JULIO WIZIACK
da Folha de S.Paulo
O Plano Nacional de Banda Larga, que está prestes a ser
anunciado pelo governo federal, deverá incentivar os pequenos e
médios empreendedores da internet, uma forma de fazer com que o
acesso chegue a localidades onde as operadoras não têm interesse
comercial.
A justificativa do governo é a de que a banda larga ajuda a
promover o desenvolvimento econômico regional. Cálculos do Banco
Mundial indicam que a cada 10% de aumento de penetração da banda
larga, o PIB do país pode crescer 1,38%. Até 2018, a Anatel
prevê 160 milhões de conexões à internet (fixas e móveis), dez
vezes mais do que o total de hoje.
Além de estímulos específicos a esses pequenos empresários,
que ainda não foram definidos, o governo pretende transformar a
banda larga em serviço de valor agregado.
Se isso ocorrer, as empresas de internet não vão mais
recolher ICMS, imposto estadual que pode chegar a 35%, e
passarão a pagar ISS, imposto municipal de até 5%.
O governo estuda neste momento o impacto que a medida pode
causar na arrecadação dos Estados. A proposta encontra
resistência porque há unidades da federação em que o setor de
telecomunicações participa com até 12% da arrecadação, segundo
dados da Telebrasil (Associação Brasileira de Telecomunicações).
A ideia da desoneração da banda larga surgiu há dois meses na
Secretaria Estratégica da Presidência da República. "Precisamos
estimular a inclusão digital", diz Daniel Vargas, ministro da
Secretaria.
Vargas afirma que a proposta não será transformada em lei
porque não é esse o papel da secretaria. "Só apresentamos
projetos e diretrizes ao presidente", diz. Segundo Vargas, o
assunto deve ser discutido com urgência até o final de 2009. Já
estão envolvidos nesse debate três ministérios: das
Comunicações, da Cultura e da Ciência e Tecnologia. "O
desenvolvimento econômico de áreas remotas está ligado à
presença das operadoras nesses locais. E hoje elas não estão",
diz Vargas.
Sem interesse comercial
Embora sejam obrigadas a levar a infraestrutura de acesso à
internet a todos os municípios do país, as teles só têm
interesse em fazer negócios com 62% dessas localidades.
"Apesar de o investimento para uma companhia desse porte ser
pequeno em cidades menores, os custos operacionais são
proporcionalmente enormes. Elas levariam muito mais tempo para
amortizar o investimento em lugares com menos demanda", diz
Jefferson Sedlacek, sócio da i+, provedora de Manaus (AM).
É por isso que o governo quer estimular os pequenos
empreendedores. Há sete anos, os acessos realizados por clientes
dessas empresas não representavam 0,5% do total do país. Hoje já
são 2,2%.
Em Macapá (PA), a TV Som está investindo US$ 250 mil na
compra de equipamentos e foi buscar o "link" de uma grande
operadora em Marabá (PA). A procura aumentou tanto que, em dois
anos, ela já contrata 25 megabytes de banda para espalhar o
sinal em sua região por ondas de rádio.