Stephanie Clifford
Como muitos idosos, Paula Rice, de Island City, Kentucky, vem vivendo em crescente isolamento nos últimos anos. Seus quatro filhos são adultos e vivem em outros Estados, seus dois casamentos terminaram em divórcios e seus amigos estão dispersos. Ela passa a maioria dos dias sem conversar com ninguém pessoalmente.
Mas Rice, 73, não é de forma alguma solitária. Restrita à sua casa depois de um ataque cardíaco sofrido dois anos atrás, ela começou a freqüentar o site de redes sociais Eons.com, uma comunidade online para idosos, e também o PoliceLink.com (ela trabalhava como atendente do serviço de emergências policiais). Agora, ela dedica até 14 horas ao dia a conversas online.
"Eu estava morrendo de tédio", diz. "O Eons me deu motivos para continuar".
Mais e mais pessoas da geração de Rice estão aderindo a redes como o Eons, Facebook ou MySpace, e isso não é novidade. Entre as pessoas mais velhas que começaram a usar a internet no ano passado, o número de visitantes a redes sociais cresceu quase duas vezes mais rápido do que o índice geral de crescimento no uso de internet nessa faixa etária, de acordo com o grupo de medição de audiência comScore. Os pesquisadores que se concentram no estudo do envelhecimento estão estudando o fenômeno para determinar se essas redes podem oferecer alguns dos benefícios comuns a um grupo de amigos reais, mas de uma forma muito mais fácil de montar e manter.
"Um dos maiores desafios ou perdas que enfrentamos ao envelhecer, francamente, não se refere à saúde mas à deterioração de nossa rede social, porque nossos amigos adoecem, nossos cônjuges morrem, nós nos mudamos", diz Joseph Coughlin, diretor do Laboratório do Envelhecimento no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
"O novo futuro da velhice envolve continuar a viver em sociedade, continuar a trabalhar e continuar conectado", ele acrescentou. "E a tecnologia terá parte importante nisso tudo, porque a nova realidade é cada vez mais uma realidade virtual. Isso nos oferece um caminho para realizar novas conexões, fazer novos amigos e reconquistar um senso de propósito".
Cerca de um terço das pessoas com idade de 75 ou mais anos vivem sozinhas, de acordo com um estudo conduzido em 2009 pela Associação Americana de Aposentados (AARP). Em resposta ao número crescente de idosos nos Estados Unidos, o Instituto Nacional do Envelhecimento está oferecendo US$ 10 milhões em verbas a pesquisadores que examinam a neurociência e seus efeitos sobre o envelhecimento.
As redes online podem oferecer às pessoas mais velhas "um lugar no qual elas se sentem integradas, porque podem realizar essas conexões e falar com pessoas sem que precisem pedir mais alguma coisa aos seus amigos ou familiares", disse Antonina Bambina, socióloga da Universidade do Sul de Indiana que escreveu um livro sobre as redes sociais como ferramenta de apoio.
Para os familiares de idosos, as redes sociais podem facilitar um pouco as tarefas. Chris McWade, de Franklin, Massachusetts, o membro mais jovem de uma grande família, recentemente ajudou na mudança de seus pais, avós e um tio para comunidades de aposentados. Disse que passou três anos "atravessando o país de avião e cuidando das necessidades de muita gente", e testemunhando o isolamento e a depressão que a velhice traz.
Isso resultou na ideia da MyWayVillage, uma rede social fundada em Quincy, Massachusetts, em 2006, com a ajuda de McWade. Ele agora vende o serviço a casas de repouso, e acaba de concluir programas-piloto em diversas casas de repouso em Illinois e Massachusetts; ele afirma que já fechou contratos para expandir o serviço a diversos outros locais.
Cerca de dois anos e meio atrás, Howe Allen, um corretor de imóveis que vive em Boston, transferiu seus pais para o River Bay Club, um lar de idosos em Quincy, Massachusetts, no qual o MyWay está em uso.
A mãe dele morreu pouco depois, mas seu pai, Carl, conseguiu fazer novos amigos e trocar histórias com pessoas conhecidas por intermédio da MyWay. O pai dele jamais havia usado um computador, mas aprendeu rápido; o software inclui sessões de treinamento para o uso do aparelho. Depois que ele morreu, em dezembro, o serviço em sua homenagem conduzido na casa de repouso incluía as fotos que ele tinha subido para o MyWay, trechos de suas recordações postadas no site e elogios dos amigos que ele conheceu online.
"Foi uma cerimônia muito comovente", disse Allen. "Era mais do que apenas o uso do computador; o serviço o afetou de maneiras que ficam bem além da era da eletrônica. Permitiu que uma pessoa continuasse a crescer como ser humano em uma idade onde quase todos nós presumimos que as pessoas parem de crescer".
Em uma segunda-feira recente, Neil Sullivan, um gerente regional da MyWay, estava fazendo uma palestra diante de cerca de 20 moradores do River Bay Club, na biblioteca do estabelecimento.
Ele veio preparado, com imagens e textos, mas o grupo queria mesmo conversar sobre suas vidas. Quando Sullivan mostrou uma foto de um Chevrolet 1950, um morador contou que "tive um Chevy 1957", e outro respondeu que "o meu era um Chevy 1949". Um homem que estava vestido em um suéter verde limão acrescentou que "o melhor carro que já vive na vida foi um Dodge Business Coupe".
Sarah Hoit, co-fundadora e presidente-executiva da MyWay, disse que, para as pessoas mais velhas, aprender a usar serviços online não era um fim em si. "Eles desejam um veículo para conhecer pessoas novas e trocas experiências sobre suas vidas", disse. "Querem ser estimulados".
Além das sessões semanais, os moradores do River Bay usam o site para postar histórias com títulos como "minha vida de enfermeira" ou "eu trabalhei para a Howard Johnson em Quincy". Sunny Walker, 89, que se recusava a utilizar uma máquina de escrever elétrica em seu emprego na secretaria de uma escola porque odiava profundamente qualquer tecnologia, agora joga online e envia mensagens a amigos pelo site.
"Eu posso dizer sem hesitar que isso é a melhor coisa para os idosos", afirma. "Representa um desafio para as suas mentes, se você quer saber a verdade. Foi um desafio para mim".
Algumas pesquisas sugerem que a solidão pode ter um efeito de aceleração sobre a demência senil, e o Dr. Nicholas Christakis, especialista em medicina interna e cientista social da Universidade Harvard, diz que está considerando conduzir uma pesquisa para determinar se conexões sociais online serão capazes de retardar a demência, como as conexões sociais físicas provaram fazer de acordo com alguns estudos.
"As redes sociais online ajudam a concretizar uma antiga propensão que temos a nos conectarmos com os outros", ele afirma.
Essa propensão pode ter origens antigas, mas os meios utilizados para implementá-la na era da tecnologia são os mais modernos. Mollie Bourne, proprietária de uma pista de golfe e moradora em Puerto Vallarta, México, por metade do ano, se conecta ao Facebook algumas vezes por semana. Ela gosta de ler o que seus netos escrevem e de ver as fotos que postam, mesmo aquelas tiradas em bares e festas que as pessoas dificilmente gostariam de exibir a uma avó.
"Pelo amor de Deus, todos nós agimos exatamente da mesma maneira quando estávamos na faculdade", ela diz. "Isso é uma coisa que uma pessoa de 76 anos aprende. Eu circulei bastante. Vi de tudo. Não é fácil me chocar".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times