DÉBORA YURI
colaboração para a Folha de S.Paulo
Com mais de 400 contatos no MSN, Thiago Meireles Dalcin, 18, sabe quem priorizar.
Dezenas de janelas pipocam no monitor, mas ele fixa os olhos em uma. "A menina pode engravidar se eu transar com ela menstruada?", digita.
Thiago é um dos cerca de 1.400 usuários do SOSex, serviço do Instituto Kaplan em que uma orientadora sexual responde a dúvidas via MSN. "Fico on-line 24 horas por dia, então é natural fazer um monte de perguntas ali mesmo", diz ele.
Além do MSN, sites escolares, cartões virtuais, Facebook e Orkut: o novo reduto da educação sexual é a internet.
"É o meio que os jovens elegeram para se comunicar. Com a tecnologia, eles ficam mais à vontade para contar detalhes, não precisam se identificar ou se expor", diz a psicóloga Cristina Romualdo, do SOSex.
Entre as aulas de orientação sexual que tem na escola e as sessões tira-dúvidas pelo MSN, Victória Morena da Silva, 15, prefere a segunda.
"É mais útil. Pelo computador, você resolve os maiores problemas, porque é mais fácil falar a verdade e fazer algumas perguntas que, para o médico, a gente não faz, por ter vergonha", compara. Suas últimas consultas on-line foram sobre camisinha e ciclo menstrual.
Thiago concorda. "A vergonha é menor, talvez porque ninguém te vê e você não vê ninguém. Digitar é mais fácil do que falar cara a cara."
Foi no MSN que Ricardo*, 18, conseguiu falar sobre disfunção erétil. "Tomei um remédio tarja preta por alguns anos, porque era muito ansioso, não dormia bem. Aí, falhei algumas vezes. Mesmo depois que parei de tomar, voltou a acontecer, mas era psicológico", conta.
Sala de aula não basta
A onda da educação sexual on-line cresce. Em junho, o Ministério da Saúde lançou a comunidade "Atitude Contra a Aids" no Orkut; um mês depois, ela estreou no Facebook, a maior rede social do mundo.
"Entramos nesse universo depois de perceber que a internet é o meio mais eficaz de falar sobre sexo com o adolescente", diz Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST (doença sexualmente transmissível) e Aids do ministério.
A última pesquisa da entidade sobre o comportamento sexual do brasileiro (leia na pág. 8), que mostrou a importância da web na vida sexual dos jovens, "abriu os nossos olhos", diz ela. "Orientação sexual não pode mais ficar restrita à casa e à sala de aula. Era preciso partir para essas mídias."
O ministério também lançou na semana passada o site Muito Prazer, Sexo sem DST, com dicas de prevenção e de tratamento. Ele permite o envio de cartões virtuais a parceiros.
Dicas pelo celular
"Recebo uns 50 e-mails por mês. Os temas do momento são pílula de emergência e medo de falhar, quando os meninos bebem e usam drogas", conta Maria Helena Vilela, responsável pelo Sex Tips, que o Colégio Bandeirantes disponibiliza a alunos e não alunos. Depois de entrar no site, o jovem manda sua pergunta por e-mail.
Nos EUA, onde a tecnologia é usada para falar sobre sexo com adolescentes há mais de uma década, a educação sexual chegou ao celular, porque os jovens podem até não estar conectados o tempo todo -mas seus telefones estão.
Os usuários enviam mensagem de texto para a linha da Campanha de Prevenção da Gravidez na Adolescência, do governo da Carolina do Norte, e recebem a resposta no próprio aparelho. Para atrair o público-alvo, anúncios foram veiculados no MySpace.
Thiago, que já virou habitué do S.O.S. sexual via MSN, vislumbra boas noitadas na companhia de um celular amigo.
"Seria show de bola, com a modernidade de tudo. Por exemplo, o cara está na balada e algo vai rolar, mas ele tem dúvida sobre alguma coisa: basta ele mandar um SMS que o problema estará resolvido..."
* Nome fictício.