Isso poderia acontecer com você. Seu chefe o chama e diz que seu cargo já não existe mais. Você vai para casa desnorteado e entra no Facebook. E aí está uma mensagem que lhe pergunta: "No que você está pensando agora?" Você contaria a seus contatos do Facebook que perdeu o emprego? Ou resiste à tentação de publicar essa informação pessoal através de meios eletrônicos?
Muitos enfrentam esse dilema na atual era de altos índices de desemprego e crescimento das redes sociais. Mesmo não existindo um protocolo definido, para muitos é importante atualizar sua situação para avisar ao mundo que estão desempregados.
Geoffrey Abraham, redator publicitário em Portland, EUA, acredita que o Facebook não é um lugar para chorar seus pesares. Em seu blog www.looklefty.blogspot.com, seu furioso post "Pessoal, vamos manter o Facebook divertido" vai contra as pessoas que se queixam de estarem desempregadas no site de relacionamento.
"Entendo que o que estou vendo é um sinal dos tempos. Em tempo real. Inclusive posso imaginar esse pessoal oprimido pensando, 'Ei, tenho muitos amigos aqui. Talvez um deles possa me conseguir um emprego'", escreveu. "Mas nada é menos atraente do que o desespero".
Pode ser fácil rotular Abraham como um rabugento que não sabe o que é perder o emprego, quando na verdade ele passou por isso este ano (atualmente está empregado). Como apontou em seu blog, "A última coisa que eu queria era que meus 356 amigos soubessem que havia sido demitido. A maioria destas pessoas nem sequer sabe o que faço. Seria como engordar 25 quilos antes do próximo encontro com o pessoal do colegial e dizer a todos que continuo morando no sótão da casa de meus pais."
Embora seja sugestivo o pensamento de Abraham de que confessar o desemprego publicamente é uma medida desesperada, muitos sentem que ao fazê-lo adquirem um controle maior da situação.
Christina Zila foi demitida do cargo que ocupava como relações públicas em Las Vegas no início de abril. "Uma das primeiras coisas que fiz, depois de encaixotar minhas coisas e ir a um almoço, foi twitar", disse. "Meu pensamento naquele momento foi que era a forma mais eficaz de informar meus amigos e contatos sobre o que aconteceu."
Ela disse que tudo o que escreveu foi de forma neutra porque não queria causar ressentimentos em sua empresa. Acabou recebendo algumas propostas de trabalho, mas mais importante que isso, disse, foi o apoio e a compreensão que recebeu de amigos de todo o país e do mundo.
"Ficou mais fácil quando vi meus amigos pessoalmente, uma vez que já havia superado a fase horrível de dizer 'me demitiram' e já podíamos passar a 'Como vai a procura por um novo trabalho?'", disse. "Como estar desempregado tem pouco ou nada a ver com seu rendimento pessoal, por que deveria ser um segredo? Quanto mais gente souber que você está procurando emprego, mais olhos e ouvidos estarão lhe ajudando na busca".
Zila conseguiu um novo trabalho três semanas depois. "Isso também coloquei no Twitter e no Facebook, em parte, para dar à minha nova empresa um pouco de publicidade gratuita", disse ela.
Hal Niedzviecki, autor do recente livro The Peep Diaries: How We're Learning to Love Watching Ourselves and Our Neighbors ("Diários de espiadelas: como estamos aprendendo a amar assistir a nós mesmos e a nossos vizinhos", em tradução livre), disse que os sites de relacionamento oferecem uma ilusão de que são lugares onde é possível expressar sentimentos e passar o tempo."Estamos usando a vida de outras pessoas para nosso entretenimento", disse. "Nossos problemas serão entretenimento para os outros. Quero oferecer entretenimento aos demais dessa forma? A tragédia é um grande entretenimento."
Postando com cuidado
Talvez você queira aumentar os acessos de seu blog, talvez você queira mais seguidores no Twitter, ou ainda que seus amigos no Facebook prestem mais atenção em você. Se alguma coisa dramática está acontecendo em sua vida, você chamará a atenção. Por outro lado, é esse o tipo de atenção que você quer?
Ainda que alguns possam interpretar a perspectiva de Niedzviecki como cínica, talvez seja melhor você respirar profundamente e pensar no que realmente quer dizer se decide fazê-lo publicamente. Dayna Steele, especialista em treinamento de meios sociais no Texas, aconselha que se deve escrever cada anúncio cuidadosamente.
"Eu contaria a meus amigos no Facebook que estou procurando emprego, no que é que trabalho, qual a minha experiência e o que estou procurando", disse ela. "Então, se alguém perguntar, é preciso ser transparente - deve-se dizer a verdade, que foi despedido. Mas não vejo o porquê de se começar por aí."
Mesmo Geoffrey Abraham, o homem que é contra que as pessoas falem que foram demitidas no Facebook, anunciou sua própria demissão em seu blog. Então, qual a diferença? Abraham afirma que sua postagem foi escrito com muito sarcasmo.
Ele sustenta que uma resposta direta é melhor do que toda uma explosão. "Contatei várias pessoas em minha rede de forma individual", disse. "É mais pessoal e específico." E ele disse que se você publicar no Facebook, "Faça só uma vez. Depois disso, as pessoas sentirão pena de você, o que torna as coisas mais difíceis".