O YouTube, no entanto, enfrenta um sério obstáculo: vídeos muito curtos não costumam reter o interesse se assistidos em longas sequências. Resta determinar se os telespectadores algum dia se interessarão por assistir durante horas a vídeos de em média dois minutos e meio de duração, mesmo que produzidos profissionalmente e bem enquadrados aos gostos e expectativas da audiência.
O final de um programa - quer dure dois minutos ou duas horas - em geral leva o espectador a considerar a possibilidade de fazer outra coisa. No caso do YouTube, claro, os finais vêm mais rápido. Jamie Davison, um gerente de produto do YouTube, diz que os 15 minutos de uso diário do site por um consumidor médio tipicamente envolvem seis vídeos, e o final de cada um deles representa um "ponto de decisão, e cada ponto de decisão é uma oportunidade de sair". "Estamos considerando como convencer o usuário a aceitar uma experiência de uso mais passiva, na qual ele só se recoste e assista", disse Davidson.
Margaret Stewart, diretora da equipe de experiência de usuário do YouTube, diz que o site não só está se esforçando para "integrar conteúdo curto de maneira mais contínua" mas também está criando "conteúdo em forma mais longa", como programas de TV, episódios produzidos especialmente para a web bem como eventos esportivos e musicais transmitidos ao vivo. Ela diz que o YouTube dispõe de sete mil horas de filmes e programas a oferecer.
Mas proporção embaraçosa desse conteúdo parece ser de um tipo que nem mesmo chega a ser ruim o suficiente para divertir. Em janeiro, Joe Queenan, crítico do jornal Guardian, resumiu o conteúdo assistido como "muitos vídeos sentimentais, filmes trash, filmes cult, filmes que nunca foram lançados no cinema e projetos pessoais realizados por vaidade ou como paródia".
The Torture Chamber of Dr. Sadism e Cheerleader Ninjas estão entre os títulos do YouTube dos quais Queenan disse que "todos parecem divertidos. Mas não são. De jeito nenhum".
No final deste ano, o YouTube vai adotar um design radicalmente diferente, mais leve, com o YouTube Leanback, que terá endereço separado na web e começará a executar o vídeo assim que o usuário clicar no site. Quando um vídeo se encerrar, o seguinte começará sem intervalo, eliminando os temidos "pontos de decisão", que convidam o usuário a sair. Os espectadores poderão selecionar canais, mas o fluxo de programas, quer curtos, quer longos, será contínuo.
"Não haverá necessidade de navegar, fazer buscas, clicar. Funcionará como a televisão", disse Hunter Walk, gerente de programa do YouTube que exibiu uma pequena amostra do novo site em uma conferência do Google para programadores este mês.
O Google, que controla o YouTube, agora considera as salas de estar como território estrategicamente importante para a empresa, e não quer esperar para que o YouTube conquiste espaço gradualmente.
O mais importante anúncio da recente conferência foi a introdução do Google TV, que busca unir fabricantes de hardware e empresas de TV a cabo na adoção de tecnologia fornecida pelo Google para facilitar a navegação simultânea de programas de TV, vídeos online e sites com formatação televisiva, no televisor de uma casa.
Quem deseja desfrutar de uma sequência ininterrupta de vídeos do YouTube já agora, antes que o YouTube Leanback seja lançado, pode recorrer ao NowMov, serviço iniciante de San Francisco. Com base em feeds do Twitter para determinar que vídeos do YouTube estão aparecendo com mais frequência nos tweets, o NowMov começa a exibir um vídeo do YouTube assim que um visitante chega ao site. Ao fundo, outros vídeos que foram destaque no Twitter estão sendo baixados. Se o usuário não gostar do vídeo em exibição, basta clicar no botão "next" e outro começa instantaneamente.
"Se parte excessiva do cérebro está preocupada com o processo de escolha, a experiência de assistir não é aproveitada", explica James Black, co-fundador da NowMov.
É divertido experimentar com o serviço da NowMov - por pouco tempo. Mas é difícil imaginar que alguém se acomode por horas assistindo a uma sequência de vídeos curtos que nada têm em comum exceto a popularidade de que desfrutam no Twitter em dado momento.
O NowMov começou a operar apenas este mês, e Black diz que ainda não tem como informar quanto dura a sessão média de uso. Mas se a empresa obtiver sucesso, realizará a ambição de Black de libertar os usuários do que agora define como "a tirania da escolha".
Hoje, assistir ao NowMov não requer coisa alguma do usuário, nem mesmo usar o botão next ¿ uma experiência de profunda passividade. Será que o telespectador dos anos 50, que pelo menos selecionava os canais a que desejava assistir, era movido essencialmente pela preguiça?
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times