent no Brasil, que busca
empresas com faturamento anual mínimo de 100 milhões de
reais. O investimento de risco tem o objetivo primordial de
gerar lucro. “A idéia é fazer a empresa crescer e revendê-la
com lucro exponencial para os grandes players do mercado”,
diz Sidney Chameh, sócio-fundador da DGF.
Em setembro, a brasileira Compera nTime, especializada em
marketing e mídia para celulares, foi objeto de uma
negociação que gerou bons lucros. Comprou a concorrente
Movile e anunciou uma troca de sócios: saiu o fundo
brasileiro Rio Bravo e entrou a sul-africana MIH Holdings
(do conglomerado de mídia Naspers) – os valores não foram
revelados. A MIH ganhou um novo braço tecnológico, a Compera
mais dinheiro para financiar a expansão internacional, e a
Rio Bravo vendeu sua participação com 400% de lucro. Nada
mau para uma empresa que nasceu na incubadora da Unicamp.